O futuro está nas mãos de Deus ou também em nossas mãos?

Reflexão litúrgica: quarta-feira, 22/11/23
33ª Semana do Tempo Comum, Memória de Santa Cecília, virgem e mártir

 

Na Liturgia desta quarta-feira, 33ª Semana do Tempo Comum, veremos na 1a Leitura (2Mc 7,1.20-31), que, no século III a.C., o império grego (rei Antíoco) dominava a Judéia e ali houve a revolta dos Macabeus, pois estes não aceitavam a influência da cultura grega que punha em risco a tradição e a fé. Muitos justos morreram nesta revolta. O texto aqui mencionado foca o valor e a esperança na vida eterna e o compromisso com a verdade, mesmo que isto custe a própria vida. O testemunho de fé da mãe e os sete filhos Macabeus em obediência à Palavra de Deus é o exemplo dos que, fortalecidos na esperança da ressurreição, não aderem à cultura da moda e da morte, eles preferem enfrentar as torturas e a própria morte a transgredir a Lei: “Estamos prontos a morrer, antes de violar as leis de nossos pais… Tu, ó malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis”.

Embora a época tenha sido de grande perseguição, foi também ocasião de educar para o testemunho capaz de enfrentar até o sacrifício da própria vida. O texto deixa claro que os mártires são testemunhas radicais da verdade. A coragem de entregar a própria vida liberta a língua para mostrar o verdadeiro porte do perseguidor, este, na verdade, luta contra o próprio Deus e é, portanto, o maior criminoso do mundo. “Para ti, porém, ó Rei, não haverá ressurreição para a vida”. A fé na ressurreição não é neutra, Deus ressuscita os justos para a vida; quanto aos injustos, não ressuscitarão, seu destino é a morte definitiva.

O Evangelho (Lc 19,11-28), foi escrito nos anos setenta da era cristã, concomitantemente à destruição do Templo de Jerusalém, ambiente de violência e de grandes sofrimentos, muitos cristãos ficaram desanimados, acomodados e com a tentação de desistir da fé. Então, Lucas escreve a parábola do “Homem Nobre” (Deus) e os empregados (cada um de nós). O “Homem Nobre” tem o mesmo tratamento para cada empregado, entrega-lhes ‘moedas’, ‘talentos’, ‘fortunas’, dons naturais, espirituais, humanos, vida, família, pátria, inteligência, amigos, religião, fé, sacramentos etc.

 Depois de muito tempo, o “Homem Nobre” voltou (morte) e foi acertar contas (juízo), uns vão para o céu: “Servo Bom e fiel… Vem participar da minha alegria!” Outros vão para o inferno: “Servo mau, inútil, preguiçoso… jogai-o lá fora, na escuridão”. 

 Como proceder para ganhar o céu? Administrar bem a herança a nós deixada: bens materiais, sentimentos, dons, meios. Enfim, servir com prazer e não como um peso, um fardo. “Eis que venho, e com prazer faço a vossa vontade”. Quando se vive com egoísmo, quando não se ama, nos custa muito servir e fazer a opção pelos que mais necessitam. A parábola, também, nos faz um alerta: “Àquele que tem será dado mais e terá em abundância, mas daquele que não tem até o que tem lhe será tirado”. Isto é, o engajamento, a encarnação vai enriquecendo a pessoa que cada vez mais vai conhecendo o amor de Deus, caso contrário, a pessoa vai se distanciando dos valores cristãos e, cada vez mais, vai se desumanizando.

 Questão fundamental: No final da nossa existência, o que queremos ouvir? “Servo Bom e fiel…Vem participar da minha alegria!” Ou “Servo mau, inútil, preguiçoso… jogai-o lá fora, na escuridão”. A vida é um presente de Deus, mas a forma de viver esta vida volta para Deus como uma aceitação ou recusa desse presente.

 Podemos concluir com o seguinte: O futuro está nas mãos de Deus ou também em nossas mãos? Temos que fazer nossa parte com responsabilidade, da parte de Deus ele fez tudo perfeito.

 Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.