Segunda feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. Agosto entregou o bastão à setembro com chuvas providenciais. A fumaça deu uma trégua e o clima ficou mais ameno. Se bem que o astro rei hoje voltou com tudo, arregalado como quê. Clima que facilitou a algazarra dos enormes macacos bugios, numa manhã nupcial em meu quintal, fazendo aumentar assim a sua prole. Foi neste clima caloroso de acasalamento, que me encontrei, face a face com Deus, dialogando em forma de oração. Trouxe presente comigo todos aqueles e aquelas que solicitaram as minhas humildes preces, pedindo à Deus que cuide de cada uma destas pessoas.
“Toda bíblia é comunicação. De um Deus amor, de um Deus irmão. É feliz quem crê na revelação. Quem tem Deus no coração”. Foi assim que o Padre Zezinho nos presenteou com esta bela canção, que cantamos neste mês de setembro em nossas comunidades. A Bíblia é a Palavra de Deus. A porta de entrada dela é o Livro do Gênesis, falando da história da Criação e foi escrito por volta de 1445 a.C. A porta de saída dela é o Livro do Apocalipse, que foi também escrito por volta de 90-96 d.C. O texto original dela foi escrito nestas três lingas, hebraico, aramaico e grego. Graças a São Jerônimo, temos a tradução dela para o latim e posteriormente para todas as demais línguas (vernáculas). Poucos de nós sabemos, mas a Bíblia já esteve incluída no Índice de livros proibidos, durante o papado de Pio IV, no ano 1559. Era a época do “Index Librorum Prohibitorum”, “Lista dos Livros Proibidos pela Igreja”.
No clima bíblico de setembro, seguimos fazendo a nossa reflexão, conforme nos propõe o Lecionário Litúrgico para cada dia. Hoje, excepcionalmente, a liturgia abre um parêntese para refletirmos um texto extraído do evangelista São Lucas. Trata-se da conhecida passagem de Jesus, em Nazaré, sua cidade natal, indo até a sinagoga, que era o lugar de reunião da igreja judaica, para rezar. Como bom Judeu, Ele se levantou e leu as escrituras. O texto em questão era exatamente as palavras escritas pelo profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu. Ele me enviou para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros, para promulgar o ano da graça do Senhor, o dia da vingança do nosso Deus, e para consolar todos os aflitos, os aflitos de Sião”, (Is 61,1-2)
O profeta Isaías dizendo que o Salvador do mundo viria a Terra e ajudaria/cuidaria das pessoas mais pobres. O texto bíblico se refere aos “anawin”, que é uma palavra hebraica, encontrada em muitos textos da Sagrada Escritura, significando “os pobres de Javé”, ou seja, os pobres de Deus. Na compreensão bíblica, os pobres são aqueles desprovidos de todos os bens materiais, que experimentam o sofrimento e a injustiça por causa da sua condição de pequenez, fragilidade e dependência. Os “anawin” são, principalmente, aqueles que depositam toda a sua confiança em Deus. O profeta é, portanto, enviado para proclamar a Boa Notícia da libertação, e os destinatários primeiros são os pobres, porque estão abertos à fraternidade, a solidariedade e à partilha.
“Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. (Lc 4,21). Esta foi a frase chave, dita por Jesus, e que gerou toda a discórdia entre os presentes, a começar das autoridades religiosas e, até mesmo dos conterrâneos de Jesus, que não aceitavam que um simples filho de carpinteiro, se colocasse na condição de Messias, enviado por Deus, para dar cumprimento à sua promessa. Os pequenos não acreditando nos pequenos iguais a eles. Este clima de dúvida e rejeição a Jesus, por parte dos seus, prenuncia a hostilidade e a rejeição da atividade de Jesus por parte de todo o seu povo. Entretanto, Ele prossegue o seu caminho, para construir a nova história que começa pelos pobres, mas que engloba toda a humanidade.
É o Projeto Messiânico de Jesus. O Evangelho de Lucas coloca esta passagem de Isaías no início da vida pública de Jesus, constituindo assim o programa de toda sua atividade. No seu tempo, o profeta já anunciava que o Messias viria para realizar a missão libertadora dos pobres e oprimidos. Libertação total, física, mental, social, religiosa. Jesus encaminha toda a humanidade para uma situação de reconciliação e partilha, tornando possível a igualdade, a fraternidade, a comunhão e a solidariedade entre todos e todas. É por este motivo que a Igreja é dos pobres, com os pobres e para os pobres. Toda vez que ela (Igreja), não trilha por este caminho, ela está traindo o Projeto Messiânico de Jesus. Como bem disse o Papa Francisco: “Jesus precisa de vocês para salvar o mundo, ele veio por nós pobres, os pequenos, os doentes, os feridos da vida, os amargurados, para nos encher com seu amor. Se nos reconhecemos como pobres, reconhecemos uma carência, então Deus pode cobrir essa carência”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.