Pobre com os pobres

Trigésimo terceiro domingo do Tempo Comum. Penúltimo domingo deste Tempo Litúrgico. Estamos a caminho do Tempo do Advento, quando então abriremos mais uma uma etapa na nossa caminhada de fé. Mais um domingo e fechamos o Tempo Comum e nos preparamos para a espera d’Ele, que vai chegar na simplicidade e fragilidade de uma criança. A Família pobre de Nazaré, abrindo as portas de um novo tempo histórico.
Um domingo muito especial na nossa caminhada histórica de Igreja. Celebramos neste domingo o Dia Mundial dos Pobres. Este já é a VI celebração com esta temática, que foi estabelecido pelo Papa Francisco em sua Carta Apostólica Misericordia et Misera, emitida em 20 de novembro de 2016 para comemorar o fim do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Portanto, desde 2017, o Dia Mundial dos Pobres é celebrado no 33° Domingo do Tempo Comum.
Domingo que também a nossa Igreja acolhe com alegria, o 18° Congresso Eucarístico Nacional, que está se realizando dos dias 11 a 15 em Recife. Depois de vários adiamentos, em função da pandemia, acontece enfim, o congresso, com o tema “Pão em todas as mesas” e o lema “Repartiam o pão com alegria e não haviam necessitados entre eles”. (Até 2, 45-47) Evento este, desta vez assumido pelo regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.
Dois momentos de suma importância e que nos fazem refletir. Tanto um quanto o outro acontecimento, é um tapa na cara de nossa sociedade excludente. E inadmissível que tenhamos tantos pobres passando por necessidades extremas, como a fome (33 milhões de pessoas), num país que a cada ano supera a safra recorde anterior, na produção de grãos para a exportação. A fome é um escândalo e sob aos céus num clamor por justiça distributiva e igualdade.
A Eucaristia é a festa da vitória da vida sobre a morte. Celebrar a Eucaristia é celebrar a festa da partilha do pão em todas as mesas. O pão que é de um, é também de todos. Comungar o Pão Eucarístico e sair de uma celebração eucarística sem este propósito e compromisso do partilhar, é celebrar a própria condenação. “De graça recebestes, de graça também deveis dar”. (MT 10,8) Talvez este seja o grande ensinamento que devemos tirar do 18° Congresso Eucarístico Nacional: rever as nossas atitudes e estilo de vida, frente a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária, conforme o sonho de Deus.
Participar da Eucaristia é assumir o compromisso com o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus de Nazaré. É nos tornarmos “crísticos” e “eucarísticos” com Ele. Foi o que procurei fazer nesta manhã de domingo, numa das igrejas próximas de onde estou hospedado. Vi rostos de pessoas alegres e festivas na reunião dominical da comunidade. Todavia, temo que seja apenas um encontro social para algumas daquelas pessoas. Vi também celebrantes ornados de rendas sobre a pele e poucas ideias teológicas, eclesiais e sociais na cabeça. Isso com uma proposição litúrgica excelente para se fazer uma hermenêutica fabulosa, likando a Palavra de Deus com a realidade.
Neste domingo, Jesus continua com o seu “discurso escatológico, ensinando aos seus: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. (Lc 21, 6) Evidente que o Mestre não queria atemorizar e provocar o desespero aos que o ouviam. Apenas os preparando para aquilo que haveria de vir e todos e todas deveriam estar preparados e vigilantes.

O tempo escatológico é um tempo de profunda esperança e não de temor. Os sinais acontecerão, mas não há o que temer, pois Deus é o Senhor da história e tem os destinos da humanidade em suas mãos. Não sabemos quando será o fim e nem devemos nos deixar enganar pelos profetas da desesperança. O sonho de Deus bate no compasso de nosso coração. Nossas entranhas estão engravidadas da esperança de outro mundo possível. Nele, o sonho de Deus sonha em nós. É esperar fazendo acontecer a história.defesa. O importante é a coragem de permanecer firmes até o fim, sem medo de ser feliz!


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.