Paz inquieta

Vigésimo domingo do tempo comum. Já estamos em meados de agosto, o mês dedicado às vocações. Hoje celebramos o Dia dos Pais. Ser pai, uma vocação, mais do que uma simples opção. Ser progenitor de vidas, contribuindo com o Criador no seu projeto de levar a vida à todos os seus. Uma combinação perfeita no mistério da semente semeada no ventre materno, gestando a vida. É muita responsabilidade ser co-autor da vida, mesmo que alguns dos pais, não tenham esta compreensão. Conheço algumas mães que são também pais. São mais pais do que muitos pais que vemos por aí afora. Deus também é Pai. É mais Mãe do que Pai.

Neste dia 14 de agosto é também comemorado o Dia de Combate à Poluição. Felizmente, aqui pelas nossas bandas, não temos ainda a poluição que toma conta de grande parte dos centros urbanos. Todavia, a nossa tristeza maior fica por conta da fumaça e de fuligem provocadas pelas grandes queimadas. Neste atual momento, por exemplo, a Ilha do Bananal arde em chamas. Fogos provocados pelos criminosos pecuaristas, que ateiam fogo no capim para que nasça outro no período das chuvas. Isto porque a maior ilha fluvial do mundo (19.162 km²) é tombada como patrimônio histórico, o que não quer dizer muita coisa para os destruidores do meio ambiente. “Meio ambiente é coisa de esquerdista”, falam os negligentes insensatos.

Vivemos dias difíceis, mas tudo isso vai ter um fim. Nossa esperança é maior que as nossas decepções. Nosso esperançar caminha a passos largos, irmanada com os nossos sonhos. O esperançar de Deus se faz presença viva em nós, através de seu Filho que veio ser um de nós. Cada passo dado nosso, vai em direção a esta perspectiva do encontro do Deus-Conosco. Desesperar jamais! A luz no fim do túnel está acesa e ilumina o nosso caminhar. Vencer a tristeza se constitui num dos nossos principais desafios. Deus é o Senhor da história e tem a rédeas dela sob suas mãos. Como bem sintetizou o nosso Papa Francisco: “A tristeza é uma das piores doenças do ser humano. A tristeza corrói o coração, opaca a alma e consome nossas energias. Nunca perca a fé e as esperanças. Quando mais longe acha que Deus está contigo, é quando mais perto está ou leva-te carregando em seus braços”.
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A liturgia deste Dia dos Pais nos traz, mais uma vez, o texto do evangelista São Lucas. No diálogo estabelecido entre Jesus e os seus discípulos, vemos uma das falas mais contundentes, ditas pelo próprio Mestre. Jesus dando-nos a ideia de que está querendo incendiar as nossas relações: “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas”. (Lc 12, 51-52) A primeira vista, somos levados a concluir que Jesus veio espalhar a divisão entre nós. Porém, assim que entramos na dinâmica do texto, temos uma compreensão melhor do que, de fato, Jesus quis dizer com estas suas palavras aparentemente duras e cheias de contendas.

A missão de Jesus é muito clara e objetiva. Ele veio nos revelar o Pai e o seu Projeto para toda a humanidade. Desde o seu batismo até a cruz, Jesus tinha como objetivo maior, anunciar e tornar presente o Reino entre nós. Contudo, para que o Reino aconteça, é necessário entrar em choque com as concepções predominantes da anti-vida na sociedade. Desta forma, para fazer a adesão ao projeto de Deus revelado por Jesus, requer que tomemos a firme decisão e isso provoca divisões até mesmo no relacionamento familiar. De um lado estão aqueles que são pela vida. De outro os partidários da morte que levam o sofrimento, a dor, a decepção, a fome, a miséria, o desemprego, a mentira, a enganação. Cabe a cada um de nós decidirmos de que lado queremos estar.

Ser quente o frio. Nada de ficar em cima do muro. A neutralidade não existe em lugar algum. A pretensa neutralidade é a opção dos negligentes, indiferentes e covardes, que não querem se envolver. Segundo a concepção do poeta e escritor italiano Dante Alighieri (1265-1321): “No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise.“ Quanto a isso, o próprio Jesus também nos adverte: “Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”. (Apoc 3, 15-16) Talvez por este motivo o nosso bispo Pedro tenha escrito o seu poema “Dá-nos a paz!”, que assim começa ele: “Dá- nos, Senhor, aquela paz inquieta. Que denuncia a paz dos cemitérios. E a paz dos lucros fartos. Dá-nos a paz que luta pela paz”.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.