O hábito não faz o monge

Esse Papa Francisco é mesmo diferenciado! Acaba de publicar mais um de seus livros. Neste último dia 3 de dezembro, pela Editora Claretiana, saiu mais uma de suas obras. Desta vez, colocando o dedo na ferida, como gosta de fazer, dedicando um capítulo ao que ele chama de MUNDANISMO e CLERICALISMO. Dois aspectos que o tem preocupado por demais, nestes últimos tempos de seu pontificado. Nesta sua publicação, ele vai direto ao assunto, afirmando que “há bispos e padres que usam batina, mas vivem uma grande hipocrisia.”

O hábito não faz o monge, já nos dizia o dito popular. Não é a roupa que nos diz quem uma determinada pessoa é. Ou seja, as pessoas não são o que são pelas suas vestimentas, pelas roupas que vestem, pelas aparências que demonstram no seu jeito de ser no dia a dia. Neste sentido o filosofo Aristóteles (384 a.C. a 322 a.C), nos ajuda a entender tal situação, quando afirma: a presença de uma pessoa no mundo é constituída pela associação sinérgica de três elementos: aparência, atitude e existência. Talvez Francisco tenha razão quando nos diz que o mundanismo e clericalismo são tentações e também riscos reais para a vida da Igreja.

Por falar em Igreja, assisti estarrecido uma cessão de tortura, protagonizada por uma das lideranças da Canção Nova, numa determinada celebração/pregação. A pessoa, pronunciando uma verdadeira verborragia, se referindo as Religiões de Matriz Africana, desfilando um rosário de horrores e lavando a platéia ao delírio. Através de um discurso rancoroso, odioso, sem nenhum tipo de respeito e tolerância para com as outras expressões religiosas diferentes. Prestando um desserviço a própria igreja, pois estavam levando as pessoas ali presentes, a se comportarem de maneira ríspida e intolerante para com umbandistas, espíritas, indígenas, pessoas agnósticas… Não é atoa que a proposta desta “igreja”, além de alienar o seu público alvo, pouco ou nada entendem, acerca do que vem a ser a palavra OIKOUMENE que é um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas e as concepções religiosas diversas.

O que estão fazendo com a Igreja que nasceu das primeiras comunidades cristãs é algo assustador. Padres e bispos, mais preocupados com as suas vestimentas, os tecidos vultosos, do que propriamente em viver na radicalidade a proposta de Jesus. Dia desses atrás vi um padre iniciando a sua celebração e fazendo um tipo de catequese com os participantes, dizendo o nome de cada peça que vestia em si ali no altar. Tanta roupa desnecessária e sem sentido para os nossos dias de hoje. Como se estivesse em plena Idade Média. Fiquei esperando a sua homilia, para ver se também viria nesta mesma direção. Fez o que a minha avó dizia, “como um cachorro correndo atrás do próprio rabo”. Uma interpretação eminentemente fundamentalista e intimista do texto bíblico.

Os padres novos que o digam. Cada um pior que o outro. Confesso que não sei o que tem estudado nos cursos de teologia por aí afora. Certo é que, dão mais valor a “teologia da vestimenta” do que a Teologia da Libertação. Vivem no mundo da “teologia da aparência”. Mostram aquilo que não são na sua essência, pessoas de luta em meio ao povo sofrido. Quanta saudade e que falta nos faz os “padres da caminhada”, dos padres das CEBs, como o meu amigo, o Padre Ernesto de Freitas Barcelos, que nos deixou recentemente, aos 63 anos de idade. Era um dos padres da caminhada com o povo, e sua vestimenta era uma calça surrada, camiseta com dizeres da luta e um chinelo de dedo batido.

“A Messe é grande, mas os operários são poucos”, (Mt 9, 37), nos alerta Jesus no evangelho da liturgia do dia de hoje. De fato, há muita coisa por fazer na Igreja, mas os operários de plantão estão mais empenhados em se dedicar à “sacramentalização” do que com as causas dos pobres, defendidas por Jesus. Homens da sacristia, dos escritórios, com suas roupas impecáveis. Pastores sem o tradicional “cheiro das ovelhas”, como nos diz Francisco. São exímios funcionários do sagrado que estão pouco se lixando com a vida daqueles que sofrem pela opressão. Não se fazem presentes nas casas dos pobres, para ver como a vida ali transcorre no dia a dia, mas estão rigorosamente no horário, para iniciar as suas celebrações. Tenho dúvida se Jesus estaria presente ali nestas celebrações. Confesso também que tenho dificuldade de rezar a “oração pelas vocações”, talvez por não desejar que surjam mais padres, religiosos/as, como os que temos por aí, desvinculados da proposta de Jesus quanto a instauração do REINO aqui e agora.