O Servo Sofredor

Segundo Domingo do Tempo Comum. Já estamos em meados do mês de janeiro que vai se constituindo, configurando o novo ano de nossa história. Dias de esperança de uma nova realidade que iremos construir. O velho ficou para trás. O medo cedeu lugar ao nosso esperançar. O ódio não tem mais lugar, onde a verdade haverá de triunfar. O sol da justiça renasceu, nos fazendo acreditar nas utopias do Reino se fazendo realidade nas nossas ações por outro mundo possível que faremos nosso.

“Venha teu Reino, Senhor! A festa da vida recria. A nossa espera e ardor, transforma em plena alegria”. Venha, Senhor com a força revolucionária de teu poder, transformar-nos por inteiro, para que sejamos arautos das causas dos pequenos. Escreva em nossa história através de nós, os teus sonhos de um mundo feliz e renovado. Faça de todos nós, instrumentos de tua vontade, assim como fizera acontecer na vida de tua filha Zilda Arns, mulher forte e destemida com suas ações de rebeldia e resistência, em favor da vida.

Zilda Arns Neumann, médica, pediatra e sanitarista brasileira. Fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Nesta semana, fizemos a memória dos 13 anos de sua páscoa, ocorrida no dia 12 de janeiro de 2010, vítima de um terremoto no Haiti. Meses antes de para lá partir, ela esteve conosco em São Félix do Araguaia, participando, com o seu sorriso largo, de uma reunião da Pastoral da criança. Não media esforços, quando se tratava da pastoral, salvando vidas das crianças por este Brasil afora. Muitos adultos de hoje, são filhos da resistência da Pastoral da Criança.

Estou respirando os últimos ares desta minha estada cá por Minas. Embarcarei nesta noite rumo à capital dos goianos, para ali passar por revisão médica. Preparar o corpo e o espírito, para mais um ano de lutas e conquistas que teremos pela frente. Mais do que assinar notas de repúdio e contestação, temos que arregaçar as mangas e nos empenharmos, afetiva e efetivamente, na reconstrução desta Pátria Grande. As ações de cidadania se fazendo pelas nossas ações de transformação revolucionária que o Reino exige.

O Servo Sofredor está conosco de mãos dadas nesta empreitada de mutirão. É isto mesmo que a liturgia deste domingo veio nos anunciar. O profeta precursor anunciando o Verbo encarnado: “João viu Jesus aproximar-se dele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (Jo 1,29) Já existia bem antes no sonho de Deus. Teologicamente podemos dizer que Jesus vem antes de João Batista, pois já existia e era anunciado pelos profetas do Antigo Testamento, como o sonho de Deus de se fazer presente em nossa história humana, como está escrito no Prólogo de São João: “A Palavra se fez carne, entre nós ela acampou; todo aquele que a acolheu, de Deus filho se tornou. (Jo 1,14a.12a)

Jesus é o Servo sofredor do qual se referia Isaías 53. Aquele que viria redimir a humanidade com sua ação e ensinamentos, trazendo a Divindade de Deus para mais próximo de nós. Deus mesmo que, na pessoa de seu Servo, faria morada definitiva com os seus. Jesus, o Servo de Deus. Servo e Cordeiro. Anunciado pelos profetas como aquele que devia sacrificar-se pelos seus irmãos. O verdadeiro Cordeiro, que substituirá o cordeiro pascal dos judeus de antes. Ao anunciar Jesus como Cordeiro, João Batista, mostra que Ele é o Messias que vem tirar a humanidade da escravidão em que se encontra e conduzi-la a uma vida na liberdade plena. Assim, nos tornamos privilegiados, pois temos a oportunidade de, revestidos com a força do Servo Sofredor, sermos “cristificados” e “cristificar o Universo”, conforme nos sugeria o teólogo francês Teilhard de Chardin (1881-1955) Somos servos com Servo Sofredor. Como o Batista possamos também dizer: “Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!” (Jo 1,34)


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.