Possuído pela riqueza

28º Domingo do Tempo Comum. O segundo domingo do mês missionário. A missão se faz presente à nossa vida, através dos desafios que nos são postos no cotidiano. Levar adiante a proposta de Jesus, sendo instrumentos de transformação da realidade em que vivemos. Este é o verdadeiro sentido de ser enviado por Jesus, para dar continuidade ao seu projeto messiânico. “Vem e segue-me”, (Mt 19,21), esta é a exortação feita pelo próprio Jesus a cada um de nós. Trata-se de uma proposta de engajamento pessoal feita a cada um de nós.

Ser missionário seguidor de Jesus não é de todo fácil. É uma proposta muito exigente que requer um desprendimento total daqueles que se colocam na estrada com Jesus. Exige compromisso de estar com Ele, onde quer que estejamos nós. Pelo menos é o que nos desafia os textos da liturgia deste domingo. Eles nos colocam diante de uma decisão a ser tomada por cada um de nós, se quisermos caminhar na mesma estrada trilhada por Jesus. Como seguidoras e seguidores seus, vamos dando continuidade ao Projeto de Deus revelado em Jesus de Nazaré.

Um homem muito rico atravessa o caminho de Jesus e quer fazer a experiência de segui-lo mais de perto. Ao que o Mestre o indaga se já conhecia os mandamentos. Aquele homem surpreende a Jesus dizendo que sabia de cor e salteado todos eles. Entretanto, ele não esperava que Jesus fosse dar a cartada final ao dizê-lo, que deveria vender todos os seus bens, dá-los aos pobres e, posteriormente o seguisse. Pois para Jesus, não basta o cumprimento de leis, regras, preceitos (mandamentos), mas era necessário algo mais. Na concepção de Jesus, o Reino é antes de tudo um dom de Deus às pessoas, e aqueles que quiserem participar desta dinâmica, tem que aprender a partilhar tudo entre todos. Isso significa repartir as riquezas em vista de uma igualdade entre todos e todas.

Aquele pobre homem rico, foi embora muito triste, depois de ouvir Jesus, pois era cheio de posses e riquezas. Ele não somente possuía a riqueza, mas era também possuído por ela. Acumulava mais do que o necessário para viver, deixando de lado aqueles que nem o necessário possuam, configurando assim uma sociedade de classes. É por este motivo que os ricos ficam tristes e dificilmente entram na dinâmica do Reino, proposta por Deus em Jesus. Ser do Reino e pelo Reino tem, necessariamente, que ser da partilha dos bens e dos dons. Quem está na procura do Reino, não pode ser partidário de uma sociedade desigual, onde poucos tem tudo, e muitos nem o necessário para viver com dignidade de filhos e filhas de Deus. A isto dá-se o nome de desigualdade social de uma sociedade estratificada.

Dificilmente os ricos entrarão no Reino de Deus, dirá Jesus aos discípulos. Sim porque terão muita dificuldade de se desapegarem de suas riquezas, já que elas o possuem e estão entranhadas em suas vísceras e coração. E não precisa de ser grande esta tal riqueza. Às vezes são pequenas coisas que se tornam grandes no nosso jeito de acumular e de ganharem o centro das nossas vidas. Todas as vezes que me deixo ser possuído por aquilo que possuo, me transformo num destes ricos. Um dos patronos do cristianismo primitivo, São João Crisóstomo já nos alertara no ano 407 que: ”O verdadeiro bem-estar não está na posse de muitos bens, mas no fato de não se sentir nem mesmo a necessidade de possuí-los”. Para ele o que ultrapassa a nossa necessidade é supérfluo e inútil.

Difícil, mas não impossível! Somos filhos e filhas do Deus do impossível. Sim porque para Ele nada é impossível. Aliás, esta palavra nem faz parte de seu vocabulário. “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível” (Mc 10,27), dirá Jesus a seus discipulos. Entretanto, a preocupação daqueles seguidores de Jesus era outra, já que eles haviam deixado tudo para seguir o seu mestre. “receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”. (Mc 10,30), garante-lhes Jesus. Quanto a nós, resta-nos suplicar a Deus para que possamos dar este passo também em direção a nossa entrega/doação pela causa do Reino, rezando este versículo da primeira leitura: “Rezei, e foi-me dada a prudência; supliquei, e veio a mim o espírito da sabedoria. (Sb 7,7).


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.