O Reino de Deus está perto

Sextou! Para os apreciadores da cerveja, este é o dia número 1, para o seu consumo. Tenho um amigo que é assim, fica esperando chegar este dia, para ter o nobre pretexto, para tomar a sua gelada, como ele mesmo diz. Como sou mais adepto do vinho, a sexta-feira não me diz respeito a este cardápio. Sou da turma de Baco e Dionísio que são considerados os deuses gregos do vinho. Também sou seguidor de Jesus, que tinha um grande apreço por esta bebida nobre. Quem não se lembra de um dos seus milagres, transformando a água em vinho? E da melhor qualidade!

Por falar em vinho, me vem a mente o saudoso redentorista, padre Victor Coelho de Almeida. Este “santo padre” tinha o saudável hábito de tomar religiosamente, todos os dias, um copo duplo de vinho. Daí a sua saúde invejável até a velhice, uma vez que, segundo os mais entendidos no assunto, o vinho é indicado como um excelente medicamento para o coração. Verdade ou não, padre Victor teve uma longa vida feliz entre nós.

Tendo o evangelho do dia de hoje (Lc 21,29-33), como objeto da minha oração, fui automaticamente conduzido à minha infância. Muito religioso que era, quando estava em casa, meu pai tinha o costume de ouvir todos os dias às 18:00 horas, a “Oração da Ave Maria”, cujo locutor, Júlio Louzada, recitava, entre outros, o versículo final deste evangelho: “O céu e a terra passarão, mas a minha palavra não passará”. (Lc 21, 33). Este locutor, também orientava os seus ouvintes, para que mantivessem um copo de água ao lado do rádio, pois ao final de seu programa, benzia aquela água, que todos em casa bebíamos, obedecendo às ordens de meu pai.

O texto de hoje, inevitavelmente provocou em mim inúmeras dúvidas, que as repassei, em forma de oração/desabafo ao meu Deus, num dialogo franco, aberto e sincero. Se o Reino de Deus está mesmo perto, como afirma a narrativa evangélica, porque tanta desgraça presente entre nós? Porque tanta “lasqueira”, como dizia a minha amiga Laura, da cidade de Piúna/ES, também na sua forma original de se referir à Deus, que veio trazer vida em abundância? Porque não acontece logo este Reino, então?

Ao contrário, vemos tantas barbaridades acontecendo entre nós, a começar dos nossos governantes, que vieram nos trazer a morte e destruição, sobretudo dos mais pobres. Chega a ser desesperador, ver tanta coisa acontecer e ninguém tomar providências, para por um fim nestas tragédias todas. Até quando a nossa paciência será testada, frente aos desmandos como estes dos dias atuais?

Ansiamos pela chegada deste Reino prometido por Jesus. Dia após dia, sonhamos com uma nova realidade acontecendo entre nós. Nossas forças parecem que estão chegando ao fim, sem que consigamos enxergar no horizonte próximo, a realização da promessa feita por Jesus de Nazaré. Em meio a toda esta angústia e desespero, as palavras do salmista calam fundo na nossa alma: “Até quando, Senhor? Para sempre te esquecerás de mim? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando terei inquietações e tristeza no coração dia após dia? Até quando o meu inimigo triunfará sobre mim? Olha para mim e responde, Senhor meu Deus. Ilumina os meus olhos, do contrário dormirei o sono da morte.”(Sal 13, 1-3)

Diante destas angústias todas, a gente até pensa em desanimar e jogar tudo para o alto. Parece que ficamos sem forças suficientes para continuar na luta. Mas nestas horas, precisamos juntar as nossas forças e, mesmo caminhando em meio às trevas, de um mundo pernicioso, maldoso, cheio de contradições, fazemos o Reino de Deus acontecer quando nos propusermos a ser fermento, sal, luz e nos tornamos testemunhas fieis daquilo que acreditamos. Tarefa esta nada fácil para os discípulos e discípulas, testemunhar sem esmorecer, continuando em nós a ação de Jesus de Nazaré. Sempre à espera da plena manifestação de Jesus e do mundo novo, por ele prometido. Esta condição impede que nos acomodemos na nossa zona de conforto ou que desanimemos, frente aos desafios que são enormes, achando que o projeto de Jesus é difícil, distante e inviável.

O Cristianismo não nasceu em berço de ouro dos palácios abastados. Ele nasce no meio do povo simples, pobre e na luta daqueles que acreditam sempre, contra toda esperança. Precisamos acreditar sempre e nos encher de forças, mesmo que elas nos pareçam faltar. É o mesmo que fazemos quando cantamos a canção Jesus Cristo, esperança para o mundo: “Um pouco além do presente, Alegre, o futuro anuncia. A fuga das sombras da noite, a luz de um bem novo dia. Venha teu reino, Senhor. A festa da vida recria. A nossa espera e ardor Transforma em plena alegria. Aiê – eiá, aiê – aê – aê.” Venha teu Reino Senhor e recria todas as coisas, para o bem daqueles que são massacrados por aqueles que acham poderosos! Vem Senhor e não tardes mais!