O Hospício do Planalto

Certa feita, dois internos conversavam animadamente num dos corredores do hospício, quando um deles subitamente, pôs a mão no peito e erguendo o outro braço disse: – Eu sou Napoleão Bonaparte! Ao que o outro imediatamente lhe indagou: – Você!? – Quem lhe disse isso? – Deus, prontamente respondeu o primeiro. Logo o segundo lhe inquiriu: – EU!? Lanço mão deste simples dialogo para constatar, com tristeza, no que veio a se transformar um governo neste país tão amado chamado Brasil. Se era algo que não despertava a esperança do mais otimista dos mortais, agora degringolou de vez.

Há de tudo neste hospício. Desde aquela personagem típica, que jura com todas as letras, que viu Jesus trepado numa goiabeira, até aquele que, mais parece ter saído de um daqueles filmes de assombração, sem saber à que veio. Todos antenados ao chefe da casa, navegando num navio mar revolto pela pandemia.

Deixando de lado temporariamente o hospício em questão, o governador romano da Judéia, Pôncio Pilatos, numa das cenas mais marcantes do cristianismo, diante do julgamento de Jesus, LAVOU AS SUAS MÃOS, numa tentativa de isentar-se da CULPA por estar condenando à cruz um homem INOCENTE. Na realidade, Jesus havia sido levado à presença de Pilatos já julgado e condenado a revelia da lei judaica pelo Grande Sinédrio. Certamente, este representante de Roma, a exemplo de um personagem pitoresco da história, também tenha dito: E DAI? QUE TENHO A VER COM ISSO?

O grande bispo de Olinda e Recife Dom Hélder Câmara, numa de suas frases que ficou bastante conhecida dizia: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”. Esta frase deste nosso profeta serve para ilustrar o contexto atual em que vivemos. Se vivo fosse, com certeza, dom Hélder seria lixado em praça pública, pois os seguidores aloprados do chefe do hospício, costumam taxar os que lutam por direitos, vida digna, salários e saúde de qualidade, como comunistas, como se não fosse uma prerrogativa das pessoas, lutar por aquilo que acreditam ser merecedoras.

Já que estamos falando de comunismo, me vem a memória o guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara. Este sim, partidário das idéias socialistas, dizia: Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros. Concordando ou não com as ideias deste argentino, penso que devemos desenvolver em nós uma indignação permanente, frente à tantas aberrações que comumente vem acontecendo ao nosso redor. Não dá mais para ficar aceitando tudo de boca fechada e, como Pilatos lavar as nossas mãos dizendo simplesmente: E dai? O que eu tenho a ver com isso?

Não sou partidário das ideias de muitos dos nossos governadores. Todavia, não posso fechar os olhos e deixar de reconhecer que muitos deles estão fazendo um esforço incansável, no sentido de salvar a vida das pessoas. Os governadores do Nordeste que o digam, estão dando de goleada no chefe do hospício que, além de não propor ideias que sejam compatíveis ao enfrentamento da pandemia, destila todo o seu ódio sobre estes bravos governadores, que, com certeza, não estão lavando as suas mãos como os Pilatos da história. E aí, você vai fazer parte do hospício, ou vai ficar do lado daqueles que lutam pra valer os seus direitos. Neste sentido sim, sou um comunista! E daí?