O Esperançar de Deus

Primeiro Domingo do Advento. Já estamos no Ano Novo na nossa caminhada cristã. Um novo ciclo se inicia, trazendo-nos o esperançar de Deus. Vida nova! Vida que se faz vida em nossas vidas. Vida de Deus trilhando a história humana. O Advento é a nossa primeira etapa de uma longa caminhada. Advento, termo de origem latina “adventus”, que quer dizer “visita”, “chegada” ou “vinda”. Tudo relacionado ao Verbo de Deus que vêm se encarnar na nossa realidade histórica humana. Tempo de “espera”, expectativa da chegada daquele que há de vir. Tempo de preparar os caminhos do Senhor já muito anunciado. “Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!” (Mc 1,3) Deus que continua, em todos os tempos e lugares através daqueles que seguem a Jesus.

Rezei esta manha em espírito de solidão. Solidão, como vazio de mim mesmo para permitir Deus preencher o meu interior. Na solidão de mim mesmo, me fiz próximo de Deus, encontrando refúgio em seu colo amoroso de Pai/Mãe. Aconchegado nos braços d’Ele, fiz-me presente em mim mesmo, saboreando as doçuras do abandonar em Deus. Neste meu “Nirvana” proposital, experimentei um estado de libertação do meu humano percorrendo o espiritual no Deus de todas as horas. Acabei vislumbrando o filósofo que eu quis ser um dia, refugiando-me na metafísica de Arthur Schopenhauer (1788-1860) que afirmava: “A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais”. Como não sou nenhuma coisa nem outra, tratei de voltar logo à realidade.

Somos convidados a percorrer os caminhos de Jesus de Nazaré. Neste novo ano litúrgico (ano A), trafegaremos pelo Evangelho de Mateus. O primeiro evangelho faz parte dos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Este evangelista, nos apresenta Jesus com o título de “Emanuel”, significando, “Deus está conosco” (Mt 1,23) Somente na caminhada percorrida com Mateus, vamos descobrindo aos poucos o que este título quer dizer. Como Mateus fazia parte do grupo dos primeiros discípulos e, na qualidade de testemunha ocular presencial, ele também confirma para nós que Deus está presente em Jesus, comunicando a palavra e ação que libertam as pessoas e as reúnem como novo povo de Deus.

Como estamos iniciando o período que antecede o Natal, curiosamente, a liturgia deste domingo não nos traz a narrativa do inicio do Evangelho de Mateus. O texto escolhido para hoje (Mt 24,37-44), faz parte do assim chamado “Discurso Escatológico” de Jesus, que em Mateus tem uma explanação mais ampla que os paralelos dos demais evangelhos sinóticos. Sempre é bom lembrar que o discurso escatológico apresenta para nós as realidades últimas e finais da história, fatos estes que antecedem o marco divisor dos tempos, com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Todavia, Mateus vê a comunidade cristã como a semente do novo povo de Deus, povo que é o lugar onde se manifestam a presença, ação e palavra de Jesus.

Mais do que um tempo de preparação e espera, o Advento quer ser para nós um momento especial para organizar a nossa casa, para que o Deus-Menino possa nela fazer morada. Deus está permanentemente presente em nossas vidas e quer se manifestar ao mundo através de nossa participação efetiva no seu projeto. O Senhor é presença viva em nossas vidas e não somente nos períodos específicos de nossa caminhada cristã. Acolher este Deus que está em nós é fazer-nos instrumentos de transformação da realidade humana, através de nossos gestos concretos de comunhão, partilha, solidariedade, justiça. Tudo isso só pode ser realizado pelas coordenadas do amor que brota do nosso coração. Um coração inflado de amor é capaz de trazer Deus presente no outro que conosco convive.

O cristão é um ser vigilante que deve estar sempre preparado para que as intempéries da vida não o surpreenda. A presença viva de Deus na pessoa dos que creem é a marca registrada do selo de Deus atuando em nós. “Portanto, ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. (Mt 23, 42) Neste sentido, somos convidados a olhar para dentro de nós mesmos, a fim de descobrir a presença viva de Jesus, que nos ensina a sermos portadores da Boa Nova, onde quer que estejamos. Como fazemos parte da grande comunidade humana, com Jesus aprendemos a dizer a palavra certa e a realizar a ação oportuna, no tempo e lugar em que estamos vivendo. O esperançar de Deus se faz em nós, momento oportuno de não esperar, mas fazer acontecer no aqui e agora. Como nos dizia nosso bispo Pedro: “Se não houver grandes causas, a vida não tem sentido”.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.