O tempo urge

Sexto domingo do tempo pascal. O tempo que se descortina no nosso horizonte e nos leva ao encontro com o Espírito Santo de Deus. O esperançar do Pentecostes prenuncia novos tempos. Estamos a caminho do encontro pessoal com o Senhor que se faz Ressuscitado, oportunizando a presença do grande defensor. O paráclito que vem nos mostrar o rumo e a direção, clareando os passos de nossa missão peregrina neste mundo. A esperança de Deus que venceu a morte no Filho, se fazendo realidade perene em nossa história humana. “Deus ressuscitou a este Jesus. E nós todos somos testemunhas disso”. (At 2,32)

Domingo, Dia do Senhor. Dia também que a Igreja celebra a festa em memória de Santa Rita de Cássia (1381-1457). Santa Rita, italiana de nascimento, foi uma freira agostiniana que teve uma vida muito sofrida. Mãe de dois filhos, depois de ficar viúva, buscou o caminho da vida religiosa. Depois de canonizada, se tornou a grande intercessora dos impossíveis de nossa vida, sendo conhecida como a “Santa dos Impossíveis”. Um domingo que também para as religiões de matrizes africanas é tido como o domingo do orixá Oxalá. Um dos orixás mais importantes dos cultos afro-brasileiros, cuja entidade divina andrógina, representa as energias da criação da Natureza personificadas no Céu. Axé!

A liturgia deste domingo reservou-nos mais uma vez o texto da narrativa da comunidade Joanina. Estamos refletindo o capitulo 14 do Evangelho de São João. Se bem observarmos, os capítulos 14 a 17 do Evangelho joanino, são conhecidos como o “Discurso de despedida” feito por Jesus diante de seus onze discípulos, imediatamente após a “Celebração da Última Ceia”, na noite que antecede a crucificação de Jesus. Uma fala, cuja função principal é motivar o encorajamento e a esperança de seus seguidores, diante da morte iminente que o espreita, no horizonte próximo de sua caminhada rumo ao calvário.

Um discurso marcado por palavras fortes de puro esperançamento. Jesus sabe que os tempos são difíceis e que Ele precisa devolver o esperançar do sonho de construção do Reino que Ele havia anunciado. Tanto isto é verdade que Ele começa dizendo aos discípulos que Ele irá para o Pai e enviará o Espírito Santo para guiar os passos de seu discipulado. Num segundo momento, os concede a paz e determina que eles se amem uns aos outros. Todavia, a temática central deste discurso de despedida de Jesus é o Novo Mandamento: “Amem-se uns aos outros como eu amei a cada um de vocês”. Jesus que prepara os seus para o grande dia de sua partida: “Disse-vos isso, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis”. (Jo 14,29)

“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. (Jo 14,23) Somos, pois esta morada de Deus. O tempo de amar é agora. O tempo de amar e ser feliz se faz no presente de nossas vidas. A hora de amar é agora. Não é amanhã e nem é depois. O tempo urge e não podemos admitir nem tolerar atrasos. Precisamos sair do imobilismo e fazer acontecer os gestos de amor concretos no aqui e agora do tempo presente. Ser e parecer amáveis às pessoas no aqui e agora. Dizer às pessoas que as amamos e, com atitudes concretas, manifestarmos este nosso amor por elas. O amanhã pode ser que não esteja mais aqui para nós e ai sim, perderemos a grande chance de transformar em ato, aquilo que está presente em nosso coração. O amor é ato urgente, inadiável e indispensável. Não percamos a chance de traduzir a linguagem do coração em ações visíveis, palpáveis de puro afeto. Amar com a vida sendo vida no amor.

A morte de Jesus é a porta que nos abre à perspectiva de uma nova realidade: a de estar com Ele e em sintonia com o Pai. Num clima de aparente morte, Jesus fala de paz, de alegria e esperança. Para o enfrentamento desta realidade é necessário revestir-nos do espírito da paz. Paz que é a plena realização humana. A morte de Jesus realiza a paz, pois ela decorre de sua fidelidade ao Projeto do Pai. O martírio de Jesus na cruz nos abre a perspectiva do Cristo Ressuscitado em nós. Todo martírio é participação nessa luta vitoriosa de Jesus e, portanto, causa de paz e alegria. “Pão em todas as mesas. Da Páscoa a nova certeza. A festa haverá. E o povo a cantar, aleluia!”


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.