Pachamama

Primeiro dia da semana. Primeiro domingo do mês de agosto. Uma manhã de um friozinho maneiro, como costumam dizer os jovens. Estamos atravessando o inverno, que teve o seu início no dia 21 de junho e terminará em 22 de setembro, com o equinócio da primavera. Neste período, as árvores de desfasem de sua folhagem, como forma de enfrentar os rigores da estação. Meu quintal está forrado de folhas. Todos os dias, lá estão elas, que são recolhidas para a compostagem. Segundo os mais entendidos, é no dia mais frio do ano que os Ipês colorem as nossas vidas com as suas lindas flores. Nas flores estão as sementes que darão continuidade a espécie. A Ilha do Bananal está revestida com a beleza delas.

Me lembrei de Rubem Alves, numa das palestras que nos ministrou em Campinas. O psicanalista, educador, teólogo, escritor Rubem Azevedo Alves (1933-2014), estava possesso com a atitude de seus vizinhos. Segundo ele, alguns moradores de sua rua em Campinas (SP), se reuniram para solicitar à prefeitura que cortasse as árvores, pois elas provocavam muita sujeira, com as folhas que caiam pelo chão. Para eles, não importava a beleza das flores. Dentre estas, estavam as lindas azaleias, que encatam os olhos de todos nós mortais.

Lembrando que no dia primeiro de agosto se comemora a Pachamama. Divindade máxima da cultura dos indígenas andinos. Ela representa a luta e a resistência desses povos originários, na sua busca permanente pelo “Bem Viver”. Reverenciam através desta divindade, o profundo respeito à Mãe Terra, promovendo o equilíbrio entre ela e os demais seres que habitam a Casa Comum. A culto à Pachamama é o mais importante nos territórios andinos, como herança dos povos Incas. Nesta sua crença, a divindade maior está presente em meio às pessoas, não apenas através do solo ou da terra geologicamente falando, mas em toda a totalidade que a terra pode representar; provendo a vida, a sustentabilidade, a assistência e tudo o que for necessário para manter o cosmos em perfeita harmonia.

Aqui, me recordo de uma das expedições que fizemos no Território Indígena (TI) de Marãiwatsédé. Território sagrado do Povo A’uwé Uptabi (Xavante). Os professores indígenas, queriam que eu ministrasse uma aula para os alunos, durante o percurso de uma das expedições que fizemos. Sugeri que os anciãos da aldeia, se encarregassem de tal tarefa. Foi uma senhora aula, quando todos nós ali presentes, ouvíamos atentos e boquiabertos, as explicações, conduzidas por aqueles sábios homens e mulheres, descrevendo em sua língua materna, o antes e o depois da ação avassaladora dos latifundiários, em relação àquele território sagrado. A Mãe Terra é um espaço sagrado para os povos originários. Eles conservam em si a mesma concepção originária quéchua, que deu nome à divindade Pachamama, onde “pacha” abrange conceitos como o tempo e o espaço, a terra, o divino e o sagrado; “mama” refere-se à figura da maternidade, daquela que traz em seu ventre o sopro divino da vida.

Defender a Mae Terra, deixou de ser uma tarefa de ambientalistas ou de comunistas, como preferem dizer alguns incautos. Esta é uma das tarefas de todos e de cada um de nós, pois nos atinge onde quer que estejamos. Alguns desavisados entre nós ainda acham que esta é uma tarefa para quem está mais diretamente ligado, como nós aqui na Amazônia. É uma luta pela sobrevivência do Planeta. A floresta precisa manter-se de pé, diferentemente do que pensam grileiros latifundiários, pecuaristas, madeireiros, garimpeiros, a turma do motosserra, que saem derrubando tudo, matando a flora e a fauna, interessados que estão na terra como um bem de capital de seus negócios.

Enfim, estamos iniciando o mês de agosto. Para a Igreja Católica, este é o mês vocacional. Este primeiro domingo é dedicado à vocação sacerdotal, fazendo referência ao sacerdote francês São João Maria Vianney, o Cura D’Ars (1786-1859), patrono de todos os sacerdotes. Ocasião em que a Igreja pede orações pelas vocações sacerdotais. Se bem que ultimamente, ao invés de rezarmos pelas vocações sacerdotais, precisamos rezar mais pela conversão dos nossos padres. A formação alguns destes, tem sido muito deficitária. Padres mais identificados com o símbolo de poder de suas vestimentas clericais, que homens comprometidos com as causas populares, atuando no meio dos mais pobres. Colecionam clérgimas alinhados e casulas e não vestem sequer as roupas da luta dos pobres de suas comunidades.

A Congregação Redentorista celebra hoje o dia de seu fundador, o napolitano Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787). Sem dúvida um homem de Deus, identificado com às causas dos pequenos de seu tempo. Bispo e doutor da Igreja, fundou a congregação para cuidar, com compaixão, dos cabreiros, pobres que moravam nos campos. Um carisma revolucionário para época. Como toda congregação, depois de algum tempo, necessita fazer uma releitura da proposta originária de seus fundadores, com o intuito de dar respostas aos desafios de ser igreja hoje, comprometida com a causa dos mais necessitados, fazendo jus ao carisma fundante.