Terça feira da terceira semana da Páscoa. Neste dia a Igreja traz presente para nós a memória dos apóstolos São Felipe e São Tiago. Ambos fizeram parte do discipulado de Jesus, escolhidos a dedo pelo Mestre, com a missão específica de propagar além fronteiras o Evangelho através do testemunho de suas vidas. Pouco se sabe a respeito destes ilustres personagens. Apenas, algumas citações nos evangelhos ou mesmo no Llivro dos Atos dos Apóstolos. Felipe e Tiago foram pessoas que conviveram muito próximos do Jesus histórico, aprendendo com Ele o jeito de ser de Deus presente na realidade humana.
Lembrando ainda do dia de ontem, no dia 2 de maio de 2014, um dos nossos pastores, realizou a sua Páscoa definitiva. Dom Tomás Balduíno (1922-2014), bispo emérito da cidade de Goiás, fez o seu encontro com o Pai, depois de passar 91 anos convivendo conosco neste plano. Profeta dos bons, muito amigo de nosso bispo Pedro. Ambos ajudaram a criar em 1972 o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e também a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Tomás foi presidente do Cimi, de 1980 a 1984, e da CPT, de 1999 a 2005. Tive o meu primeiro contato com ele em 1992, assim que cheguei à Prelazia de São Félix do Araguaia. Veio ele pilotando o seu “teço teço”, como era de costume. Para anunciar que estava chegando, dava um rasante sobre a casa de Pedro, para que alguém o buscasse no aeroporto. Amado pelos indígenas e também pela turma do MST. “Não nos deixem sozinhos!” disse uma das indígenas Krahô, durante celebração no velório de Dom Tomás Balduino. Pedro sentiu por demais a partida do grande amigo.
Nesta terça feira, a liturgia nos coloca diante de uma temática que nos faz refletir. Continuamos com a leitura do Evangelho de João e nele, vemos o próprio Jesus dizer: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. (Jo 14, 6) Na realidade o evagelista São João é o único deles todos que contem todas as sete afirmações “Eu sou” de Jesus: “Eu Sou a Luz do Mundo” (Jo 8,12); “Eu Sou a Porta” (Jo 10,7); “Eu Sou o Bom Pastor” (10,11); “Eu Sou a Ressurreição e a vida” (Jo 11,25); “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida” Jo 4,16); “Eu Sou a Videira” (Jo 15,6) e ainda no livro do Apocalipse ele vai dizer, “Eu sou o primeiro e o último” (Apoc 1,17)
Estamos diante do Ser ontológico de Jesus. Certamente, como bom judeu que era, Jesus conhecia profundamente a manifestação de Deus do Antigo Testamento, quando o Senhor se revelou a Moisés, dizendo: “EU SOU” e “Diga isso ao povo de Israel:” EU SOU me enviou” (Ex 3,14). Jesus conhece a sua origem e se revela como enviado do próprio Deus. O imanente que nos faz conhecer a transcendência de Deus. O divino se fazendo humano para que chegássemos ao transcendente que é Deus. Imanente e transcendente dialogando na realidade humana histórica. Recorrendo à filosofia podemos entender estas duas realidades distintas, mas complementares concebendo a imanência como algo ligado à realidade material, apreendida imediatamente pelos sentidos do corpo, e a transcendência como uma realidade imaterial, de natureza metafísica, abscôndita nos umbrais do mistério.
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O Ser de Jesus se fazendo em nosso ser. O divino se fazendo humano em nossa humanidade. O Ser de Jesus revelando o Ser humano de Deus em nossa realidade, em nossas vidas. Jesus que mantém uma sintonia fina com o Pai. O Ser de um se fazendo Ser com o outro: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim”, (Jo 14, 10). Unidade como valor supremo de presença viva. O Ser de Jesus se fazendo caminho que leva à vida. Através de seu Ser entre nós, como Verbo encarnado, Deus se faz doador da vida, manifestada inteiramente na pessoa e ação de Jesus. Quem adere ao projeto de Deus revelado em Jesus sabe que terá a vida plena. Jesus com o seu Ser de Deus transforma o nosso ser para Deus.
O nosso ser caminha para o encontro com o Ser de Jesus. Somos porque estamos com Ele, fazendo unidade na caminhada peregrina desta vida: “Sem mim nada podeis fazer”. (Jo 15,5) Pertencemos assim à comunidade de Jesus. E mais do que uma simples instituição, a comunidade cristã se faz participe na vida de Jesus. Desta forma, sendo com Jesus, cada pessoa é chamada a testemunhá-lo nas ações cotidianas. Apesar das nossas limitações, não caminhamos para o fracasso, pois a nossa direção é a vida. E vida plena. Sendo caminho, Jesus nos convida a caminhar com Ele por este mesmo itinerário. Em Jesus temos a firme convicção de que o nosso ser chegará à presença do Ser de Deus, como Ele mesmo disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. (Jo 14,6)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.