Paz

Esse, talvez seja o grande tema de hoje. O tema da PAZ. Nunca a paz foi tão desejada pelas pessoas. A inquietude perturba as nossas vidas. Por mais que não queiramos, vivemos dias de ausência de paz. Na liturgia de hoje nós vemos Jesus falando para os seus discípulos, mas parece que ELE está dizendo à nós hoje estas palavras para também nos confortar. Eu deixo para vocês a paz, eu lhes dou a minha paz. A paz que eu dou para vocês não é a paz que o mundo dá. Não fiquem perturbados, nem tenham medo (Jo 14, 27)

Todavia, a paz não pode ser uma palavrinha mágica. Ela é feita de ações concretas. Ela é, antes de tudo, FRUTO DA JUSTIÇA. Numa sociedade desigual e marcadamente constituída no acumulo e na riqueza nas mãos de alguns, dificilmente teremos a paz que desejamos. Só para ilustrar esta desigualdade, sabemos que 1% da população, brasileira, possui 49% das terras no Brasil. E por causa desta desigualdade estrutural, o Brasil se transformou numa grande periferia de pobres. Lutar pela paz é LUTAR PELA JUSTIÇA!

De alguns anos para cá, passamos a conviver também com uma estrutura de ódio, presente nas pessoas. São contendas, divisões, contaminadas pelo ódio. As pessoas não conseguem mais conversar sem antes agredir, às vezes, só pelo fato da outra pessoa pensar diferente de mim.

No século oitavo a. C. viveu um profeta de origem humilde, de ascendência rural. Estamos falando do profeta Amós, que foi, talvez, quem mais bateu nesta tecla da paz que é fruto da justiça. “Vocês vendem por prata o justo, e por um par de sandálias o pobre” (Am 2, 6). Em outras palavras: “Vocês recebem dinheiro por fora (suborno) para condenar o inocente e estão vendendo os pobres como escravos por não terem eles como pagar a dívida irrisória (“um par de sandálias”). De tanto falar estas verdade todas para a sociedade daquela época, foi convidado a sair da cidade, pois eles jaó não estavam aguentando mais ter que ouvir aquelas palavras tão duras.

Etimologicamente falando, a palavra para designar a Paz é SHALOM, que é um termo hebraico para “PAZ”. Se bem observarmos, lá, no Antigo Testamento, esta palavra queria significar, basicamente, ser JUSTO, por meio da SAÚDE de qualidade, PROSPERIDADE na vida, BEM-ESTAR social geral e, enfim, manter um bom relacionamento entre a pessoa e o próprio Deus. São as condições necessárias imprescindíveis para que cada pessoa pudesse ter a sua vida assegurada por alguns direitos básicos, que são inerentes ao ser humano.

Hoje é o dia do PROFISSIONAL DE SAÚDE. Curiosamente, sou surpreendido pelo relato de alguns destes profissionais, de que está faltando máscaras, para que possam desenvolver, com segurança, os seus trabalhos. As tais máscaras que deveriam ser utilizadas e descartadas após 12 horas de uso, estão sendo usadas por 15 dias consecutivos. Como falar de paz para estes profissionais, se não lhes damos as condições básicas para exercer a sua profissão com segurança, num momento tão dedicado como este? Além de não prover-lhes a paz, ainda os agredimos quando vão para às ruas, reivindicar melhores condições de trabalho.

Cabe a cada um de nós, no exercício da sua CIDADANIA, lutar pela paz. Não a paz IDEALIZADA, ROMÂNTICA, mas a paz realista, que brota de relações mais AMOROSAS e de COMPROMISSO de uma vida melhor para TODOS. Esta é a paz que precisa acontecer entre nós, com a participação de cada um, na construção de uma sociedade mais JUSTA, SOLIDÁRIA e FRATERNA. Não precisamos de ARMAS e nem de arminhas. As nossas armas são a nossa VONTADE DE LUTAR e de colocar a vida como instrumento de TRANSFORMAÇÃO.