Liturgia do XXII Domingo do Tempo Comum
ano C – 28/08/2022
Na Liturgia deste Domingo, XXII do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Eclo 3, 19-21.30-31), que o ser humano poderá agir de dois modos distintos: com humildade ou com orgulho. O caminho do orgulho é o da autossuficiência, isto é, de começar a absolutizar coisas, pessoas, cargos, culturas, ideias etc. A pessoa começa a ‘se achar’ e pensar que não tem mais nada a aprender, seria como dizer: “Deus criou tal pessoa e não tem mais nada a acrescentar, descansou”. O orgulho é sempre uma desordem, um pecado, uma mentira. “Para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele e ele não compreende”.
O caminho da humildade é o caminho para ser feliz, ser humilde significa pôr os próprios dons a serviço do bem comum, isto é, colocar-se a serviço do Reino de Deus. Deus é glorificado nos humildes, somos seus instrumentos: “Não para nós, mas para ti Senhor, toda glória e louvor” (Sl 113). Santa Terezinha dizia que a “humildade é a própria verdade”, não querer parecer aquilo que não se é. São Francisco de Sales nos faz esta interrogação: “Por acaso as mulas ou jumentos deixam de ser animais vis por estarem carregados de joias e perfumes?”
Ser humilde é ser sábio, é sobressair-se bem diante dos desafios da vida, não adiantaria tirar nota dez na escola e tirar zero na vivência comunitária, na caridade e no serviço aos outros. Ser humilde, também, não é aceitar passivamente aquilo que vai contra a dignidade humana, mas é conscientizar o agressor: “Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?” (Jo 18, 23). Enquanto seres humanos, somos todos iguais: fracos, pecadores, erramos, machucamos etc. Mas só os humildes, isto é, os fortes na fé, reconhecem suas fraquezas, seus erros e recomeçam de novo, pedem perdão, desculpas. Os fracos na fé nunca reconhecem seus erros, sempre têm razão, dificilmente tomam a iniciativa da reconciliação. “Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Cor 12, 9). A Palavra de Deus nos diz que somos ‘barro’, mas é por meio deste barro que carregamos um tesouro: “e temos esse tesouro em vasos de barro, para que se veja que esse incomparável poder é de Deus, e não vem de nós” (2 Cor 4, 7).
Na 2ª Leitura (Hb 12, 18-19.22-24a), o apóstolo Paulo afirma que a vida divina e a proximidade de Deus entre nós se manifestam quando cultivamos determinados valores e praticamos as virtudes da humildade, da simplicidade e do amor.
No Evangelho (Lc 14, 1.7-14), Jesus nos ensina a modéstia e a gratuidade na perspectiva do Reino de Deus. Na casa de um fariseu, durante a refeição, Jesus não fica refém de seus anfitriões, oferece dois ensinamentos importantes: um dirigido aos convidados e outro para o anfitrião. Ao dono da casa, Jesus ensina a não convidar as pessoas de bem, mas as que não podem retribuir, pois só assim demonstramos gratuidade: “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides seus amigos, nem seus irmãos, nem seus parentes, nem os vizinhos ricos”. Aos convidados, ensina a não procurar o primeiro lugar, para que o dono da casa possa apontar o lugar mais importante: “Se te convidam a um banquete de bodas, não te coloques no primeiro lugar”. Ocupar o último lugar, o lugar do serviço, mais que um gesto isolado, indica uma atitude: a humildade de quem se reconhece necessitado dos outros, de quem é apenas convidado e não o dono da festa da vida.
Quanto ao Evangelho de hoje, podemos fazer as seguintes considerações:
1º – O dono da casa é Deus, Jesus Cristo;
2º – O Banquete é o Reino de Deus, universal, todos são convidados;
3º – A mesa é o espaço de relações, de partilha, não só de alimentar-se, mas de viver a intimidade, os projetos e a dignidade. Em nossos relacionamentos, acolhemos e nutrimos a caridade, o respeito e o diálogo?
4º – A quem convidamos para nossos eventos? Teria lugar para o profetismo nestes lugares? Quem a sociedade mais valoriza? O que rende mais: a aparência do ter, do prazer e do poder ou a opção pelos mais necessitados? O que as pessoas mais preferem?
5º – Quem vai ser convidado a entrar no Reino de Deus? Aquele que foi humilde e se colocou a serviço dos outros, assim como foi a vida de Jesus que veio para servir. “Eis que venho e com prazer faço a vossa vontade” (Sl 39).
Pensemos em nossas ações pastorais, em nossas opções políticas e em nossas atividades profissionais: Quem e o que colocamos em primeiro lugar? Pensemos a que vale a pena, de fato, nos apegarmos. Lembremo-nos daquele rei que era temente a Deus e, também, amava o seu povo e, antes de assumir o poder, queria escolher um lema para seu governo. Então, lançou um desafio para os súditos: elaborar uma frase em que os dizeres deveriam servir para quando ele estivesse triste e, ao mesmo tempo, quando estivesse muito feliz. O vencedor da frase escolhida seria promovido. Entre tantas frases, o rei escolheu uma com duas palavras, que não foi importante apenas para o seu desempenho, como deveria fazer-nos pensar em tudo que fazemos e a tudo que nos apegamos. A frase era: “Tudo passa”.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.