O vírus do egoismo

O Papa Francisco tem manifestado uma preocupação que é a preocupação de muitos de nós nestes tempos de pandemia. Segundo ele, pior que o vírus que tem provocado esta grande pandemia, é o Vírus do EGOÍSMO. Este sim, tem arrastado a muitos para a OMISSÃO e INDIFERENÇA, que não conseguem enxergar uma realidade de profunda DESIGUALDADE SOCIAL, presente na nossa sociedade. Esta desigualdade é fruto da GANÂNCIA de uns poucos, de querer ter sempre mais, à custa daqueles que nada tem, ou tem sempre menos do que o necessário para viver com DIGNIDADE. E esta situação tem ficado muito evidente nestes tempos de pandemia.
As pessoas mais pobres estão morrendo, vitimas da covid-19, ou da própria FOME. Sem TRABALHO e sem SUSTENTO, muitas famílias estão passando por sérias dificuldades. A ajuda emergencial tem chegado de forma muito lenta, dado o processo burocrático, e a demora das decisões políticas, de fazer o dinheiro chegar às suas mãos para conseguir alimentar-se, pagar as contas. Muitos pais se vêem em DESESPERO ao olhar para o filho com fome, e sem saber o que fazer para alimentá-lo nestes tempos de isolamento social.
Como forma de contrapor a esta situação de uma economia de exclusão dos mais vulneráveis, o Papa está propondo uma nova economia que ele denominou de “A ECONOMIA DE FRANCISCO: construir novos caminhos”. Para efetivar esta proposta, ele idealizou um encontro mundial pela economia de Francisco, em referência ao POBREZINHO DE ASSIS que, no Séc. XIII, deixou a fortuna para abraçar a igualdade e a natureza. Segundo ele, Assis é o lugar apropriado para inspirar uma nova economia, pois foi ali que São Francisco se despojou de todo mundanismo para escolher Deus como bússola da sua vida, tornando-se irmão de todos. Sua decisão deu origem a uma visão econômica que permanece atual até os dias de hoje.
Muito interessante este encontro proposto pelo papa. Na ocasião, a cidadezinha da Úmbria acolherá jovens economistas, empreendedores, doutorandos e pesquisadores de todo o mundo. Segundo consta, já são mais de 2 mil jovens inscritos, com menos de 35 anos de idade, provenientes de 115 nações do mundo inteiro, e o Brasil é um dos países com mais inscritos. Os pedidos são de mais de três mil, devendo, portanto, ter uma participação efetiva de jovens, desejosos de contribuir com uma economia que pense e inclua os pobres, já que a economia atual não os vê como seres de direitos a uma vida mais digna. A economia atual é geradora de MORTE e é EXCLUDENTE.
Na realidade, o papa Francisco quer estabelecer um novo PACTO. Neste pacto pela vida, a construção de novos caminhos de possibilidades, buscando a solução dos problemas estruturais da economia mundial. Para isso, é preciso questionar as leis que gerem a economia, que produzem DESIGUALDADE e EXCLUSÃO. É preciso compreender que elas são fruto de decisões políticas e que, portanto, podem e devem ser questionadas e transformadas, dentro de uma perspectiva CRISTÃ. Trata-se de construir uma nova economia à medida do homem/mulher e para o homem/mulher. Evidentemente que o papa tem como objetivo principal que tenhamos no mundo uma economia socialmente justa, economicamente viável, ambientalmente sustentável e eticamente responsável.
Em virtude deste contexto de pandemias, não sabemos se o encontro irá acontecer em novembro, como está previsto. Entretanto, mesmo antes dele acontecer, o papa tem sido sistematicamente criticado por pensar e propor OUTRA ECONOMIA POSSÍVEL. Muitos o tem criticado dizendo que não é papel da igreja se envolver nestes assuntos de política, como se a igreja não se envolvesse desde sempre na política. Nesta hora me lembro de nosso bispo Pedro que diz: “Há política de uns e política de outros…” e também da frase estampada em uma das paredes de sua casa: “Tudo é político, mesmo que a política não seja tudo.” Que não caiamos no pecado do egoísmo, fazendo coro àqueles que, além de não se envolverem num caminho de solução, jogam pedra naqueles que estão buscando o enfrentamento destas desigualdades.