Os indígenas e a pandemia

Estamos vivendo uma profunda crise sem precedentes na história da humanidade. No mundo todo já são mais 185.000 mortos, vítimas da epidemia do novo coronavírus. No Brasil já beira a 4.000 mortos. A velocidade da pandemia é assustadora, aumentando dia após dia, deixando cientistas, médicos e especialistas preocupados, pois, segundo a estimativa, serão milhares de óbitos nos próximos dias aqui no Brasil.

Se para a população não indígena, esta situação é assustadora, coisa boa não está reservada às populações dos povos originários. Dados do Ministério da Saúde dão conta de que há no Brasil hoje cerca de 52.995 casos confirmados. Segundo o ministério, nos últimos dias foram adicionadas mais 3.503 pessoas infectadas, um aumento de 7,1% em relação ao dia anterior. Evidentemente que tudo isso nos assusta muito, principalmente porque, grande parte das pessoas, ainda acreditam que este vírus não chegará até elas.

Com os indígenas, a situação talvez seja um pouco pior. Apesar deles estarem vivenciando rigorosamente o isolamento social, neste período de quarentena, em suas respectivas aldeias, são ameaçados diuturnamente pelos invasores de suas terras – madeireiros, garimpeiros, grileiros. Por exemplo, o primeiro yanomami a morrer com a covid-19, foi um jovem de apenas 15 anos de idade, que contraiu o vírus em área invadida por um garimpo, nas terras de seu povo.

Apesar de todo esforço da SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena, que tem orientado os profissionais de saúde, com ações especificas, desde janeiro, todos os 34 DSEIs – Distrito Sanitário de Saúde Indígena, estão em estado de alerta. Todos temos ciência e os indígenas também de que, se essa pandemia chegar às aldeias indígenas, será um caos total, pois as doenças respiratórias são as mais mortíferas entre os povos indígenas, dada a forma de vida que eles têm, comunitária e tradicionalmente várias famílias moram em casas comuns, facilitando assim o contágio.

Como me disse esta semana, um dos professores e pajé da aldeia Xavante, numa das nossas conversas, via Whatsapp: “nas nossas doenças, nós damos um jeito, mas as doenças de vocês nos matam, porque o nosso organismo não é igual ao de vocês.” Por este motivo, várias entidades como CIMI, OPAN, ISA, dentre outras, tem pedido insistentemente uma atenção especial do governo brasileiro, para com os povos indígenas. Mas isso é pedir demais para quem não está nem aí para a hora do Brasil. Se não tem preocupação nem com a população em geral, vai ter com indígenas?

Na realidade, em meio uma crise da pandemia a nível mundial, nós brasileiros, vivemos também outras crises de não menos preocupação. Enquanto as lideranças mundiais, estão tentando salvar vidas, traçando planos para o enfrentamento da pandemia, o nosso paladino dos desavisados, está em outra órbita, preocupado que está com os seus “bad boys”; substituindo pessoas do escalão; querendo construir uma economia sobre o cadáver das pessoas. Não é atoa que o seu mandato necrófilo, segue descendo ladeira abaixo, desgovernado.

Não basta os indígenas se cuidarem e manterem-se em isolamento. É necessário que ações ocorram, no intuito de preservar as suas terras, suas aldeias da invasão. Neste atual governo tem sido uma sistemática cada vez maior a invasão destes territórios. Não somente as ações do Governo Federal tem contribuído para isso, mas também as suas falas, no tocante aos povos indígenas. Infelizmente, o presidente do Brasil não tem noção do quanto significa para estes povos, uma fala mal dita na mídia. A repercussão desta fala se dá na ponta, com as pessoas mal intencionadas, interpretando-as ao seu bel prazer, usurpando cada vez mais os espaços reservados aos povos originários. Neste momento, a invasão é a de menos, o pior é aquilo que com ela vem junto o vírus mortal.