Sexta feira da Terceira Semana da Páscoa. Estamos caminhando rapidamente para o final de mais um mês de nossa historia cronológica. Sextou pela última vez no mês de abril. Todavia, o ar que respiramos e a brisa que sopra, são ainda permeados pela solenidade pascal. Jesus segue vivo no meio de nós. Deus conosco, insuflando em nós o sopro do Espírito, motivando-nos à caminhada. Somos membros do caminho com Jesus. Não sem razão, as primeiras comunidades cristãs eram identificadas como aqueles que seguiam “O Caminho” (Atos 9,2), como está descrito na primeira leitura da liturgia desta sexta feira.
“Vem caminheiro o caminho é caminhar, vai peregrino meu amor testemunhar”. Era bem assim que cantávamos numa das canções nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) alguns anos atrás. Caminhada que no dia de hoje começou bastante cedo para este rabiscador. Fiquei na espreita, na beira do Araguaia, para ver os primeiros acordes do sol, banhando de luz dourada as águas de nosso rio, trazendo-nos o novo dia. Um espetáculo de rara beleza. O rosto de Deus se fazendo “teofanicamente”, renovando de esperança mais um dia de vida. Estar vivo e estar aqui são uma dádiva de Deus, fazendo o coração transbordar de alegria e contentamento. Sou feliz no Araguaia!
Mas nem tudo na nossa vida são luzes de um sol nascente trazendo o esperançar. O dia de hoje, por exemplo, nos dá a oportunidade de comemorar o “Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho”. Esta data veio em decorrência de uma explosão numa das minas no estado norte-americano da Virginia (1969), ceifando a vida de 78 mineiros. Este infeliz acidente levou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2003 a instituir a data como o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Já aqui para nós no Brasil, esta data foi instituída pela Lei nº 11.121/2005. Num país em que ainda predomina “trabalhos análogos a escravidão”, a falta de segurança e saúde no trabalho é gritante.
Há muito que aprender acerca da história de construção e reconstrução desse nosso país. História estudada e conhecida de forma crítica, a partir dos caminhos escolhidos para se chegar ao verdadeiro sentido das coisas. Infelizmente muito da nossa história foi escrita pelos nossos colonizadores, a partir de uma visão da elite predominante, deixando-nos uma herança colonial perversa. Nós mesmos é que devemos construir a nossa história, do nosso jeito, e a partir dos valores e interesses de nossa gente sofrida e marginalizada, com os pés no chão, acendendo em nós o alerta feito pelo escritor russo Leon Tolstoi (1828-1910): “Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas”.
Aprender e ensinar com uma prática de compromisso e vivência engajada como Jesus está hoje no texto do Evangelho do dia (Jo 6,52-59). Ele está na Sinagoga de Cafarnaum em mais uma celeuma com os judeus que não aceitam, de forma alguma, seus ensinamentos. Cafarnaum (vila de Naum) é uma pequena vila que está localizada ao norte de Israel, na região do mar da Galileia. Dista cerca de 85 km de Jerusalém, a 50 km de Nazaré e a 16 km de Tiberíades. Ela ficou marcada pelos feitos de Jesus. Foi aí que Ele começou a exercer o seu ministério público, ensinando e realizando sinais (milagres): a cura do servo do centurião romano (Mt 8,1-13); a cura da sogra de Pedro (Mt 8,14-15); a cura de um homem endemoniado na sinagoga (Mc 1,23-26); a cura do filho de um homem nobre (Jo 4,46-50).
Na sinagoga, os judeus ficam furiosos com Jesus pelo fato dele afirmar de si mesmo: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida”. (Jo 6,51). Inadmissível para um judeu que alguém pudesse beber o sangue de outrem. Jesus se fazendo “Eucaristia”, mas eles não entenderam nada. O sangue martirial de Jesus se fazendo vida eucarística. O próprio sacrifício do Corpo e do Sangue d’Ele instituído para perpetuar na história, o sacrifício da Cruz, confiando assim, à sua Igreja, o memorial de sua Morte e Ressurreição. O sangue martirial transformado em banquete pascal. Jesus que deu a vida por amor. Assim, o compromisso com Jesus exige que também, cada um de nós, esteja disposto a dar a própria vida em favor dos outros. O corpo e sangue d’Ele fazendo Eucaristia, o sacramento que manifesta eficazmente na comunidade esse compromisso com a encarnação e a morte de Jesus.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.