Sexta feira do Tempo do Natal antes da Epifania. Sextou em janeiro. O ano novo segue dando os seus acordes em nossas vidas. Vamos nos adequando e fazendo a história acontecer com a nossa participação decisiva dentro dela. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, já nos dizia a composição de Geraldo Vandré. No esperançar de Paulo Freire, vamos construindo cada passo deste compasso.
“Escreva sua história pelas suas próprias mãos”, assim canta Zé Geraldo com a sua canção de resistência. Tomar pelas mãos a caneta da história e ilustrá-la, sendo protagonistas de uma outra história que fale do cotidiano das nossas lutas, deixando para trás os feitos e glórias da “história oficial”, contada pelos nossos opressores. Na resistência e na teimosia de nosso bispo Pedro, vamos construindo as nossas utopias, fazendo acontecer entre nós o Reino de Justiça sonhado por Deus para os seus. Reino que já se encontra entre nós, mas que o “ainda não”, nos faz artífices desta realidade que queremos nossa.
Os Povos Originários destas terras que veio a se chamar Brasil, seguem o seu caminho de saberes ancestrais reconstruindo a história. Somos filhos e filhas de uma “herança colonial perversa”. Desconstruir o conceito genérico “Índios”, é aquilo que estão fazendo os nossos indígenas, ao apossar de forma empoderada do órgão que é seu, transformando-o na nova nomeclatura: “Fundação Nacional dos Povos Indígenas”. Joenia Wapichana, sua nova presidenta, tem o respaldo das inúmeras etnias, sacramentada pela presença viva de uma de suas maiores lideranças: Raoni Metuktire, da etnia Kaiapó.
Nova história que foi inaugurada com a vinda do Filho de Deus até nós. Proclamado e anunciado desde sempre pelos profetas do Antigo Testamento, testemunhado por João Batista, aquele que veio antes do Messias, preparando o seu caminho: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias.” (MC 1,7) João sendo protagonista da nova história, anunciada por Deus e se fazendo realidade na pessoa de Jesus de Nazaré.
História da qual fazemos parte, uma vez que, na pessoa de Jesus, a separação que havia entre Deus e as pessoas se rompeu. Ele vem selar a nova história, onde Deus mesmo se faz presente entre nós. Jesus é o Filho de Deus que se faz gente como a gente. A divindade de Deus se fazendo humanidade como carne da nossa carne. Deus mesmo faz questão de anunciar pela voz que apresenta o mistério do homem de Nazaré: Ele é o Filho de Deus, o Messias-Rei (Sl 2,7) que vai estabelecer o Reino de Deus através do serviço, como o Servo de Javé (Is 42,1-2).
Jesus, o servo de Javé. Deus se fazendo servidor da humanidade na pessoa de seu Filho, Jesus de Nazaré. Deus que toma a iniciativa de se fazer um de nós: “do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”. (Mc 1, 11) A vida humana renascendo com a presença do Filho entre nós. A vida se fazendo plenitude com a chegada de Deus até nós. Se o Filho se faz servo de todos nós, somos também desafiados a nos transformarmos em servidores das causas do Reino. Assim, não vivemos para nós mesmos, mas para as mesmas causas de Jesus, o servo de Deus. Servir a Deus, servindo as pessoas mais necessitadas dos nossos cuidados: “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores dos meus irmãos, foi a mim que o fizeram”. (Mt 25, 40) Somos servos com o Servo de Deus, servindo e fazendo acontecer a nova história na “fraternura” do Reino de Deus.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.