Oitavo domingo do tempo comum. Com este domingo, fechamos o ciclo deste primeiro momento do tempo comum do Ano Litúrgico C, pois na quarta feira próxima (02), já iniciaremos o período pascal com a quaresma. Uma quarta feira em que o Papa Francisco convida a todos os cristãos conscientes, para um momento de Jejum, oração e penitência pela Paz no Mundo. Nenhuma razão se justifica a guerra. Uma das poucas lideranças mundiais que se ofereceu para mediar o conflito por intermédio do dialogo. Todos perdemos com a guerra! O número de refugiados que já não era pequeno, aumentará consideravelmente.
Neste oitavo domingo, daremos sequência à leitura do Evangelho do domingo passado (Lc 6,39-45), em que se conclui aquilo que os exegetas (aqueles que se ocupam em fazer uma interpretação mais aprofundada do texto bíblico) chamam de o “Discurso da Planície” do Evangelho lucano. Jesus que aproveita do ensejo para fazer uma série de alocuções em formato de advertências, no intuito de fazer o seu discipulado permanecer firme e coerente aos ensinamentos de seu Mestre. Uma fala direta aos seus mais próximos ali no contexto da Palestina, e também a nós que aceitamos fazer adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus de Nazaré.
Vários aspectos na fala de Jesus chamam a nossa atenção, levando-nos a um processo de conversão, mudança profunda (metanoia), para que assim possamos estabelecer uma verdadeira revolução no nosso jeito de ser, pensar, viver e agir, como seguidores de Jesus, tendo como exigência maior a vivência do amor, inclusive para com os nossos inimigos. Cristão é aquele e aquela que procuram viver novas relações numa sociedade também nova, sem nos ocuparmos em tecer julgamentos e condenações do outro, mas sim de uma prática de perdão como dom. Somente Deus pode nos julgar. Este é o imperativo maior de quem se coloca na mesma estrada com Jesus.
“Nenhum fruto cai longe da árvore”, dizem os mais antigos aqui pelo sertão de Mato Grosso. “Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos” (Lc 6, 44), dirá-nos Jesus, por intermédio da narrativa de Lucas. É pelos frutos que se conhece a árvore. É através das nossas ações e relações cotidianas que demonstramos quem nós realmente somos. Assim como as arvores são conhecidas pelos frutos que produzem, também nós somos conhecidos pelos atos que praticamos ao longo da nossa vida. São estes mesmos frutos que permanecerão em forma de legado, mesmo depois de nossa partida. Lembrando que o legado não é exatamente aquilo que deixamos para as outras pessoas, mas aquilo que nelas deixamos. Como você imagina que será lebrado? O que as pessoas trarão em si de você?
Somos o que falamos! O nosso falar determina quem, de fato, nós somos. Nosso falar denuncia quem nós somos. Se para os povos originários, os olhos dizem quem são as pessoas, pois eles são como as janelas que se abrem para o nosso interior, na concepção messiânica de Jesus, é através da boca que manifestamos como está o nosso coração, “pois sua boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6, 45). Faz sentido esta alocução de Jesus, uma vez que para o povo semita, o coração é o centro do poder das decisões. A boca se torna assim porta voz daquilo que vai no nosso interior, no nosso coração. Os defeitos da pessoa aparecem geralmente no seu falar. Já nos dizia o Livro do Eclesiástico: “O homem fiel fala sempre com sabedoria, mas o insensato muda como a lua”. (Eclo 27,11) Com os sábios se aprende o que falar e como se deve fazer, e com os insensatos o que devemos evitar.
Somos ou queremos fazer parte do discipulado de Jesus. Toda a nossa vivência crista está fundamentada nesta assertiva. “Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre” (Lc, 6, 40). Todo nosso esforço deve estar centrado nesta perspectiva de sermos como o Mestre. Viver em comunidade traz este grande desafio, de construir no dia a dia, relaçoes de amorosidade com todas as pessoas que convivem conosco. Nenhuma proposta de hierarquização ou institucionalização da fé pode fugir a este princípio básico, de que todos somos seguidores de Jesus. Neste sentido, a proposta d’Ele é muito objetiva, quando nos desafia a constituir comunidades igualitárias, faternas, solidárias, onde o amor e o perdão se sobreponham sobre qualquer tipo de julgamento. Falar com um coração transbordante de amor como nos ensinou nosso bispo Pedro: “Ser o que se é, falar o que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama até as últimas consequências”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.