O Pão da igualdade

Segunda feira da Terceira Semana da Páscoa. Tempo de recomeçar a nossa caminhada rumo às nossas realizações humanas. Entramos na última semana do mês de abril. Ainda celebrando a Páscoa de Jesus. O tempo pascal é este período que vai desde o Domingo da Ressurreição até o Domingo de Pentecostes, que este ano cai no dia 28 de maio. Ao todo são sete domingos após o Domingo da Páscoa. Um período especial dentro do ano litúrgico, pois celebramos com grande atenção e ênfase, fazendo o percurso com o Ressuscitado que se faz presente no meio de nós.

O capitulo seis de São João é especial. Nele, Jesus se apresenta como o Pão vivo: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida”. (Jo 6,51) Comer deste pão é fazer adesão ao projeto de Deus revelado no Filho. Alimentar deste Jesus é nos preparar para vida definitiva. Se esta nossa vida é passageira, no passo a passo da história, a vida definitiva começa quando as pessoas, comprometendo-se com Jesus, aceitam a própria condição humana e vivem em favor dos outros, servindo-os, trabalhando pelo Reino.

Antes de adentrar especificamente no Evangelho do dia, convém lembrar que esta é uma segunda feira especial por outro motivo. Celebramos hoje o Dia Internacional da Juventude Trabalhadora. Oportunidade para repensar o mundo do trabalho em vista da relação entre a classe trabalhadora e as juventudes. Este dia foi pensado pela Juventude Operária Cristã Internacional (JOCI) na década de 1970, como forma de fortalecer a luta das juventudes por seus direitos fundamentais básicos dentro do mundo do trabalho. Mais postos de trabalho para as juventudes. E não é porque se é jovem que vamos permitir que vivam sem direitos.

As juventudes formam um contingente populacional fabuloso em todo o mundo: 1,8 bilhão têm entre 10 e 24 anos de idade, sendo que 600 milhões são mulheres. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, os jovens entre 15 e 29 anos correspondem a 23% da população brasileira, somando mais de 47 milhões de pessoas. Ou seja, um quarto da população brasileira é composta pelas juventudes, constituindo a maior geração de jovens de toda a história brasileira. Todavia, apesar de todo o potencial apresentado pelos nossos jovens, eles enfrentam um contexto excludente, violento e desafiador, já que a nossa sociedade é a mais desigual em todo o mundo.

“O segredo de ser jovem é ter uma causa a que dedicar à vida”, diria o arcebispo emérito de Olinda e Recife Dom Hélder Câmara (1909-1999). A juventude mora dentro de nós como uma criança, na medida em que não perdemos o espírito jovial dela. Nas causas da vida que vamos abraçando, temos a oportunidade de não deixar morrer a nossa juventude. Na luta pelas causas da vida, o corpo pode ate estar cansado, mas o espírito jovial precisa estar vivo dentro dele. Acertadamente o professor Mário Sérgio Cortela nos alerta: A tragédia não é quando um homem morre. A tragédia é o que morre dentro de um homem quando ele está vivo.

Nossa juventude a parte, voltemos ao texto da liturgia do dia de hoje (Jo 6,22-29). Seguimos na leitura do capitulo seis do evangelista São João. No texto de hoje Jesus segue em popularidade, repercutindo em si a fama por ter saciado a multidão de famintos, ao partilhar o pão da igualdade. Mais uma vez a multidão vai até o Galileu a procura de alimento para saciar a sua fome. Jesus reconhece a intenção deles quando diz: “estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. (Jo 6,26) Um povo que ainda não conseguiu ver em Jesus o Messias enviado por Deus: Jesus o Pão da igualdade.

A multidão procura Jesus, desejando continuar na situação de abundância. Uma situação bastante cômoda de quem quer ter o alimento sem esforço algum. A acomodação não faz parte do compromisso daquele que aceita caminhar com Jesus. É preciso trabalhar e lutar pelo pão de cada dia, como São Paulo vai dizer aos participantes da comunidade: “quem não quer trabalhar, também não coma”. (2Tess 3,10) No ensinamento de Jesus Ele vai mostrar que quem está acomodado e busca o alimento sem esforço não é a solução. É preciso buscar a vida plena, e isso exige o empenho das pessoas. Desta forma, além do alimento que sustenta a vida material, é necessária a adesão pessoal a Jesus para que essa vida se torne definitiva. Como a antífona da celebração de hoje nos motiva: “O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra da boca de Deus”. (Mt 4,4)


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.