Quarto Domingo da Páscoa. O mês de abril se despedindo de nós, porém o clima pascal segue predominando na nossa caminhada litúrgica. Celebrar o Senhor Ressuscitado nos faz aproximar de sua experiência do calvário, mas tendo a certeza de que a vida prevalece sempre. Deus é amor! Deus é vida! Somos os filhos e filhas do Deus da vida plena. O Deus que ama gratuitamente, incondicionalmente e quer que sejamos também assim na nossa caminhada pela vida. Como diria um de nossos maiores físicos de todos os tempos, Albert Einstein (1879-1955): “um simples ato de amor é maior que o Universo Físico inteiro”.
Amor que nos faz dedicar às causas indígenas, na sua luta incansável por se fazerem respeitar por uma sociedade da desigualdade e anti-indígena. Neste mês de abril, tivemos mais uma edição do Acampamento Terra Livre (ATL), ocorrido em Brasília entre os dias 24 a 28 deste mês. A temática deste ano foi “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação, não há democracia”. Ao todo, são mais de 200 territórios dos 13,8% deles, que ainda não foram demarcados. Ao contrário, nestes últimos quatro anos, houve um retrocesso, principalmente no que diz respeito aos povos indígenas e seus territórios, ocasionando assim a morte de crianças, idosos e lideranças indígenas em todo o país.
Demarcação já! Gritam os Povos Originários. Não nos esqueçamos de que eles aqui habitavam bem antes da chegada do colonizador, saqueando as nossas riquezas e levando a morte aos Povos Originários e também aos negros escravizados por homens brancos cruéis e assassinos, inclusive com a cumplicidade de uma parte da Igreja à época, já que ela embarcou também na “canoa furada” do colonizador, sendo conivente com o massacre de indígenas e negros, nos porões das senzalas. “Mais longa que a escravidão do Egito, mais dura do que o cativeiro da Babilônia foi a escravidão do negro no Brasil”, assim reza a “Missa dos Quilombos”.
Quem ama não escraviza. Quem ama não impede que os povos indígenas vivam felizes em seus territórios do jeito deles. Quem ama faz cumprir aquilo que está escrito em letras garrafais na nossa Constituição Federal de 1988 nos seus artigos 231 e 232 a respeito dos povos indígenas. Quem os conhece mais de perto, sabem do que estou falando. Ainda bem que as lideranças indígenas que estão nos principais postos de representatividade na defesa destes povos, provocou o atual governo a assumir o compromisso de demarcação das terras indígenas. Vamos cobrar o seu cumprimento.
Para os que têm fé consistente, Domingo é o Dia do Senhor! Um domingo especial, pois além de ser o do Ressuscitado, é também do Bom Pastor. Jesus que define a si como “o Bom Pastor”. Jesus com as suas afirmações acerca do “Eu Sou!”, tão característico do Evangelho Joanino. Estamos refletindo o início da capitulo 10 de São João. Neste início, ele apresenta Jesus como “o bom pastor”. Este capítulo é praticamente a espinha dorsal do evangelho: A parábola das ovelhas (1 a 6); A explicação da parábola (7 a 9); O papel do ladrão e do bom pastor (10 a 15); Jesus fala sobre o que havia de vir (16 a 18); Os judeus ficam confusos com as palavras de Jesus (19 a 24); Jesus afirma ser um com o Pai (25 a 30); Os judeus tentam apedrejar Jesus (31 a 42).
O cristianismo apropriou de uma linguagem típica do Antigo Testamento para referir-se aos seguidores de Jesus como ovelhas, tendo-o como “o pastor” que vai à frente. Uma linguagem apropriada para aquele momento histórico, mas que perdeu a sua significância para os nossos dias, uma vez que é um linguajar tipicamente rural, o que não deixa de ter sentido, mas com outra perspectiva hermenêutica. Ou seja, Jesus segue à frente como referência maior dos que creem e o querem segui-lo. Ele é o “Servo Sofredor” (Isaías), convidando a todos os seus seguidores a serem como Ele, servidores de todos. A fidelidade se faz nas causas assumidas por Jesus, sendo com e como Ele: pastores revestidos com a pedagogia do cuidado.
Jesus é o pastor/servo que vai à frente, conduzindo-nos à libertação integral de todas as formas de opressão. Mais do que ovelhas dóceis e domesticadas, somos convidados a lutar contra toda a opressão dos pequenos e marginalizados. Entendendo assim, o único meio de libertar-nos dos opressores ou de uma instituição opressora é comprometer-nos com Jesus, pois Ele é a única alternativa (a porta). Jesus é o modelo de pastor: Ele não busca seus próprios interesses; ao contrário, dá a sua própria vida a todos aqueles que aceitam sua proposta. Pena que alguns dos nossos “pastores” não entendem assim e, ao serem cercados de bajuladores, buscam sua autopromoção, seus interesses pessoais, marcados por um carreirismo eclesiástico, destoando do verdadeiro pastor que é Jesus. Precisamos de pastores como Jesus, a exemplo de Dom Hélder, Dom Paulo, Pedro, Dom José Maria Pires… “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. (Jo 10,10)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.