Nada como uma chuvinha mansa pela noite afora para trazer-nos um dia fresquinho já pela manhã. O Araguaia está em festa com a chegada da chuva, recebendo as suas primeiras águas. A natureza agradece. Os pássaros cantam mais alegres. Amanhece o dia já ensaiando a sua sinfonia. Cada qual no seu tom e estilo próprio. Formam uma orquestra, brindando-nos com a sua beleza natural. Sou privilegiado por acordar com estes acordes. O dia começa mais leve.
No cenário político, os insensatos espertalhões, seguem politizando uma situação que é de saúde pública e direito do cidadão, da cidadã brasileira, quanto a obrigatoriedade da vacina. Fazem isto mesmo conhecendo o Artigo 196 da Constituição Federal de 1988 que é bastante claro: ”A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
O filósofo, físico e matemático francês do século XVII, René Descartes, com o seu “Discurso do Método”, estabelece algumas condições para que uma proposição seja verdadeira e certa. Na sua famosa afirmação “Penso, logo existo“, o seu racionalismo assegura-nos como clara e intuitivamente que ela é verdadeira pelo simples fato de que, para pensar, é necessário existir. Segundo ele, só pensa quem existe. Quem não existe não pensa.
Quis eu trazer presente esta discussão frente ao cenário que estamos vivendo atualmente. Neste sentido, peço licença ao Pai do Racionalismo para fazer um trocadilho com sua frase afirmando: “penso, logo insisto”. Tudo isso para demonstrar que, apesar de estarmos vivos e sermos pessoas racionais, o nosso pensamento vem sendo determinado por algumas condicionantes, que a meu ver, impede alguns de nós a ter o seu pensamento próprio. Pensam, mas com e pela cabeça dos outros e com os interesses deles embutidos.
Ter o seu próprio pensamento é o desafio maior e um exercício difícil de ser realizado. Pensamos, mas com o pensamento dos outros, principalmente com aqueles que dominam a área dos meios de comunicação, e que manipulam descaradamente a opinião das pessoas, sobretudo daquelas mais simples, que acabam aceitando as informações veiculadas como absolutamente verdadeiras. Quem já não viu as pessoas repercutindo tais informações e até mesmo reverberando-as?
A minha avó tinha uma frase que se encaixa perfeitamente neste contexto. Dizia ela: “parem de ser Maria vai com as outras”. Trata-se exatamente deste contexto. Muitos de nós, não conseguimos pensar com a sua própria cabeça. Pensam, mas com a cabeça de outros, com outros interesses, muitas vezes contrários aos interesses daquelas pessoas. É o caso do pobre que pensa com a cabeça do rico. Da classe média que não se vê como trabalhadora, mas acha que pertence a elite, e se comporta assim. É o caso do preto que não se vê como tal e pensa com a cabeça do branco que domina o seu interior, o seu pensamento.
Penso, logo insisto! Pensar é um ato divino, quando penso em sintonia com tudo aquilo que me envolve. A família de onde fui gestada. A classe social a qual pertenço. Aos interesses que estão postos e pelos quais devo lutar. A sociedade a qual acredito e quero construir. O estilo de vida que procuro coerentemente seguir. Evidentemente que tudo isso serve como parâmetro para que eu possa construir a minha história de vida pessoal, regada com princípios e valores aos quais acredito.
Penso, logo insisto! Como somos seres que se completam na relação, não há como ser feliz sozinho. Não há como ser feliz quando o outro ao meu lado, não está feliz. Pensar a minha vida é também pensar a vida do outro. O outro é o complemento da minha felicidade. Pensar é um ato racional. Neste ponto, Descartes está correto. Todavia, o meu pensar precisa de algo mais. Este algo mais é o embasamento dado por aquilo que vai dentro do meu coração. Eu penso o meu pensamento, sem me deixar influenciar pelo pensamento do outro, mas deixando também que o meu coração possa adentrar este pensamento e dê as suas coordenadas. A cabeça é que pensa, mas é o coração que sente. Pensar e sentir com o coração. Talvez, se assim o fizéssemos, o mundo fosse mais humano. Pensar para conhecer! Conhecer para amar! Só se ama aquilo que se conhece.