Quarta feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. Setembro vai mostrando a sua cara. Aqui e ali, apontam as primeiras flores. Isso com a ajuda de agosto que, excepcionalmente por aqui, entregou setembro com chuva. A primavera vem sorrindo ao nosso encontro, renovando as plumas das árvores e renascendo o broto. Depois de despir-se das folhas, a natureza se renova em trajes festivos de verde. Como diria o astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico (1473-1543): “A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil”. Pena que a humanidade ainda não se abriu para aprender com a sabedoria da Mãe Natureza.
Uma quarta feira diferente. O céu nublado, não permitiu que o sol desse as suas coordenadas. Entre nuvens, ele veio timidamente, driblando uma ou outra para fazer chegar até nós os seus raios de luz. Rezei contemplando as águas do Araguaia, correndo apressadas querendo chegar logo ao Rio Tocantins. Como é bom acordar com vida mais uma manhã, e saber que Deus nos dá mais uma chance de fazer diferente e melhor do que o dia anterior. Não dá para mudar o passado, mas temos a oportunidade e possibilidade de recomeçar, aprendendo com ele e fazendo diferente. É assim que Deus acredita em nós.
Estamos em tempos de “Sinodalidade: comunhão, participação e missão”. Os reflexos da “Igreja em Saída” ganha força em nossa vivência eclesial. “Igreja em saída” que é um termo cunhado pelo papa Francisco na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, a alegria do evangelho (EG). Foi através desta exortação que o nosso pontífice exprimiu suas principais preocupações a respeito da Igreja e do mundo, desenvolvendo alguns temas que têm implicação direta na dinâmica pastoral e missionária da Igreja, a fim de delinear um novo perfil eclesial. Uma Igreja que responda aos apelos dos que mais necessitam de cuidados. Como o próprio Papa assim define: “A missão, a ‘Igreja em saída’ não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele e conduz”.
Igreja em saída como Jesus assim o fez, conforme o relato de Lucas proposto pela liturgia para esta quarta feira. Jesus e seus discípulos, saindo da sinagoga, indo até à casa de dois deles, Pedro e André. A missão de Jesus não se reduz ao templo, lugar sagrado para os judeus. Ele sai do centro e vai à periferia em visitas domiciliares para anunciar ali a Boa Nova do Reino, cumprindo aquilo que fora dito pelo profeta Isaías: “enviou-me a anunciar aos pobres o Evangelho” (Is 61,1). É o Messias realizando a missão libertadora dos pobres e oprimidos. Os pobres como destinatários primeiros da Missão de Jesus e da Igreja.
O texto que refletimos hoje não é uma peculiaridade de Lucas, mas está presente também nos outros Evangelhos Sinóticos (Mc 1,29-31 e Mt 8,14-15). Deixando a Sinagoga, Jesus se dirige até a casa de Simão Pedro. Pedro nasceu com o nome de Simão, em Betsaida, na Galileia, e era irmão de André, que também se tornou apóstolo. Era um pescador, casado e, provavelmente moravam juntos os dois irmãos, em Cafarnaum. Estando ali, eles solicitam que Jesus intercedesse pela sogra de Pedro, que estava com febre alta. O texto lucano, diz: “Inclinando-se sobre ela, Jesus ameaçou a febre, e a febre a deixou”. (Lc 4,39) Ao ser curada, imediatamente ela pôs-se a servir a todos.
Estar com Febre é um sinal claro dado pelo organismo, de que algo não está bem em algum dos órgãos do corpo humano. Entretanto, para a sociedade e a cultura judaica daquela época, estar com febre era sinal da ação demoníaca sobre aquela pessoa. Portanto, aquela mulher era uma impura e ninguém poderia nela tocar, pois também se tornaria impuro. Jesus não a cura simplesmente, mas toca nela, correndo o risco de ser considerado um impuro. Para Jesus, mais importante é a vida humana ameaçada, fruto daquela estrutura de sociedade excludente.
Após este evento, os Evangelhos reportam que, ao pôr do sol, no cair da noite, o povo trouxe para ver Jesus todo o tipo de pessoas doentes ou possuídas por demônios. Colocando suas mãos sobre cada uma delas, Jesus as curou e expulsou seus demônios (Mt 8,16-18). Jesus cumprindo a sua missão, servindo a todos os marginalizados. Servir é um ato de puro amor e também é dom gratuito. O serviço no Reino impacta muito mais que as palavras simplesmente anunciadas e sem gestos concretos do servir. Fazer parte do grupo de Jesus supõe que a pessoa esteja pronta para ser a servidora de todos. O desafio da comunidade em tempos de Sinodalidade é fazer a Igreja sair de si mesma e assumir o serviço àqueles que mais necessitam de cuidados. Como diria a Santa Madre Teresa de Calcutá: “As mãos que fazem valem mais que os lábios que rezam.”
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.