O perdão que liberta

Assistindo aos telejornais ontem a noite, me deparei com uma cena que me chamou particular atenção e fiquei muito comovido. Certamente esta cena, vai ganhar o mundo. Na referida cena, policiais brancos americanos se ajoelham e juntos com os manifestantes, também AJOELHADOS, rezam. Ao término desta oração, um dos policiais se levante e dá um ABRAÇO CALOROSO e demorado, numa das lideranças negras da manifestação. Isto depois de os nervos estarem bastante exaltados de lado a lado.

Movido por tamanho gesto de humanidade, quero hoje falar de assunto muito difícil e complicado: o EXERCÍCIO DO PERDÃO. Temos muita dificuldade de praticar o perdão. Nem sempre, perdoamos como se devia. Muitos de nós, apesar de dizer frequentemente, que perdoa, não é isso que acontece na prática. Ficamos com certo RANCOR dentro de nós, e ficamos remoendo no nosso interior, a situação que não deveria estar ali, naquele espaço da nossa consciência.

Perdoar não é fácil mesmo! É um exercício que vamos aprendendo a dominar. Exige de cada um nós, um esforço muito grande, que a pessoa precisa estar ciente de que há uma caminhada a ser feita. Apesar do perdão estar ligado a alguém fora de nós, também há aquela situação da pessoa, que não consegue perdoar a si próprio. Se não sou capaz de perdoar a mim mesmo, como serei capaz de perdoar o outro que errou? Trata-se, portanto, de algo que eu preciso ir amadurecendo dentro de mim. Conheço pessoas que nunca conseguiram se livrar de algum dos erros do passado, e convivem com esta situação, sem conseguir dar a si o perdão. E isso as machuca profundamente.

Uma coisa que precisa ficar clara para nós, é que precisamos distinguir a PESSOA QUE ERRA do erro que ela COMETEU. Em outras palavras, é preciso separar a PESSOA do possível PECADO que a mesma tenha cometido. Neste sentido, devemos condenar o pecado e não a pessoa que pecou. Também um exercício muito difícil de ser praticado por nós. Geralmente colocamos os dois na mesma bacia e jogamos fora. Aqui, me lembro de uma situação que vivi. Estávamos fazendo uma formação e num dado momento, tive uma discussão bastante acalorada com o meu amigo professor Zecão. Num dos intervalos desta formação, uma pessoa me procurou e perguntou se não éramos amigos, dada o calor da nossa discussão. Foi quando eu disse para esta pessoa que, em momento algum eu havia ofendido ao meu amigo, e nem ele a mim. O que estávamos discutindo eram ideias, pontos de vistas diferentes.

Saber perdoar é um GESTO CRISTÃO, e pode ser também extremamente REVOLUCIONÁRIO. Dentre todos os ensinamentos de Jesus, aqueles relacionados ao perdão estão entre os de mais revolucionário impacto na história do pensamento humano. E Ele não só falava do perdão como ainda o demonstrava, inclusive para com aqueles que o haviam crucificado “Perdoai-os, Pai, porque eles não sabem o que fazem”. Também aos seguidores seus, que tinham dificuldade de perdoar, ele vai dizer a Pedro, como podemos ver neste relato de Mateus: “Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. (Mt 18, 21-22)

Portanto, perdoar é um GESTO NOBRE DE AMOR de quem está em paz consigo mesmo. Perdoar sempre, mesmo que me pareça difícil. Ainda que sempre estamos rezando numa de nossas principais orações: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” Repetimos exaustivamente esse mantra. Todavia, estamos ainda muito distantes da oração que rege a nossa vida cristã.

Finalmente, não é porque eu sou capaz de perdoar que vou relaxado e fazer vistas grossas com aquele que erra. Não! Definitivamente, não! O pecado, o erro, precisa ser condenado. Desta forma, preciso ser uma pessoa atuante na sociedade, para que as pessoas, não continuem nos seus erros. Perdoar não significa se calar diante de situações de pecado que estamos convivendo cotidianamente. Há uma série de pecados cometidos por nós, na sociedade, que não posso ficar indiferente frente a eles Não se calar diante do ódio. Não se calar diante da INTOLERÂNCIA. Não se calar diante do RACISMO, Não se calar diante do FASCISMO, não se calar diante da HOMOFOBIA, do MACHISMO, da XENOFOBIA. Sim, porque o nosso SILÊNCIO fortalece o mal e aos porta vozes dele.