O profetismo de Maria

Caminhamos firmes para o Natal. Poucos dias nos separam da chegada do Menino Deus, que mais uma vez quer nascer no meio de nós. Jesus se encarna na realidade humana pelo poder de Deus, se formando no ventre de Maria. Assim como todo o povo o povo de Israel esperava pela vinda do salvador, também nós esperamos pela chegada de novos tempos, que a vida não seja tão ameaçada como nestes dias. Prepararemos o nosso espírito e coração para acolher o Senhor que vem! Ele que é o Deus da vida, nos traga vida plena!

Natal é alegria! Natal é festa! Natal é reencontro! Rezei hoje neste clima de profunda alegria. Não somente pelo Natal que se avizinha, mas também por saber que, através de uma mulher, Deus entra na história humana, inaugurando um novo tempo. Já não temos um Deus nas alturas e distante da vida de seu povo. ELE se faz concretamente em meio aos seus. A narrativa de Lucas hoje (Lc 1,46-56), não deixa dúvidas e nos enche de alegria, por saber que uma mulher simples, da periferia de Nazaré, se faz a profetisa maior do Projeto de Deus. “Da cepa brotou a rama. Da rama brotou a flor. Da flor nasceu Maria. De Maria o Salvador”.

“Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. (Lc 1, 51- 53) Uma das mais belas e proféticas páginas do Novo Testamento. Pela boca desta grande mulher, ouvimos o cântico dos pobres, lascados que reconhecem na história, a vinda de Deus para libertá-los, através de Jesus de Nazaré. É Deus mesmo cumprindo a sua promessa. ELE assume o lado dos pobres, e está pronto a realizar uma grande transformação histórica, invertendo a ordem social reinante: os ricos e poderosos são depostos e despojados, e os pobres e oprimidos são libertos e assumem o protagonismo dessa nova história.

Maria é esta mulher que, através de sua entrega decisiva, inicia esta nova realidade. Justamente a mulher pobre, que nada valia na sociedade da qual fazia parte. Ela se faz protagonista e faz de si, o lugar de fala de todas as mulheres. Sobre ela, Dom Hélder Câmara assim fala na Missa dos Quilombos: “Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavra, não fique em aplauso. Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo de hoje sem ligar ao que disserem. Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão. É Evangelho de Cristo, Mariama.” Lindo demais!

Celebremos o Natal de Maria, a mulher profética! Celebremos o Natal de uma Igreja que não se acomoda e nem se faz presente junto aqueles que oprimem o povo. Uma Igreja que se deixa levar pelo profetismo de Maria, como o Bispo Diocesano de Patos/MG, Dom Eraldo Bispo da Silva, que se reusou a celebrar missas para a posse de prefeitos de nenhuma das cidades da Diocese, pois segundo ele, estes prefeitos eleitos, pecaram, mentiram, xingaram, compraram votos e foram corruptos. Por isso deveriam pedir perdão. Quantos bispos por aí, teriam esta mesma atitude profética deste enfrentamento? Ao contrário, são bajuladores desta corja dos dias atuais.

Mas o dia de hoje não é só de alegria, sobretudo para nós aqui da Amazônia. No dia de hoje, há exatos 32 anos, estava sendo assassinado, o nosso seringueiro, sindicalista, ativista político e ambientalista brasileiro, Francisco Alves Mendes Filho (1944-1988). Chico Mendes foi assassinado na porta de sua casa, em Xapuri, Acre, aos 44 anos de idade. Tudo por causa da sua luta incansável em favor dos seringueiros da Bacia Amazônica, cuja subsistência dependia da preservação da floresta em pé e das seringueiras nativas. Chico era o nosso representante máximo na luta pela preservação da floresta. Morreu de pé, como nos dizia Pedro, “Se me matarem matarão de pé como árvore”.

Apesar desta tristeza por lembrar o fatídico dia em que Chico nos deixou trago em mim o espírito em festa. Também no dia de hoje, tomei contato com o livro do Curso de Verão de 2021, em que aparece ali, uma singela contribuição deste que aqui ensaia os seus simples rabiscos. No livro do curso deste próximo ano, falarei um pouco da minha experiência de convivência ao lado de Pedro e desta Igreja da Prelazia de São Félix do Araguaia. A alegria é grande pelo sonho realizado, graças ao incentivo contumaz de minha amiga/mecena de longa data Lurdinha Paschoaletto. Alegrem-se comigo!

Curso do Ceseep