Pelo presente, vê-se o futuro, pelo presente, podem-se analisar as consequências futuras

Reflexão litúrgica: Terça-feira, 10/10/2023,
27ª Semana do Tempo Comum

Na Liturgia desta terça-feira, 27ª Semana do Tempo Comum, vemos na 1a Leitura (Jn 3,1-10), que no século IV antes de Cristo, o povo judeu era dominado e oprimido pela Assíria, país pagão, muito detestado por eles. Diante disso, muitos achavam que Nínive, capital desse país, deveria ser destruída. Pelo presente, vê-se o futuro, pelo presente, podem-se analisar as consequências futuras. Nínive corre perigo. Qual será o destino, o fim de Nínive? Deus se preocupa com o destino de Nínive, se preocupa com o destino das nações, se preocupa com o nosso destino. Nínive é cada um de nós, é o mundo em que vivemos, é o pecado que nos atinge.

Deus chama Jonas para ser o seu porta voz, Jonas terá uma missão: salvar os ninivitas. Qual método ele usará? O que ensinará? Mesmo com medo e cheio de limites, ele ensina com a vida e com a palavra os caminhos do Senhor. Proclama que a salvação é para todos. Os ninivitas acreditaram em Deus, tomaram consciência do poder de Deus e da necessidade de mudar e, então, Deus compadeceu-se deles.

A disponibilidade dos ninivitas em escutar os apelos de Deus e em percorrer um caminho imediato de conversão constitui um modelo de resposta adequada ao chamamento de Deus. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

No Evangelho (Lc 10,38-42), vemos que Jesus está na casa de Marta e Maria: duas mulheres, duas atitudes, uma acolhe e outra escuta, são duas atitudes complementares de ação (Marta) e contemplação (Maria); acolhida e escuta são duas atitudes fundamentais na vida cristã.

Jesus nos ensinou a buscar o Reino de Deus em primeiro lugar, este pode se manifestar na contemplação: ouvir e colocar em prática; mas também na ação: santificar a família, o trabalho e o mundo. O ‘altar’ do leigo são as realidades temporais, ali ele deve fazer o Reino acontecer.

Neste Evangelho, vemos que Jesus e Marta querem reconhecimento: Onde? Pela Palavra, na santa missa, nas pastorais e nas demais ações da Igreja, pois ali as pessoas estarão frente a frente, não viverão no anonimato, na solidão; as pessoas sentirão a proximidade, o afeto, a ternura. Mais do que providenciar coisas práticas, ali deverá ocorrer o relacionamento solidário e cada pessoa será um dom para o outro. “O ativismo, mesmo a serviço dos outros, corre o perigo de ser um serviço a si mesmo: autoafirmação à custa de quem é ‘objeto’ de nossa caridade. A superação do ativismo consiste em ver o mistério de Deus nas pessoas, assim como Maria o enxergou em Jesus, o porta-voz de Deus, o portador das palavras de vida eterna” (Pe. Johan Konings). Jesus não censurou Marta porque cuidava da cozinha, mas porque quer tirar Maria do ‘escutar’ para fazê-la se igualar a suas preocupações, servindo a si própria. Aqui podemos colocar a seguinte questão: Devemos alimentar o Senhor somente com nosso ativismo ou ser por ele alimentados? Quando participamos da Eucaristia, somos todos hóspedes e o Senhor nos oferece a melhor parte: Palavra e Pão: “Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

Mas temos que ter em conta, também, que, na sua pregação, Jesus ensina a apreciar o trabalho. Ele descreve a Sua própria missão como um trabalhar: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho” (Jo 5, 17). Jesus ensina aos homens a não se deixarem escravizar pelo trabalho. Eles devem preocupar-se, antes de tudo, com a sua alma; ganhar o mundo inteiro não é o escopo de sua vida (Mc 8, 36). Em Seu ministério, Jesus trabalha incansavelmente, realizando obras potentes para libertar o homem da doença, do sofrimento e da morte. Quando o ser humano fica preocupado e agitado por muitas coisas, corre o risco de negligenciar o Reino de Deus e sua justiça. O trabalho representa uma dimensão fundamental da existência humana, como participação na obra não só da criação, mas também da redenção. O trabalho pode ser considerado como um meio de santificação e uma animação das realidades terrenas no Espírito de Cristo. Mediante o trabalho, o homem governa, com Deus, o mundo, suscita aquelas energias sociais e comunitárias que alimentam o bem comum, a favor, sobretudo, dos mais necessitados, portanto, o trabalho não é só para uma grandeza de si mesmo, mas para o bem comum e a salvação de todos (Mt 25, 35-36).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.