O Espírito prometido

Quarta feira da quarta semana do Advento. Poucos dias nos separam de mais um Natal do Senhor. A alegria esperançosa está no ar! As expectativas são as melhores entre as famílias que acolhem os seus entes queridos, oportunidade para estreitar os laços. O Natal sempre é um destes momentos em que a paz, a concórdia e o entendimento se unem em confraternização dos corações que se aproximam. Tempo especial para rever as atitudes equivocadas ao longo do ano e acolher num abraço o outro, tendo como perspectiva maior a busca do “Bem Viver”. O outro é parte de mim e me completa.

Estamos entrando no solstício de verão. O dia 21 de dezembro marca a chegada de mais uma estação entre nós. Hoje, mais precisamente às 18h48, começa o verão, que vai até o dia 20 de março, quando esta estação entrega o bastão ao outono. A primavera vai ficando para trás. Nesta estação de agora, os dias serão mais longos que as noites; a temperatura oscila para cima, ocasionando o aumento da umidade e as chuvas nos visitam com mais frequência e intensidade. Algumas de nossas regiões sofrem com a intensidade delas, ocasionando assim estragos e desabrigo para algumas famílias.

O clima aqui pelas bandas do Araguaia amanheceu bastante ameno. O frescor da manhã contrastou com o calor do dia anterior. Rezei mais uma vez na companhia dos meus visitantes de sempre. Desta vez com os papagaios fazendo a festa com a degustação dos frutos do buritizeiro. Eles não só se servem destes frutos como também é uma tagarelice o tempo todo. A natureza em festa fazendo valer aquilo que foi dito pelo nosso Papa Francisco: “A nossa Casa Comum pode se comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços”. Assim, de coração aberto, acolhi esta paz inquieta, louvando e bendizendo o Deus da criação como na canção de nosso Zé Vicente.
https://www.youtube.com/watch?v=chTCLJ8OeTU

Paz inquieta como na inquietude da Mãe, que mesmo estando grávida, se desinstala e vai ao encontro de sua prima que necessitava de seus cuidados: “Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia”. (Lc 1, 39) É bom que se diga que Maria vivia em Nazaré. Esta cidade fica mais ao norte de Israel. Já Isabel vivia na região montanhosa de Judá, mais ao centro do país. A distância entre estas duas regiões é de aproximadamente 100 a 150 quilômetros, dependendo do caminho escolhido para se chegar lá. Para cruzar de uma região a outra, são necessárias cerca de 32 horas ininterruptas de caminhada. Não se sabe se Maria fez este trajeto assim sem parar. Sabe-se que ela lá chegou.

Maria é a mulher sempre disposta doar-se e a servir. Servir na alegria e na prontidão de quem se dá como cuidado ao outro. Neste caso, a outra, sua prima Isabel. Ao dizer, “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), ela não estava para brincadeiras. Deu-se toda inteira à Deus no serviço aos que dela necessitavam. Saiu de sua zona de conforto, percorrendo inclusive grandes distâncias, com o único propósito de ajudar sua prima. O indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) decifrou bem este enigma quando nos diz: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Da mesma forma, Maria está sempre disposta a servir e a amparar-nos na nossa caminhada pela vida.

Maria, a mulher para todas as horas. Maria, cheia de graça, trazendo no ventre o Espírito Santo de Deus. Grávida do Menino-Deus e do sonho de Deus para toda a humanidade. O Espírito prometido se faz vida na vida de duas mulheres pobres, mostrando assim a predileção de Deus para com os pequenos. Não se trata de um encontro casual, mas o encontro histórico festivo de duas personagens distintas: uma traz no ventre o profeta anunciador do Messias; a outra gesta no ventre o Salvador. Ainda no seio de sua mãe, João Batista recebe o Espírito prometido (1,15). Com a força deste Espírito, reconhece o Messias e o aponta através da exclamação de sua mãe Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42) Como não devotar à estas grandes mulheres todo o nosso carinho. Como bem dizia Santa Teresa de Jesus: “Grande coisa é o que agrada a Nosso Senhor qualquer serviço que se faça à sua Mãe.”


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.