Na Liturgia desta quarta-feira da III Semana do Tempo Pascal, vemos, na 1a Leitura (At 8,1b-8), que a evangelização se propaga a partir de Jerusalém, nos mesmos moldes previstos pelo evangelho: anúncio do caminho de Jesus e ações que desalienam as pessoas, possibilitando que se tornem responsáveis pela própria caminhada.
Com a morte de Estevão abre-se para a Igreja um período de sofrimento e perseguição. Este fato humanamente triste revela-se ‘providencial’ em uma leitura de fé. Sem perseguição, não se sabe por quanto tempo permaneceria a Igreja em Jerusalém. Paradoxalmente, é o Espírito que a dirige por meio da perseguição, impele-a para uma região de gente desprezada e rejeitada e ali é realizado o anúncio da Palavra que leva a libertação e alegria a todos que se sentiam sem esperança de uma vida melhor.
Este texto nos mostra que Deus está presente na Igreja, pelo Espírito Santo, mesmo depois da volta de Jesus ao Pai e que nós, muitas vezes, somos pessoas de pouca fé, não sabemos ler nos fatos os sinais dolorosos do Espírito. Para a Igreja, os dias de sofrimentos, crises e contestações são dias propícios de uma graça desconhecida, graça nova e gloriosa em seu caminho para o Pai.
No Evangelho (Jo 6,35-40), vemos que o pão oferecido por Jesus deve conduzir ao reconhecimento do pão que é Ele próprio. Suas palavras precisam ser ouvidas, pois comunicam a vida que vem do Pai. A multidão resiste porque Jesus assumiu plenamente a condição humana não admitem que um homem possa ter origem divina e, portanto, possa dar a vida definitiva.
Nossas comunidades cristãs têm presente e consciente essa unidade crística (Jesus é o mesmo da Eucaristia, da Palavra e que vive em cada pessoa) quando expressam, por meio de um cântico bastante conhecido que diz: “O Pão da Vida, a Comunhão, nos une a Cristo e aos irmãos, e nos ensina abrir as mãos, para partir, repartir o pão”. Pela Eucaristia, o cristão é chamado a dar testemunho de vida e viver uma verdadeira conversão: “Se não conhecemos a Deus em Cristo e com Cristo, toda a realidade se torna um enigma indecifrável; não há caminho e, não havendo caminho, não há vida nem verdade” (Documento de Aparecida, 22 apud DI, 3).
Não haverá humanidade nova se não houver, em primeiro lugar, pessoas novas que firmam suas vidas na potência divina. “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”, já afirmava o Papa Paulo VI (Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo, 41).
Sendo a Eucaristia acontecimento salvífico e projeto de fraternidade, isso já seria motivação suficiente para dela participarmos.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.