Eu estou muito cansado. O meu coração bate entristecido em meu peito. Vivi ontem o meu dia de calvário. Foi um dos piores dias dessa minha jornada pela vida. Passei o dia inteiro de ontem, atendendo telefonemas de pessoas, preocupadas com a morte de nosso bispo Pedro. Ligações daqui do Brasil e algumas de fora. As pessoas não acreditavam que Pedro tivesse realizado a sua páscoa. Tudo por causa de uma pessoa, com a sua infeliz ideia de fabricar mentiras, dando como certa a morte deste nosso pastor. E nós aqui surpreendidos com esta tal notícia. Mataram Pedro!
É impressionante como algumas pessoas dentre nós, se comprazem em disseminar notícias falsas. É de uma maldade sem limites, que nos surpreende. Isso nos faz acreditar, que as pessoas são capazes de odiar na mesma proporção que amam. Às vezes chego a acreditar, que o poder do ódio é infinitamente superior a capacidade que tais pessoas tem de amar os seus semelhantes. Neste caso de Pedro, noticiaram o dia, a hora e o lugar da sua morte. Com tanta certeza que eu cheguei a pensar: meu Deus será que sou o único que mora aqui em São Félix que não sei da morte de Pedro!?
Iniciando o mês vocacional, ontem foi 04 de agosto. Neste dia, é celebrado o Dia do Sacerdote. A Igreja aproveita dos festejos de São João Maria Vianney, padroeiro de todos os sacerdotes, para rememorar a caminhada dos muitos padres entre nós. Esta data é comemorada desde 1929, quando o pelo Papa Pio XI, instituiu o Dia do Sacerdote. Nem tive como comemorar, apesar das muitas felicitações recebidas, de pessoas queridas, que me acompanham nesta minha missão peregrina, lutando pela causa dos povos indígenas.
A minha ordenação ocorreu no dia 03 de dezembro de 1989. Família toda reunida e em festa. É um dos dias mais importantes para aquele que passa por este processo. Indescritível a sensação que o ministro ordenado vivencia naquele momento tão especial de sua vida. Um filme passa pela cabeça e coração do novo padre. Também uma responsabilidade imensa, recai sobre os ombros do presbítero, assim que as mãos impostas do bispo ordenante sobre as nossa cabeça, pronuncia uma frase muito s marcante: “TU ÉS SACERDOTE PARA SEMPRE, SEGUNDO A ORDEM DO REI MELQUISEDEC!” (Hb 7, 17)
Ah se todo sacerdote tivesse a verdadeira dimensão/compreensão desta frase paradigmática! Entenderiam que ser padre, exige muito mais do que a função de um mero celebrante da Eucaristia. Preso numa sacristia ou nos trâmites burocráticos de uma paróquia, engolido pelas preocupações clericais, como mero funcionário do sagrado. Perceberiam que ser padre é algo muito mais envolvente do que o estacionar-se numa zona de conforto e, dali se especializar em ditar conceitos morais e julgamentos daqueles que, segundo a sua pobre visão, não seguem os preceitos evangélicos.
Ser padre é ser pai! É estar aberto para seguir as pegadas de Jesus aqui na terra. Sendo um exemplo de vida e entrega, à causa dos pequenos e lascados da história. Buscando no dia a dia de sua vida, ser uma pessoa solidária e comprometida com a construção do Reino de Deus aqui e agora. Uma pessoa humilde que saiba primeiro viver no seu cotidiano, aquilo que está querendo que as demais pessoas o façam. O sacerdócio, antes de ser um privilegio, tem que ser antes de tudo um serviço à causa dos empobrecidos. O sacerdote precisa estar ciente daquilo que fora dito pelo próprio Jesus na narrativa de Mateus: “O maior de vocês deve ser aquele que serve a vocês.” (Mt 23, 11)
Conheci o “Padre Pedro” pessoalmente em 1991. Na mesma ocasião em que me convidou para vir para o Araguaia. Assim que cheguei, em 1992, e embrenhei-me pelo sertão, pela floresta de Mato Grosso, percebi que era assim que o povo simples chamada o bispo Pedro. Já o conhecia pelos seus escritos, poemas, canções, mas trabalhar ao lado do meu modelo de sacerdote/bispo, é uma experiência que todo padre utópico sonhador desejaria. Seu exemplo de vida sempre falou mais alto para mim. Um homem de Deus! Coerência e fidelidade se mesclam numa vida simples de alguém que fez a entrega radical de sua vida, pelo evangelho do Ressuscitado. Uma testemunha fiel, até mesmo nestes momentos em que, doente e aos 92 anos, vive o seu martírio em vida. Viva o padre Pedro! Viva o bispo Pedro! Estamos todos(as) rezando por ti, nosso eterno pastor. Como diz a canção, lutar não foi em vão!