Pacto pela vida

Dia 21 de outubro. Para a Igreja Católica e aquelas que compõem o ecumenismo, hoje é o Dia Nacional dos cristãos leigos e leigas. Estas pessoas tão fundamentais para a vivência da fé e a caminhada de nossas comunidades. O lindo cartaz deste ano trás dizeres muito significativos. “Testemunho e profecia a serviço da vida”. Com uma citação do profeta Isaías: “Eu vos chamei a serviço da justiça” (Is 42, 6). Se dirigindo aos leigos e leigas, o Papa Francisco diz o seguinte: “Eles e elas estão na linha de frente da vida da Igreja. Necessitamos de seu testemunho sobre a verdade do Evangelho, e de seu exemplo ao expressar sua fé com a prática da solidariedade.”

Apesar da ênfase dada por Francisco à estes personagens fundamentais na história da Igreja, infelizmente ainda não são devidamente valorizados, na caminhada de nossas comunidades. Alguns bispos e padres, até torcem o nariz quando tem que lidar com a atuação dos leigos nas comunidades em que estão à frente. São relegados a seres de segunda categoria. Tratam aos leigos com a primeira definição que conhecemos, ou seja, como aquelas pessoas que estão por fora, e não possuem conhecimentos específicos em determinado assunto. Triste constatação!

Uma das coisas que mais me fascinou, na caminhada de nossa igreja aqui da prelazia de São Félix, foi atuação dos leigos e leigas que por aqui passaram. Muito vivos e atuantes. Pedro fazia questão que nas comunidades de agentes de pastoral, houvesse a presença também de pessoas leigas. E o mais interessante é que alguns destes, eram pessoas ateias, agnósticas. Mas nem o fato de não acreditarem em Deus, os impediam de fazer parte da equipe de pastoral e desenvolvessem seus trabalhos normalmente. Coisas da cabeça revolucionária de Pedro. Para ele, uma das funções do agente, era a busca incessante pelo Reino.

Nunca devemos nos esquecer que, no dia de ontem (20), há um ano, estava sendo assinado nas Catacumbas de Santa Domitilla, em Roma, durante o Sínodo para a Amazônia, o Pacto pela Casa Comum, em busca de uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana. Quanto desafio se propôs ali naquele momento para a caminhada de uma igreja que quer ser presença viva do Ressuscitado em meio ao povo sofredor. Trata-se do mesmo pacto que havia sido celebrado no encerramento do Concílio Vaticano II, em 16 de novembro de 1965, quando um grupo de bispos, liderados por Dom Helder Câmara, tiveram a feliz ideia de construir uma Igreja utópica, servidora e pobre.

A vida das pessoas mais pobres tem a primazia frente a um contexto, onde impera a morte, através de uma política assentada na necrofilia. A vida em primeiro lugar alertou-nos o Grito dos Excluídos de 2020. E ainda completou, apontando os pilares básicos para uma vida de maior dignidade para os mais vulneráveis: TRABALHO, TERRA, TETO e PARTICIPAÇÃO. Basta de miséria e abandono dos pequenos de Javé.

Ser igreja viva e atuante em meio às estruturas de morte. Ser presença viva do Ressuscitado, junto aos crucificados da história. Sabemos que nem tudo é alegria nesta triste pandemia. Enquanto igreja, somos chamados para organizar e estruturar a esperança. Esperança que renascerá quando nos propusermos na busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Numa sociedade nova em que seremos desafiados a globalizar a solidariedade. Temos um compromisso com a vida e o bem comum das pessoas, como forma de construir entre nós o Reino querido por Deus. O nosso pacto é pela vida. Vida em primeiro lugar! Vidas pela vida! Vidas pelo Reino!

Não há como falar da vida sem falar de uma amplitude maior, que envolve todos os demais seres que habitam o planeta. A nossa Casa Comum está sangrando e agonizando. Por isso a nossa preocupação tem a ver com a ecologia integral a qual se refere o nosso papa Francisco. Através do nosso pecado ecológico, estamos dilacerando com as possibilidades de vida feliz na nossa Casa Comum. A natureza está clamando por vida. “A natureza está cheia de palavras de amor; mas, como poderemos ouvi-las no meio do ruído constante, da distração permanente e ansiosa, ou do culto da notoriedade? (Papa Francisco – Laudato Si 225)