Primeiro domingo da quaresma. Um domingo como outro qualquer, não fossem os “aperreios” decorrentes de uma pandemia e a insensatez de uma guerra, forjada nas mesas de negociatas de ultrapassadas politicas “velhacas”. Este domingo nos introduz especificamente no contexto quaresmal. Momento de revisão de vida e provação da nossa fé.
Um domingo de calmaria nas movimentadas ruas da cidade grande. O vai e vem frenético dos veículos e pessoas, descansam seus corpos e motores estacionários. Me fazendo lembrar da calmaria da floresta que está alojada em meu imaginário, não vendo a hora de pisar os meus pés, no chão sagrado das nossas aldeias. Que falta me faz esta sintonia com a nossa Casa Comum e me fazer interligação com o todo que ali reluz!
O texto bíblico proposto para a nossa reflexão neste domingo, é profundamente significativo e paradigmático (4, 1-13). Nele, Jesus se volta para o deserto, não apenas como um lugar geográfico, mas teológico. A mesma temática que aparece de forma similar nos três Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Cheio do Espírito Santo, Ele se depara com as tentações comuns de qualquer ser humano.
Jesus, o homem Deus! O humano divinizado. O Deus que se fez e se faz pessoa humana. Como ser humano, encarnado na realidade humana, viveu intensamente esta realidade, como rezamos na Oração Eucarística IV: “Verdadeiro homem, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado…”
Lucas nos introdução na realidade histórica das tentações, pelas quais toda a humanidade se defronta. Jesus também por elas passou, mas não sucumbiu ao desejo de fazer valer o seu poderio, advindo de sua origem e descendência, já que nasceu do sonho de ternura e amorosidade do Pai pelos seus nunca abandonados.
Jesus estava embevido do Espírito Santo. Preenchido da graça divina, que chega até nós pela presença e ação do Espírito. Também nós passamos pelos nossos desertos, as nossas tentações cotidianas. Deserto que representa o lugar de provação das nossas convicções, e também da nossa fé. O fato de termos o Espírito Santo de Deus em nós, não significa que estaremos livres das tentações.
São tantas as tentações! Quem de nós não já teve o desejo de poder, dominação, riquezas, de passar por cima dos outros? Quem não sentiu o desejo desenfreado de se submeter à lógica capitalista do acúmulo, da ganância, de consumir, consumir e consumir? Passar pelas tentações é extremamente normal e pedagógico. Adentrar aos nossos desertos e deparar com elas, é plenamente normal. Anormal é deixar se levar por elas e ainda sair por aí se gabando de ser um cristão, uma cristã seguidores de Jesus de Nazaré. Aquele que nos divide (Diabolus), está à espreita, pronto para agir. Frente as tentações cotidianas de nossos desertos, resta-nos manter firmes a nossa fé e convicção, fundamentadas nos valores do Evangelho, afinal, como o texto de hoje assim conclui: “o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno”.
Sai pra lá coisa ruim! Tinhoso! Coiso!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.