“O Senhor retribuirá a cada um conforme a sua justiça e a sua fidelidade” (1Sm 26, 23)

Reflexão: Liturgia do VII Domingo do Tempo Comum,
Ano C, 20/02/2022

 Na Liturgia deste Domingo, VII do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (1Sm 26, 2.7-9.12-13.22-23), que, embora tenha a oportunidade de se vingar do inimigo, Davi prefere perdoar, pois acredita na justiça divina. Davi renuncia a fazer justiça com as próprias mãos, poupando a vida de Saul. Davi age assim porque a fé e o temor a Deus o capacitam a perdoar o seu maior inimigo, embora tivesse motivos para eliminá-lo. Não podemos usar de violência no intuito de combatê-la. Davi não se vinga, porque atentar contra uma pessoa e, no caso, um ungido do Senhor, seria atentar contra o próprio Deus. Ele também não quis conquistar o poder por esta via, mas pelo reconhecimento progressivo das próprias tribos.

Confiemos, também, no poder que vem de Deus, é Dele que nos vem o socorro e a salvação: “O Senhor retribuirá a cada um conforme a sua justiça e a sua fidelidade”.

Na 2ª Leitura (1Cor 15,45-49), o apóstolo Paulo nos diz que herdamos de Adão um corpo perecível; de Cristo, herdamos um corpo celeste. Na ressurreição, seremos como Cristo. A ressurreição de Cristo trouxe para nós a esperança de uma nova criação.

O Evangelho (Lc 6,27-38) revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai. Diante de uma cultura de morte: “dente-por-dente e olho-por-olho”, Jesus usa imagens fortes para dizer que não somos juízes, que também somos fracos e pecadores, e oferece alguns conselhos práticos que, se seguidos, certamente beneficiarão a nós mesmos. Se a vida em sociedade é feita de relacionamentos de interesses e reciprocidade que geram lucro, poder, prestígio e violência, o que vamos seguir: os ensinamentos de Jesus ou esse contágio ideológico?

Somos chamados a olhar o outro como Deus o vê, não como inimigo, mas com misericórdia. Podemos discordar, combater posições, mas amar a pessoa. Não deixemos que os maus determinem o nosso modo de agir e nos contagiem. Jesus é o Senhor da minha vida, por causa Dele que amamos, perdoamos e somos livres, ninguém nos tirará a alegria de sermos livres. Enfim, se amar ‘os nossos’ já é difícil, então, e os chatos, os intragáveis? Não os amaremos se contarmos somente com nossas forças, temos que contar com a força do alto, o Espírito santo virá em nosso socorro.

Concluindo, podemos pensar: Se Jesus ofereceu tudo o que tinha de melhor (o reino) aos pobres, fracos, aflitos, rejeitados… e nós e a sociedade, o que lhes damos? Podemos dizer que estamos honrando o nome de cristãos? Numa sociedade individualista, materialista, hedonista, violenta e preconceituosa, ainda tem lugar a proposta de Jesus? Agimos obedecendo absolutamente a Deus ou ao nosso ego, nossas ideias, acontecimentos ou alguma palavra de algum repórter policial ou de algum líder que quer combater a violência implantando os mesmos métodos violentos?

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.