Iniciando o mês de agosto. Mais uma semana de caminhada. Na esteira da vida, com sentimento de gratidão à Deus pelo dom da vida como dádiva d’Ele, que nos ama apaixonadamente. Não nos abandona jamais, mesmo diante da nossa ingratidão. O Deus que é tudo em todos (1Cor 28), se faz um conosco na caminhada, permitindo que construamos a história com as nossas próprias mãos. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, já nos dizia o poeta.
Estou sentindo uma grande dor em meu coração nestes últimos dias. Tudo porque, três casas dos Iny (Karajá) da aldeia Fontoura, Ilha do Bananal (TO), foram consumidas pelo fogo, nesta semana que passou. Como as suas casas são de madeira e palhas e, muito próximas umas das outras, foram devoradas pelo fogo. Situação que se torna mais complicada neste período do ano, em que o vento sai varrendo tudo à sua frente. De sorte, que já conseguimos muitos donativos para as famílias que tudo perderam. Só não estamos recebendo dinheiro, mas roupas em geral e alimentos. De tudo tem chegado um pouco.
Seguimos nosso cotidiano com as nossas lutas, irmanados àqueles e àquelas que juntos caminham conosco. Não estamos sós nas estradas da vida. Além do nosso Deus, estamos de mãos dadas, sonhando as utopias do Reino. Sonhamos com outro mundo possível. Este que aí está, cansou da nossa presença por aqui. Nosso espirito destruidor, precisa ser revestido pelas forças da integração do todo com todos. Não somos maiores e melhores que os outros seres que habitam o planeta, como alguns de nós assim se acham. Somos criaturas do Criador. Que possamos rezar como fazia São Francisco de Assis, com a sua visão cosmológica: “Louvado sejas, meu Senhor, por todas as suas criaturas.” https://www.youtube.com/watch?v=uTQbc-5ihA8
Jesus também tinha os seus momentos de oração. Não necessitava de ir ao templo para estar a sós com Deus, em forma de oração. O evangelho de hoje nos mostra um destes seus momentos: “Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós.” (Mt 14, 23) Ficava horas nesta sintonia com Deus em forma de oração. Sintonia esta que o remetia à ação. Esta é uma das funções da oração de nos colocar em sintonia com às causas do Reino. Oração que nos compromete na ação transformadora da realidade. Através dela, observo melhor a realidade de dor e sofrimento dos irmãos mais necessitados.
“A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora”, já nos dizia o filósofo, teólogo, poeta dinamarquês do século XIX, Soren Kierkegaard (1813-1855). O existencialismo cristão deste grande pensador, nos faz entender que, diante do Criador, somos meras criaturas limitadas, que necessitam permanentemente de mudanças, na nossa natureza humana. Não somos seres acabados, mas vamos nos constituindo na medida em que avançamos e vamos nos transformando. Um processo de crescimento que necessita de um processo de conversão (metanoia – transformação, ação de mudar).
Rezei nesta manhã na companhia de um lindo pica-pau. Nunca tinha visto desta espécie. Estava no quintal do meu vizinho, sobre uma palmeira de buriti, acionando com o seu bico, no ritual para encontrar alguma larva que lhe servisse de alimento. A seu lado, uma enorme arara azul, tentava inutilmente, encontrar algum fruto daquela árvore que, pelo fato de ser do gênero masculino, não produz frutos como as suas coirmãs. A natureza com os seus mistérios. O pé de mamão macho também não produz frutos, somente folhas e flores.
Procurei fazer da minha oração nesta manhã um mantra, reverenciando a mãe natureza com todo o seu esplendor. Começar o dia em forma de oração nos ajuda a encarar o dia com a certeza de que as forças do universo são captadas, através de nós e nos impulsiona a seguir em frente. A própria natureza em si já é um convite à oração. Ver e sentir que cada um dos seres que nela habitam, tem a sua razão de ser, denota a perfeição que é o próprio Deus. Ao término deste meu momento, na tentativa de estar a sós com Deus, me vi na pele do escritor Eça de Queiroz (1845-1900) que assim dizia acerca da oração: “Quem não conhece o poder da oração, é porque não viveu as amarguras da vida!”