Quarta feira do quarto dia da Oitava do Natal. No dia de hoje a Igreja nós traz a memória viva dos Santos Inocentes. A infância martirizada de todas aquelas crianças que perderam as suas vidas, brutalmente assassinadas por causa da prepotência de um rei despótico, que se viu ameaçado em seu poder por uma simples criança.
Sigo no meu itinerário rumo à minha terra natal. Atravessei Goiás e desta vez, estou na Capital Federal, sendo acolhido pela família de amigos Newton e Maria Helena Fialho. Estar na chácara com eles é tudo de bom. Longe do burburinho político e das negociatas das Casas do Parlamento. Nem parece que este bucólico lugar, faz parte geográfica daquele de lá. Aproveitei para escrever os meus rabiscos dentro da igreja do Santuário do Menino Jesus de Braslândia, refletindo sobre todas as dificuldades enfrentadas pelo “Seu Zé” e a “Dona Maria”.
Tudo isso aconteceu porque o Rei Herodes se sentiu traído pelos Magos do Oriente, que depois da visita ao verdadeiro Rei, voltaram por outro caminho, orientados em sonho pelo Senhor. As coisas de Deus passam por outros caminhos, bem diferentes daqueles que traçamos e por eles insistimos em querer trafegar. Na resistência e teimosia de Deus, Jesus segue firme dentro da nossa história humana.
“Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo.” (Mt 2,16) Crueldade tem nome e sobrenome: Rei Herodes. Quantas crianças morreram inocentemente? Um rei maldoso no seu senso de justiça, se sentindo no direito de tirar a vida de tantos seres indefesos. Tudo para tirar a vida do Rei Messias que, ainda criança, era uma ameaça, como se aquela criança desejasse o seu manchado trono.
O menino Jesus sem sossego desde os primeiros passos de sua vida. Nascido pobre entre os pobres e sem nenhuma pompa ou regalia, tem que fugir as pressas para longe, para não ser vítima da tirania dos “grandes e poderosos”. Mas o Todo Poderoso estava consigo e não permitiu que o sonho de Deus fosse abortado. O sonho de Deus nos faz sonhar o impossível. Sonhar mais um sonho impossível, com o Reino de Deus transpassando a história.
A liturgia do dia de hoje nos faz acreditar no impossível de Deus. No sonho de Deus a justiça, a verdade e o amor andam de mãos dadas e são irmãs gêmeas. Estão interligadas, mapeando o passo a passo de nosso caminho. No sonho de Deus não há espaço para um coração rancoroso e mal amado. Ainda hoje há muitos “Herodes” com os mesmos propósitos. Muitos inocentes ainda seguem sendo mortos pela ganância, prepotência daqueles que arquitetam a sua morte. A indignação ainda não se fez atitude na vida de muitos daqueles e daquelas que se dizem cristãos e convivem com esta situação naturalizando-a. O martírio está no DNA do cristianismo, não a injustiça, o ódio e a falta de amor. Que os Santos Inocentes intercedam pelas nossas incoerências.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.