Estamos no Segundo Domingo do Advento (06). A caminho do Natal. Dentro de alguns dias a mais, estaremos celebrando a chegada DELE. O tempo é de preparação, não somente para a chegada do Filho de Deus, mas também para preparar o nosso espírito, o nosso coração, para uma nova etapa de nossas vidas. A história não interrompe a sua trajetória, mas somos desafiados a encontrar uma nova perspectiva de vida a partir de uma criança que vem estar no meio de nós, possibilitando-nos uma nova vida. “Não tenha medo, pois eu estou com você. Não precisa olhar com desconfiança, pois eu sou o seu Deus.” (Is 41, 10)
Quando nasce uma criança no seio de uma família, a vida se renova naquele ambiente. Era assim lá em casa também, na minha infância. Quando a dona Maria parteira era chamada as pressas, era porque uma nova vida estava despontando ali no meio de nós. A minha mãe, teve os seus 13 rebentos, pelas mãos sagradas da dona Maria parteira. Todos ficávamos felizes, apesar de saber que seria mais uma boca para dividir o alimento que meu pai não deixava faltar à mesa, apesar de todas as dificuldades. Vida que renovava o espaço de todos nós ali.
As famílias brasileiras têm o costume de armar os presépios em suas residências nesta época do ano. Mais do que armar o presépio, para esperar o Natal que desponta, é saber que centenas de milhares de outros Jesus, estão ai pelas esquinas da vida e mesmo que muitos de nós, fazemos de conta que não existem e nem necessitam do nosso olhar atento. Mais do que adorar o menino Jesus do presépio, temos que acolher os outros “Jesuses”. O Jesus que perambula pelas ruas como pessoa em situação de rua, sem teto, sem uma cama quente, sem um chuveiro para um bom banho, sem uma mesa farta da ceia do Natal.
O texto do evangelho deste domingo nos apresenta a figura profética de João Batista: “Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho.” (Mc 1, 2) João é aquela figura emblemática muito importante no Novo Testamento, pois ele é o precursor de Jesus. Ou seja, aquele que vem à sua frente, anunciando a sua vinda e a salvação que o Messias traria para todas as pessoas. Por meio de sua voz profética, gritava no deserto e anunciava a chegada do Salvador. Como se as cortinas no Antigo Testamento se fechassem, pois ele é o último dos profetas. Depois dele, não houve mais nenhum profeta em Israel. Uma missão extremamente importante, já que ele abre as portas para o horizonte do Novo Testamento.
A radicalidade vivida e testemunhada por João Batista, mostra para nós o quanto a proposta de Jesus iria mudar os rumos da história. Um Deus que nasce em meio aos pobres, com os pobres e para os pobres. Não se trata de um Jesus que nasce no berço de ouro das famílias tradicionais constituídas pelas lideranças político-religiosas da Palestina: escribas, fariseus doutores da lei, sumos sacerdotes do Templo. Jesus é aquele que vai nos dizer que a vida acontecerá a partir da realidade dos excluídos: pobres, coxos, doentes, cegos, marginalizados. “E vieram a ele grandes multidões, trazendo consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e outros muitos, e os puseram aos pés; e ele os curou.” (Mt 15, 30)
Também devemos assumir a mesma postura de João Batista no contexto de nossas vidas hoje. Preparar o caminho do Senhor! Fazer das nossas vidas, do nosso coração, um campo fértil, onde Deus possa hoje nascer. Mas não um Deus que está fora da nossa realidade, nas alturas e acima de nós. Mas sim, um Deus conosco que provoca a nossa transformação. Um Deus que entra nas nossas vidas, na nossa história e nos faz mais humanos, mais coerentes na forma concreta de viver a nossa fé. Um Deus que nos faz ver a realidade de sofrimento do irmão e da Irmã em meio a uma pandemia, gerando angústia, frente a perda de vidas de seus entes.
Jesus vai nascer mais uma vez em nossa história, em nossas famílias. Devemos compreender esta etapa como mais uma oportunidade que Deus nos dá para renovar o meio em que vivemos. Nesta nova perspectiva, somo desafiados a assumir as mesmas causas de Jesus, pelas quais ELE deu a sua vida. Assumir as causas dos mais pobres, superando toda forma de exploração da vida humana. Como dizia nosso bispo Pedro, precisamos descer os pobres das suas cruzes, impostas pelo capitalismo dos grandes e poderosos, “donos do poder”. No dizer do Papa Francisco, “lutar não pelos pobres e para os pobres, mas antes com os pobres”, contra a pobreza.
Seguindo na mesma linha do saudoso profeta Dom Hélder Câmara, bispo e arcebispo emérito de Olinda e Recife, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e grande defensor dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil. Pregava uma Igreja simples, voltada para os pobres, e a não-violência, tem uma de suas frases que ficou marcada e nos ajuda a posicionar neste atual contexto: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista.” Sou um comunista e não sabia.