Paz na terra

25 de dezembro! Segundo a cristandade, hoje é o Dia de Natal. Num lugar simples e inesperado, Deus se faz vida. Independente de datas, aqui e ali, o importante é que Deus cumpre a sua promessa e faz nascer entre a humanidade, aquele que vai mudar toda a história. O Verbo se fez humanidade, vindo morar definitivamente no meio de nós, sendo um de nós.

A narrativa bíblica que chega até nós, através dos Evangelhos, acerca do nascimento do Deus-Menino, mais do que uma compreensão histórico-geográfica, quer ser uma hermenêutica (interpretação) teológica: o tempo de Deus (Kairós) rompendo a resistência histórica do tempo dos homens (kronos). A esperança do sonho de Deus, vindo até nós por meio de uma frágil e indefesa criança.

Natal é Deus caminhando pela estrada da subversão. Ele que entra na história, através de uma criança, nascida de um casal pobre da periferia, que sequer encontra lugar para que esta criança possa nascer com dignidade. Menino que não nasce em meio a riqueza dos palácios e é rejeitado pelos grandes e poderosos, porque eles temem a fragilidade que se organiza em amor, partilha e solidariedade.

Jesus que nasce na contramão da história e experimenta na pele a dureza da desigualdade. Não havia lugar lá e também não há lugar aqui, para Jesus nascer, como nosso bispo Pedro expressou em um de seus escritos: “Outras noites e outros dias é na rodoviária ou na estrada ou na calçada humilhante ou nas favelas e cortiços ou num barraco de lona quente por esses mundos do meu Deus e do latifúndio do diabo”. A vida sendo acolhida em meio a ralé.

É Natal, mas Jesus continua sem lugar para nascer. Ele ainda não nasceu. Seja pela estrutura desigual e desumana de nossa sociedade; seja pela nossa incapacidade de acolher o projeto libertador do Reino que exige de nós um coração aberto e misericordioso, cheio de compaixão, movido a gestos de solidariedade, partilha e comunhão; seja porque a nossa fé se resume ao cumprimento de preceitos devocionistas no interior dos templos, de quem “comunga” Jesus, mas não comunga o Projeto do Reino e voltam para as suas casas de “consciência” tranquila.

Jesus nasce a cada dia e a todo momento naqueles e naquelas que fazem de suas vidas, morada de Deus: amar, servir, doar e compartilhar. Naqueles e naquelas que aceitam seguir o conselho do apóstolo Paulo quando diz em uma de suas cartas: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo”. (Filip 2,5) Abrindo o coração em generosidade, pleno de amorosidade para com os que mais necessitam, os pobres e marginalizados.

Muitos dos nossos cristãos ainda não entraram nesta dinâmica do Natal de um Deus que vem visitar o seu povo e morar com ele. O Natal do consumo exagerado, do festim sem proporção e de um personagem vestido de vermelho roubando a cena, no lugar do espaço teológico da encarnação do Verbo. Muitos de nós cristãos ainda não se libertaram do “natal do paganismo” , introduzido em suas vidas fazendo morada definitiva em sua fé infantilizada. Coragem e esperança! Que o seu Natal não seja somente hoje, mas todos os dias, sendo a vida d’Ele nas vidas deles!

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.