Sexta feira da Oitava Semana do Tempo Comum. O mês de junho vai despontando em nossa história, permitido a nossa caminhada rumo às realizações que buscamos. Mais um dia descortina no nosso existir. O sol ao nascer abre mais um leque de perspectiva em nossa vida. O dia de ontem já se foi. O de hoje está aí para ser vivido na intensidade com que Deus nos projetou para este mundo. Acreditar que vamos chegar lá é o primeiro passo para as nossas buscas. Acreditar em nós mesmos, mas também no outro que caminha lado a lado conosco. A fé remove montanhas (Mc 11,23)
O escritor e poeta peruano Luis Felipe Angell de Lama, mais conhecido pelo pseudônimo de Sofocleto (1926-2004) dizia: “Ter fé é muito simples. Difícil é acreditar nela”. Todos temos algum tipo de fé. Uns mais, outros menos. Sempre acreditamos em algo que é fruto da nossa compreensão e entendimento acerca deste acreditar. A fé cristã é uma das possibilidades que trazemos em nós. Para os que a tem, Jesus é o centro desta fé cristã e por isso mesmo referencial mais perfeito para todos aqueles e aquelas que fazem a sua adesão à sua mensagem. Porém esta fé precisa ser compreendida, entendida como elemento fundante da caminhada. Uma fé compreendida torna uma luz para iluminar a realidade.
Santo Tomás de Aquino dizia que a fé é uma “virtude teologal” e, por este motivo, o seu objeto se identifica com o seu fim. Ou seja, a fé não é algo para ser vivido apenas na intimidade do ser da pessoa, mas para ser direcionada para o contexto da realidade que se vive. Na relação que se estabelece na intimidade com Deus pela fé que se tem, automaticamente somos direcionados de volta para o contexto do relacionamento que devemos estreitar com os demais irmãos e irmãs que vão juntos nesta mesma caminhada.
A fé tem um poder revolucionário de mudar as pessoas a partir de dentro delas mesmas. Aqueles e aquelas que vivem uma experiência mais profunda de fé sabem que ela pode muito mais do que aquilo que podemos imaginar e compreender na sua verdadeira essência. Ter fé é confiar. Ter fé é acreditar. Ter fé é se entregar e deixar-nos jogar dentro do sonho de Deus e permitir que as transformações aconteçam. Nosso bispo Pedro trazia em si uma fé diferenciada. Dizia ele, “tenho fé de Guerrilheiro e amor de revolução”. Uma fé resolvida que o fazia enfrentar os maiores desafios e obstáculos, mas com a paz inquieta que o fazia agir, como ele expressa neste verso de um de seus poemas: “E chamo a Ordem de mal/E o Progresso de mentira/Tenho menos paz que ira/Tenho mais amor que paz”.
Paz inquieta que vem de Jesus, como vemos no texto que o evangelista Marcos hoje nos traz. Os versículos de hoje trazem um dos primeiros embates de Jesus, confrontando-se com o centro da sociedade judaica, simbolizada pela cidade de Jerusalém e pelo Templo que ali se localizava como a sede do poder econômico, político, ideológico e religioso. Jesus, o Rei-Messias que entra na cidade, não como rei guerreiro, mas como simples homem do povo, humilde e pacífico. Todavia não como alguém passivo e indiferente, mas apresenta no projeto de Deus a inversão de um sistema de sociedade apoiado na violência da força militar, que defende os privilegiados e sufoca os pobres e marginalizados.
O Evangelho noz diz que Jesus estava sendo seguido por uma enorme multidão: “Tendo sido aclamado pela multidão, Jesus entrou, no Templo, em Jerusalém, e observou tudo. Mas, como já era tarde, saiu para Betânia com os doze”. (Mc 11,11) O grande embate de Jesus se dá no interior do Templo, quando este percebe a grande contradição e se contrapõe, uma vez que este não era mais casa de oração, como está descrito no profeta Isaías: “a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos”. (Is 56,7) O espaço do Templo havia se transformado num espaço comercial, explorando ainda mais a fé simples dos pobres.
Jesus é jurado e sentenciado de morte, pois as autoridades ficaram enfurecidas com as suas acusações, atacando o comércio existente dentro do Templo. Ao assim proceder, Jesus retira as bases de sustentação sobre as quais se apoiava toda aquela sociedade. Era com esse comércio que se sustentava grande parte da economia do país. Desta forma, Jesus mexe não só com um modo de vida religiosa, mas com toda uma estrutura que usa a religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe privilegiada e sustentar uma visão mesquinha de salvação. Por isso, os que se favorecem desse sistema, pensam em matar Jesus, mas temem a multidão que estava maravilhada com os ensinamentos d’Ele.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.