Pedro vive

Meu coração está melancólico nesta manha de domingo (07) Bateu uma saudade forte de nosso bispo profeta Pedro. Pã’ãzé di ahâ di – Muita saudade na língua do Povo A’uwé (Xavante(. Queria rezar hoje no túmulo de Pedro, não fosse esta chuvinha intermitente que recai sobre o Araguaia, trazendo um clima de frio, não muito comum, principalmente nesta época do ano. Me fez lembrar da primeira canção que aprendi assim que cheguei ao Seminário Redentorista de Santo Afonso, em Aparecida (SP) , “Balada da caridade”

Papa Francisco fez mais uma das suas no dia de ontem. Segue ele fazendo história com os seus gestos e decisões. No dia de ontem (6), nomeou uma mulher, a freira francesa Nathalie Becquart, como subsecretária do próximo Sínodo dos Bispos, em 2022. Pela primeira vez em toda a história da Igreja Católica Romana, uma mulher ocupa tal posto. Também no Sínodo da Amazônia, um grupo de mulheres fez estréia nesta reunião, historicamente dominada por bispos. Dentre os 185 participantes. 38 mulheres se fizeram presentes ali. A diferença agora é que, além de ocupar o posto de subsecretária, terá também direito ao voto. Isto é inédito. Este é o “Papa do fim do mundo”, o “anti Cristo”, vocifera a ala ultraconservadora da Igreja. Dá-lhe Francisco!

Nosso poeta profeta Pedro, a estas horas, está batendo palmas para o nosso Papa. No entender dele, a Igreja é era demais masculinizada, clerical e patriarcal. Com o seu jeito de “fé revolucionaria e amor de revolução” dizia-nos sempre que, se houvesse maior participação das mulheres, com poder real de decisão na nossa Igreja, ela seria outra. Mais humana e menos sisuda e de maior solidariedade e amorosidade. Para completar o seu raciocínio, também nos afirmava sempre que, não foi atoa que o RESSUSCITADO fez questão de aparecer primeiro à uma mulher. Talvez a mais pecadora do grupo de seus seguidores, Maria Madalena. Por uma Igreja mais Madalena, insistia Pedro.

Que saudades temos deste nosso profeta! Que falta ele nos faz! Pedro, ao lado de Dom Angélico Sândalo Bernardino, foi quem me ensinou a ensaiar os primeiros passos no sacerdócio. Lembro ainda de uma das primeiras assembléias que participei na Prelazia de São Félix do Araguaia (1992). Ali, as mulheres falaram o bicho de Pedro, por causa de uma de suas posturas em relação às mulheres. Fiquei só esperando para ver qual seria a reação dele, diante do ocorrido. Assim que elas terminaram de falar, Pedro se colocou de joelhos, e pediu perdão a todas elas, afirmando que tal fato não aconteceria mais. Humildade e simplicidade ali tinham nome sobrenome.

Pedro era um bispo diferente de todos os que conheci. Um bispo que não se parecia com um bispo. Pedro era Pedro, único. No seu pastoreio à frente desta igreja povo de Deus, as mulheres exerciam de forma direta o seu protagonismo feminino e feminista. Elas não somente carregavam as comunidades nas costas, como também tinham amplo poder de decisão. Uma igreja que sabia acolher como ninguém. Pedro, um bispo subversivo, como ele mesmo manifestou neste seu poema:

Chamar-me-ão de subversivo
Eu responderei incisivo:
O sou. Pelo meu povo que luta,
Pelo meu povo que trilha apressado
Caminhos de sofrimento.
Eu tenho fé de guerrilheiro
E amor de revolução.

 

Hoje é um dia emblemático para o Povo Guarani. No dia de hoje, há 265 anos, era assassinado o guerreiro Guarani Sepé Tiaraju (1756). Ele foi um dos que combateu nos Sete Povos das Missões, na época da colonização portuguesa e espanhola, em 1750. Seu assassinato simboliza o etnocídio do Povo Guarani nas Missões Orientais. ′′Esta terra tem dono!” é a famosa frase dita por Sepé, ao resistir àqueles que pretendiam apropriar-se do território do Povo Guarani, e que ainda hoje continua a ecoar como bandeira de luta de todos os Povos Indígenas de Nuestra América. Pedro vive e Sepé Tiaraju também! Que o espírito guerreiro de luta de Sepé alcance a todos nós que ainda acreditamos e seguimos na defesa dos povos indígenas sempre ameaçados, pela força demoníaca do capital.