Oração na ação

Quarta feira da décima primeira semana do tempo Comum. Hoje estou cumprindo fielmente a orientação de Jesus que assim diz no evangelho de hoje: “Quando você for rezar, entra no seu quarto, fecha a porta e reze ao seu Pai que está oculto”. (MT 6,6). É assim que me pus em oração, daqui desta cama que passo os dias me recuperando gradativamente. Pacientemente, um dia de cada vez.

Oração que tem sido uma frequência de sintonia com Deus nesta etapa de minha vida. Tenho aproveitado deste tempo para rezar um pouco mais e escutar o que Deus tem a me dizer nesta minha missão junto aos povos Indígenas do Araguaia. Missão que Ele me fez entender que irá continuar, não com a mesma efervescência
que vinha acontecendo nos últimos anos. Desacelerar vai ser preciso, depois deste sinal de alerta que recebi.

Uma realidade nova fez despontar em minha vida. Sinto que nasci de novo. Estou sentindo a mesma experiência pela qual passou Nicodemos, quando Jesus lhe disse: “Em verdade, te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. (Jo 3,3). É exatamente desta forma que agora me sinto. Uma nova chance me foi dada para recomeçar. Me sinto como se estivesse nascido de novo, dada a gravidade pela qual passei e agora estou aqui me recuperando, sem nenhuma sequela.

Não sou mais importante de quem quer que seja. Talvez o mais pecador de todos. Mas sinto que Deus tem um carinho especial por mim. Ele me ama apaixonadamente. Sinto isso em meu coração. O fato de me manter vivo demonstra que Ele acredita em mim e quer que eu dê continuidade a minha missão de ser um pequeno instrumento em suas mãos. Sendo assim, repito com a “Comadre de Nazaré”: “Faça-se em mim segundo a tua vontade!” (Lc 1,38).

Quando a neurocirurgiã, a doutora Renata, entre dezenas de macas naquele espaço da enfermaria daquele hospital, se dirigiu a mim e me disse que eu ficasse tranquilo, pois ela mesma se encarregaria de meu processo cirúrgico no hospital de seu pai, no Santa Monica, vi ali naquele gesto a mão de Deus operando. Naquele momento senti uma paz interior tão forte que até me esqueci da fome que corroía o meu estômago e chorei o choro aliviado de que meu Deus estava comigo, como sempre esteve. Rezei agradecido a Santo Agostinho, por ter causado a santificação de sua mãe Santa Mônica, que passou a vida rezando pelo seu filho terrível.

O mesmo Deus que também que se fez presente nos muitos amigos e amigas, que se uniram em sintonia de oração por mim. De onde menos espetei, vieram os gestos mais sinceros de oração e ajuda financeira. Até mesmo de outras igrejas, recebi apoio solidário. Tudo isso me fez chegar a conclusão de que tenho mais amigos e amigas do eu imaginava. E estas pessoas todas as trarei sempre vivas em meu coração.

Nascer de novo significa ter a oportunidade de recomeçar a vida, ter uma nova chance. … Na Bíblia, em João 3:1-21, Jesus fala para Nicodemos, um fariseu, que para ver o Reino de Deus é preciso nascer de novo.

Nascer de novo significa ter a oportunidade de recomeçar a vida, ter uma nova chance. Hoje estou aqui convalescendo e me recuperando a cada dia, até a feliz hora que, enfim retornarei ao meu Araguaia. Lá, darei continuidade a minha missão de agente de pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia com as comunidades e os povos Indígenas. Lá é que sei ser feliz, caminhando com aquela igreja que aprendi a amar. Essa igreja que está dentro de mim e faz parte desta minha história de vida. Igreja que Pedro soube edificá-la com o seu jeito místico/profético, e que agora, mais do que nunca, precisamos revitalizar o seu legado “de uma igreja da Amazônia em conflito com o latifundiário e a marginalização social”, com os seus 50 anos de oração na ação.