Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum. Mais um domingo em nossas vidas. O Dia do Senhor acontecendo em nossa história. Deus visitando o seu povo na pessoa do Filho. O Divino de Deus se fazendo humano em nós, dando-nos a chance de alcançarmos a divindade de Deus em nossa história de vida. Em Jesus, Deus cumpre a promessa e faz acontecer a Nova Aliança.
Uma manhã fria na capital dos paulistanos. A “Paulicéia Desvairada”, colorindo de cinza os seus ares gélidos. A típica garoa de Sampa, ocupando o lugar de um tímido sol se escondendo atrás da neblina. Como desejei ver o sol nascer no meu Araguaia, levantando vôo de dentro da Ilha do Bananal, emoldurando de dourado as margens plácidas do rio. Encanto e poesia em forma de privilégio de quem mora no Mato Grosso, mas vê o sol nascer no Tocantins.
Rabisquei estas palavras ainda meio sonolento como caroneiro a bordo de um carro amigo, desfilando pelas imensas rodovias que cortam São Paulo. O Santuário de Aparecida ficou para trás, assim como a doce e alegre convivência com os amigos e os seus familiares, dos bons tempos de seminário. Éramos felizes e o sabíamos. De um tempo em que as lembranças boas ficaram presas nas esquinas do passado. Como diria o filósofo grego Epicuro (341 a.C. – 270 a.C.): “As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo”.
Domingo da alegria de ver Jesus pronunciando mais um de seus discursos, direcionado aos seus discípulos e discípulas, preparando-os para a missão de anunciadores da Boa Nova do Reino. Um episódio narrado também pelos outros dois Evangelhos Sinóticos (Marcos e Lucas), mas cada qual com as suas nuances. Estando na Galileia dos pagãos, o evangelista Mateus narra uma das sete parábolas: “o semeador saiu a semear”.
Jesus que se comunica em parábolas. Uma forma didático/pedagógica de fazer chegar a sua mensagem às pessoas mais simples e humildes: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos”. (Mt 11,25). Parábolas são pequenas histórias que ajudam a ler, sentir e compreender todo o projeto messiânico de Jesus. Com sua palavra e ação, Jesus revela a vontade do Pai, que é instaurar o Reino. Contudo, os sábios e inteligentes não são capazes de perceber a presença do Reino e sua justiça através de Jesus.
Jesus que é o Semeador e a Semente ao mesmo tempo. Semente que precisa ser semeada, mas que também necessita de um terreno apropriado para que possa germinar. As sementes do Reino foram trazidas por Jesus. Elas se espalharam pelo mundo. Da mesma forma que Jesus encontrou resistência no meio do seu próprio povo, do mesmo modo pessoas e estruturas continuam impedindo a justiça do Reino de acontecer entre as pessoas hoje. Muitos procurarão sufocar as sementes do Reino, antes que chegue ao chão da história.
Como Jesus, também somos semeadores e semente. Semear a Boa Nova, preparando também o nosso coração para que esta semente do Reino possa germinar e produzir os frutos que se esperam. Fugir dessa realidade e das dificuldades para a implantação do Reino é não compreender o seu mistério do Deus vivo que se faz presente na Semente do Verbo. Que sejamos semeadores como Jesus, espelhando-nos em Cora Coralina: “Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.