Reflexão litúrgica: quinta-feira, 16/02/2022
6ª Semana do Tempo Comum
Na Liturgia desta quinta-feira, 6ª Semana do Tempo Comum, veremos na 1a Leitura (Gn 9,1-13) que, por meio do dilúvio que durou quarenta dias e quarenta noites, Deus purificou a humanidade corrompida. O Dilúvio foi o grande batismo de todo o Universo, que renasceu das águas para estabelecer uma nova Aliança. Como no princípio, Deus quer entrar em relação com o ser humano e lhe oferece sua aliança. Essa aliança deve ser universal (arco-íris) e eterna. Sabemos que Deus garante a vida para todos e não romperá esse pacto, mas nós, seres humanos, observaremos este pacto? Doravante, qualquer destruição que aparecer na história humana será devida ao rompimento da aliança pelos seres humanos e não por Deus.
No Evangelho (Mc 8,27-33), vemos que Jesus está a caminho de Jerusalém e, então, pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Quais foram as respostas das multidões, de Pedro (Lideranças) e da elite no poder (anciãos, doutores da Lei, chefes dos sacerdotes)? Conforme cada visão de Deus, resultará uma prática de vida, uma opção, um testemunho. Sabemos que o nome de Deus está ligado a um Projeto (CIC 203-213). Deus se revela, se auto define aos homens. Não é o homem que cria (define) Deus (como era o caso dos gregos e romanos). “Eu vim ver vocês e como estão tratando vocês aqui no Egito. Eu decidi tirar vocês da opressão egípcia e levá-los para uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3,16-17). “Eu vi a miséria do meu povo… ouvi seu clamor… conheço seus sofrimentos… desci para libertá-lo.” (Ex 3,7-10). “O que vou responder?… Eu Sou aquele que Sou… este é meu nome” (Ex 3,13-17).
Deus, ao se revelar, mostra sua proposta (Projeto) para o homem e a sociedade. Este Projeto, Deus revelou, de maneira especial, por meio dos profetas no Antigo Testamento. Podemos ilustrar este Projeto com o exemplo do texto de Isaías 65, 17-25, que diz:
– haverá novo céu e nova terra;
– não haverá mais choro e clamor;
– não haverá morte prematura;
– construirão casas e nela habitarão;
– plantarão e comerão seus frutos;
– ninguém gerará filhos para viverem na humilhação;
– haverá harmonia entre o homem e a natureza.
Jesus, ao se revelar (em comunhão com o Pai e o Espírito Santo), continua com o mesmo Projeto de vida e dignidade para todos (Lc 4,16-21). Jesus confirma esse Projeto quando diz “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Esse Projeto se concretizará quando atingirmos a mentalidade “crística”, isto é, “quando Cristo for tudo em todos” (Cl 3, 11).
Em Mateus 9,35-38, Jesus estava comprometido com um Projeto de libertação integral do ser humano, por isso vai ao encontro dos mais excluídos (povoados, periferias, margem). Lá, Ele vê melhor a realidade, isto é, a condição das pessoas: cansadas, abatidas como ovelhas sem pastor (sem rumo, sem horizonte etc.).
Então, Ele chama mais pessoas para este Projeto. A Igreja, como continuadora de sua missão, tem aqui sua orientação, lugar social para a atuação política. A missão de Jesus e da Igreja é salvar a pessoa na sua totalidade. Sua atuação na política é sempre profética; quando seu compromisso é com os empobrecidos, não se atrela aos poderes deste mundo.
Para que esse Projeto libertador se concretize na América Latina e no Caribe, “os discípulos e missionários de Cristo devem iluminar com a luz do Evangelho todos os âmbitos da vida social. A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exige atenção pastoral voltada aos construtores da sociedade. Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte é devido à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais” (DA, 501).
Este projeto do Reino de Deus deve continuar na vida da comunidade: Mt 5,13-16 e 1Pd 2,9-12 “Vocês são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para resgatar seu Projeto”. Uma necessidade, um chamado na história.
Qual a função de Pedro (Lideranças)?
Pedro somos todos nós: somos capazes do melhor e do pior ao mesmo tempo.
Do pior: só aceitamos Jesus quando Ele atende nossas necessidades mais urgentes, quando queremos um Jesus de sucesso, de espetáculo, sem cruz, messias, rei poderoso, triunfante e não servo sofredor. Quando Ele exige nosso compromisso, desaparecemos. Enfim, queremos mudar Jesus e defini-lo conforme nossos caprichos.
Do melhor: quando damos continuidade a seu projeto. “Tu és o Messias, O Filho do Homem” (estar consciente, pés no chão, comprometido, abraçamos a nossa condição humana).
Não lutar pela justiça social é profanar o nome de Deus. O resumo da pessoa amada é o seu nome! Basta ouvir, lembrar ou pronunciar o nome, e este lhe traz à memória tudo o que a pessoa amada significa para esta pessoa. Ser povo de Javé significa ser um povo em que não há opressão como no Egito; onde o irmão não explora o irmão; onde reinam a justiça, o direito e a verdade: onde a lei dos dez mandamentos é observada; onde o amor ao próximo é igual ao amor a Deus; onde o povo vive e celebra a sua fé, e louva a Deus pelas suas maravilhas. Esta é a mensagem central da Bíblia; é o apelo que o nome de Deus faz a todos aqueles que querem pertencer ao seu povo.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.