Os fariseus de ontem e de hoje

 

Iniciamos mais uma semana. Mais uma segunda-feira (18) surge no horizonte de nossas vidas. Teremos uma semana cheia de expectativas pela frente, afinal, a vacina está bem aí, e alguns estados irão vacinar a sua população. Mesmo com uma vacina em tempo recorde que nos chega, há ainda aqueles e aquelas que insistem com os seus pensamentos mesquinhos e retrógrados, recusando-se a vacinar. Penso que diante desta estupidez, deveriam assinar um termo de responsabilidade, abrindo mão de uma possível internação hospitalar e até mesmo de vaga em uma das UTIs.

Iniciei a minha semana invocando a Mãe de Jesus. A “Comadre de Nazaré” fez-me companhia nas minhas orações nesta manhã. Ela, com o seu espírito guerreiro, ensina-nos a ser fieis diante do Projeto de seu Filhão. Só ela mesma para nos dar forças para seguir resistindo e lutando sem desanimar. “O trem tá feio sô”, como se costuma dizer lá na minha terra. Tem hora que achamos que não vamos dar conta de seguir adiante, mas basta uma noite se sono para tudo recomeçar. Como no dito popular: “Nada como um dia após o outro e uma noite entre eles”.

O tempo é uma grande escola que nos ensina a viver. Com o passar dos anos, vamos nos tornando mais serenos e a não ser tão exigentes conosco e nem com as demais pessoas. Percebemos que a nossa pressa não apressará nada, uma vez que o tempo tem a sua dinâmica própria. Marx até nos alertava que “a nossa pressa histórica não apressará o momento histórico”. Tudo a seu tempo. Entretanto, mesmo sendo assim, não podemos ficar sentados na janela, esperando o tempo passar. A nossa ação faz acontecer o momento histórico. Bem fizeram Almir Sater e Renato Teixeira na sua canção “Tocando em frente”: “Ando devagar porque já tive pressa. E levo esse sorriso Porque já chorei demais”

A vida vai nos proporcionando os desafios. Todos nós os temos pela frente. Nenhum de nós passa por esta vida sem ter desafios a enfrentar. Cada qual com os seus problemas. Cada qual com a sua cruz. Lembrando que nunca a nossa CRUZ é maior do que a nossa força e a capacidade para carregá-la. Mesmo diante de todas as dificuldades, nunca devemos desanimar, afinal Deus sabe dos nossos limites. De cabeças erguidas e sempre resistentes, tocando a nossa vida em frente.

Jesus também tinha as suas cruzes. Uma delas foram os fariseus, que viviam sempre o importunando. No texto do Evangelho de hoje, por exemplo, eles estão questionando Jesus o porquê de os seus discípulos não jejuarem. “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?” (Mc 2, 18) Não nos esqueçamos de que o jejum caracterizava o tempo de espera. Entretanto, esse tempo terminou. Chegou a hora da festa do casamento, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e os homens. E Jesus é o Filho de Deus que está com eles, portanto, não há razão jejuarem, uma vez que o “noivo” está com eles.

Entre nós também há os fariseus de hoje. Cada um com as suas preocupações e muitas vezes se apegando às coisas de menor sentido e deixando de lado a essência da vida. Pessoas que sabem muito bem “adorar o Santíssimo” nas igrejas, em atitudes piedosas, cheias de rigor, mas não sabem e não conseguem ver Deus presente na pessoa daqueles que sofrem pelas ruas. Até os discriminam. Nas nossas comunidades há centenas destes fariseus. São cumpridores exímios dos preceitos religiosos. Pessoas que comungam o “Corpo de Cristo”, mas nãos comungam da luta do povo sofredor, massacrados pelas estruturas injustas de nossa sociedade. Estes não diferem em nada daqueles fariseus do tempo de Jesus.

“Deus é mais simples que as religiões”, dizia-nos o poeta Mário Quintana. Esse mesmo Deus que se faz revelar pela presença do Filho entre nós. E Jesus quebra todas as estruturas paradigmáticas de seu tempo, mostrando que a forma como as lideranças religiosas viviam, não levava em consideração a vida dos pequenos. Ao contrário dos fariseus, Jesus propõe aos pequenos uma grande possibilidade de realização: “Venham para mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso. Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Porque a minha carga é suave e o meu fardo é leve.” Mt 11 28-30) Ou seja, Jesus tira a carga pesada que os sábios e inteligentes haviam criado para o povo. Em troca, ele traz novas relações e um novo modo de viver na justiça e na misericórdia.