Os falsos profetas

Sexto domingo do tempo comum. Dia de alegria! Dia do Senhor! Dia de fazermos memória da Ressurreição do Filho de Deus, o Cristo. Ao Ressuscitar Jesus, Deus quis nos mostrar que a morte não tem a última palavra, mas a vida, que ressurge, descendo Jesus da Cruz, para desespero de seus algozes. Se Ele Ressuscitou, também nós haveremos de, com Ele, também ressuscitar. A Ressurreição de Jesus é o princípio fundante da fé cristã. Como afirma Paulo em uma de suas cartas: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm”. (1Cor 15,14)

Chegamos ao final de uma semana marcada por mais uma tragédia. No dia 10 de fevereiro, uma criança de nove anos, foi assassinada a tiros por pistoleiros encapuzados dentro da casa de seus pais. Este crime aconteceu no Engenho Roncadorzinho, município de Barreiros, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, distante 110 quilômetros do Recife. Pistoleiros fortemente armados, foram até a casa do agricultor Geovane da Silva Santos, presidente da Associação dos Agricultores Familiares do local e atiraram no trabalhador rural, que sobreviveu. Menor sorte teve a criança que estava escondida com a sua mãe embaixo da cama e foi alvejada, não resistindo aos ferimentos. Um país que mata as suas crianças, não é um país de futuro.

Um Brasil que tem se especializou em assassinar lideranças rurais, ambientalistas, ativistas e indígenas. Somente no ano de 2020, foram registrados 227 homicídios no Brasil. Estes números representam uma média de quatro pessoas a cada semana assassinadas por defender suas terras, o meio ambiente ou os territórios indígenas. O Brasil figura entre os quatro países que mais matam estas lideranças no mundo. Ficamos atrás apenas da Colômbia, México e Filipinas. A grande maioria destes crimes, ficam impunes, pois há por traz deles, pessoas de grande poder econômico. Frente a este cenário, que o nosso clamor chegue aos ouvidos de Deus como no Egito: “Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo”. (Ex 3,7-8)

Clamor dos pobres que vêem a esperança se renovar com a libertação que lhes chega através do projeto messiânico de Jesus. É assim que a liturgia deste sexto domingo do tempo comum nos apresenta Jesus atuando entre o povo sofrido da Palestina de seu tempo. As Bem Aventuranças, narradas por Lucas, apresenta uma situação diferente de Mateus. Num primeiro momento Ele fala diretamente aos pobres, aos famintos, aos que choram, aos odiados e perseguidos e injustiçados. Na segunda parte, se dirige aos ricos, aos de mesa farta, aos que riem da desgraça alheia, comparando-os aos falsos profetas.

Quantos falsos profetas temos entre nós! Seja na nossa Igreja, seja também nas demais. Falsos profetas são aquelas pessoas que anunciam aquilo que não vem de Deus. Seus ensinamentos e testemunhos não são fundamentados na Palavra de Deus, inventando profecias, sonhos e visões. Fazem uma interpretação do texto bíblico pra justificar os seus próprios interesses financeiros. Estes falsos profetas enganam ass outras pessoas, desviando-as de Deus, quase sempre causando conflitos e confusão. Os falsos profetas são mestres em alienar as pessoas, mostrando-lhes a face de um “deus da conveniência”, de interesses na manutenção dos privilégios em benéfico de uns poucos. “Ai de vós!” Este é o alerta que Jesus faz a estes enganadores do povo. Contra estes Jesus diz: “Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes”. (Mt 7,15)

Jesus faz renascer a esperança dos pequenos. A esperança de Deus renovando a face da terra. Podemos dizer que a primeira parte deste texto é o cerne de toda a atividade do Jesus Messias encarnado na realidade histórica humana: produzir uma nova sociedade, justa, fraterna, igualitária e solidária, aberta para os anseios de Deus. Em Jesus, o sonho de Deus é a libertação dos pobres e famintos; dos aflitos e dos que são perseguidos por causa da justiça. Isso não acontece de forma mágica, mas através da denúncia daqueles que geram a pobreza e a opressão, depondo-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza. Uma sociedade nova, pensada por Deus e arquitetada pelas ações de Jesus em meio aos empobrecidos. Ação esta que foi muito bem resumida num dos versículos do Livro dos Provérbios: “Afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem pobreza nem riqueza; concede-me apenas o alimento necessário”. (Pr 30,8)

 

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.