O Evangelho deste domingo possui uma sutileza e fineza sem tamanho. É preciso estar atentos para não deixamos escapar a sabedoria que ele carrega em si. A fala de Jesus possui um tom profético e deve orientar de forma bastante prática o nosso agir cristão no mundo.
A partir deste domingo, acompanharemos uma série de controvérsias entre Jesus e os fariseus. Eles querem pegá-Lo de qualquer jeito. As autoridades judaicas estão bastante irritadas com as acusações e as comparações feitas pelo Mestre através das parábolas proclamadas nos últimos domingos. A armadilha que os fariseus montaram para Jesus foi bastante perspicaz. Naquele tempo, a Palestina estava dominada pelo império romano. Haviam grupos políticos que eram a favor dessa dominação, mas também haviam aqueles que se opunham severamente a ela. Jesus estava numa situação bastante delicada. Se Ele diz que é lícito pagar impostos a Cesar, compactua-se com a dominação romana e indispõe-se com os fariseus. Por outro lado, se Ele diz que é ilícito pagar os tributos do estado, compactua-se com os rebeldes e subversivos e indispõe-se com os saduceus.
A resposta de Jesus não é uma mera saída estratégica. Ela possui uma profunda verdade teológica e um grande plano catequético. A resposta de Jesus proclama o senhorio de Deus sobre todas as coisas e ensina que os verdadeiros filhos de Deus devem viver sua identidade no mundo. Ao contrário do que muitos interpretam, o Senhor não estabelece uma dualidade entre Deus e o mundo, mas nos mostra que nossa fé deve ser assumida e vivida de forma concreta no mundo sem deixarmos de lado o horizonte de sentido que nossa identidade cristã nos propõe. É preciso vivermos com resiliência aquilo que é próprio do meio em que estamos. Às vezes, o ambiente em que vivemos será secularizado, desgastante ou até mesmo hostil. No entanto, o cristão não pode estar alheio ao seu meio. Ele deve assumir com generosidade e competência suas atribuições, sendo sinal da presença de Deus nos diversos cenários da sua vida.