O profeta Isaías, cujo nome significa “Javé ajuda” ou “Javé é auxílio”, que viveu e exerceu o seu ministério no reino de Judá, entre os anos de 765 AC e 681 a.C., tem uma das passagens mais significativas, fazendo referencia ao Messias. Assim diz ele: “O Espírito do Senhor Javé está sobre mim, porque Javé me ungiu. Ele me enviou para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros. (Is 61, 1) Se bem podemos observar, neste texto, evidentemente que o profeta não está falando de si mesmo, em causa própria, mas antes, do MESSIAS, aquele que haveria de vir, segundo os desígnios de Deus.
O que vem a ser esse tal Messias? Se formos observar, tanto a palavra hebraica Mashíahh (Messias) quanto a palavra grega equivalente Khristós (Cristo) significam “Ungido”. Desta forma, “Jesus, o Cristo” significa “Jesus, o Ungido”, ou “Jesus, o Messias”. O mesmo que no Prólogo do Evangelho de João nos diz “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 1-2)
É Assim que Deus resolveu fazer morada no meio de nós. Assumiu a nossa condição humana, fazendo o seu filho SER um de NÓS, UM CONOSCO, em meio à realidade humana. Esse é o Deus, que não fica distante dos seus, como está resumido sinteticamente numa das orações eucarísticas: «Verdadeiro homem, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado, anunciou aos pobres a salvação, aos oprimidos, a liberdade, aos tristes, a alegria» (Oração Eucarística n. 4). Este é o Messias que temos e queremos.
No seu livro Jesus Cristo Libertador, Leonardo Boff define a figura desse Messias como Jesus libertador, inserido no contexto histórico da PERIFERIA. Segundo esta perspectiva, se dá a importância do lugar social bastante definido, concreto. Jesus é o LIBERTADOR do povo oprimido, em virtude de uma exigência social concreta de fé a favor da vida e dignidade em meio a uma situação de opressão e de morte dos filhos de Deus. Este livro, de pouco mais de quarenta anos de idade, quase custou a cabeça do teólogo franciscano, que foi sistematicamente perseguido, inclusive dentro da própria igreja que lhe impôs o SILENCIO OBSEQUIOSO. Mas é um livro instigante que nos dá uma boa base para entender a cristologia proposta pela Teologia da Liberação.
Perguntado por uma repórter sobre as centenas de milhares de mortes, ocorridas no Brasil nos últimos dias, vítimas do covid-19, o presidente da Republica Federativa do Brasil simplesmente respondeu dizendo que, apesar de Messias, não fazia milagres. Bela resposta para quem está no mais alto grau de poder. Nós já sabemos disso, nem precisávamos da sua resposta mal educada para ter este entendimento. E nenhum de nós também queremos que ele seja um messias e que possa fazer milagres. Contentaríamo-nos tão somente que ele fosse o presidente sério desta grande nação chamada Brasil, de oito milhões e meio de quilômetros quadrados, cuja população estimada gira em torno de 210 milhões de pessoas. Mas, convenhamos, seria pedir demais para quem passou 30 anos da sua vida sendo um réles político, que sequer apresentou um único projeto.
A morte é algo triste. Ela faz parte da nossa vida. É a coisa mais certa. Mas procuramos adiar o quanto possível o dia do encontro com ela. Morrer em tempo de Pandemia é mais cruel ainda, pois estaremos afastados daqueles que mais amamos. Já que o presidente não consegue ser o grande ESTADISTA que gostaríamos que fosse, ao menos que fosse respeitoso dos sentimentos alheios, daqueles que estão perdendo os seus nesta hora de agonia. Talvez por isso que o Messias verdadeiro, tenha dito esta frase tão forte: “Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu”. (Mt 21, 31) (Chico Machado)
[10:28, 30/04/2020] Chico – São Felix do Araguaia: O HOSPÍCIO DO PLANALTO
Certa feita, dois internos conversavam animadamente num dos corredores do hospício, quando um deles subitamente, pôs a mão no peito e erguendo o outro braço disse: – Eu sou Napoleão Bonaparte! Ao que o outro imediatamente lhe indagou: – Você!? – Quem lhe disse isso? – Deus, prontamente respondeu o primeiro. Logo o segundo lhe inquiriu: – EU!? Lanço mão deste simples dialogo para constatar, com tristeza, no que veio a se transformar um governo neste país tão amado chamado Brasil. Se era algo que não despertava a esperança do mais otimista dos mortais, agora degringolou de vez.
Há de tudo neste hospício. Desde aquela personagem típica, que jura com todas as letras, que viu Jesus trepado numa goiabeira, até aquele que, mais parece ter saído de um daqueles filmes de assombração, sem saber à que veio. Todos antenados ao chefe da casa, navegando num navio mar revolto pela pandemia.
Deixando de lado temporariamente o hospício em questão, o governador romano da Judéia, Pôncio Pilatos, numa das cenas mais marcantes do cristianismo, diante do julgamento de Jesus, LAVOU AS SUAS MÃOS, numa tentativa de isentar-se da CULPA por estar condenando à cruz um homem INOCENTE. Na realidade, Jesus havia sido levado à presença de Pilatos já julgado e condenado a revelia da lei judaica pelo Grande Sinédrio. Certamente, este representante de Roma, a exemplo de um personagem pitoresco da história, também tenha dito: E DAI? QUE TENHO A VER COM ISSO?
O grande bispo de Olinda e Recife Dom Hélder Câmara, numa de suas frases que ficou bastante conhecida dizia: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”. Esta frase deste nosso profeta serve para ilustrar o contexto atual em que vivemos. Se vivo fosse, com certeza, dom Hélder seria lixado em praça pública, pois os seguidores aloprados do chefe do hospício, costumam taxar os que lutam por direitos, vida digna, salários e saúde de qualidade, como comunistas, como se não fosse uma prerrogativa das pessoas, lutar por aquilo que acreditam ser merecedoras.
Já que estamos falando de comunismo, me vem a memória o guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara. Este sim, partidário das idéias socialistas, dizia: Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros. Concordando ou não com as ideias deste argentino, penso que devemos desenvolver em nós uma indignação permanente, frente à tantas aberrações que comumente vem acontecendo ao nosso redor. Não dá mais para ficar aceitando tudo de boca fechada e, como Pilatos lavar as nossas mãos dizendo simplesmente: E dai? O que eu tenho a ver com isso?
Não sou partidário das ideias de muitos dos nossos governadores. Todavia, não posso fechar os olhos e deixar de reconhecer que muitos deles estão fazendo um esforço incansável, no sentido de salvar a vida das pessoas. Os governadores do Nordeste que o digam, estão dando de goleada no chefe do hospício que, além de não propor ideias que sejam compatíveis ao enfrentamento da pandemia, destila todo o seu ódio sobre estes bravos governadores, que, com certeza, não estão lavando as suas mãos como os Pilatos da história. E aí, você vai fazer parte do hospício, ou vai ficar do lado daqueles que lutam pra valer os seus direitos. Neste sentido sim, sou um comunista! E daí?