Terça feira da décima primeira semana do tempo comum. Santo Antonio se foi. O próximo da lista é São João. Assim o mês de junho vai se constituindo em clima das tradicionais festas juninas. Aqui pelas bandas do Araguaia não há a tradição de festejar com fervor tais festas. Quando muito, uma dança de quadrilha aqui e acolá, em tempos de pandemia. Todavia, mesmo com os casos de infecção pela Covid-19 continuem, as festas seguem como se nada disso estivesse acontecendo. No momento que ora escrevo, recebo a informação de que uma das escolas de nosso distrito está fechada, uma vez que 5 professores foram positivados.
Por falar em escola, seguimos com a trágica sina do desmonte da educação brasileira. Recentemente o Ministério da Educação (MEC), cortou a verba que seria destinada às universidades e institutos federais. Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), “Metade dos 7,2% ainda bloqueados, o equivalente à 3,2% do orçamento discricionário, será remanejada para outros órgãos para pagamento de despesas obrigatórias, representando uma perda de mais de R$ 220 milhões em nossos orçamentos”. As universidades e os institutos federais, sendo asfixiados pelo não repasse dos recursos necessários à sua manutenção.
Nossa educação vai mal! Muito mal! A depender do atual governo, a tendência é que a educação não representa uma prioridade. Isto nos faz lembrar o nosso grande antropólogo Darcy Ribeiro que afirmava: “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”. Projeto que agora ganha força com a proposta de implantação das “Escolas cívico-militares”. Através do “Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares”, quando o Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Defesa, implantarão 216 Escolas Cívico-Militares em todo o país, até o ano de 2023, sendo 54 por ano. Será o fim da educação de qualidade! Alunos preparados para obedecer ordens cegamente e não para pensar. Nestas horas prefiro ficar com o nosso bispo Pedro que dizia: “militar para mim é verbo”.
“Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26), alerta-nos a Campanha da Fraternidade deste ano de 2022. Sabedoria que vem da vida. A vida é uma grande escola. Aprender com ela é ter a sapiência para saber decifrar o momento histórico que estamos vivendo. Tudo está sendo destruído intencionalmente: direitos, dignidade, educação, habitação, trabalho. Ou aprendemos na escola da vida, ou estaremos fadados a repetir os erros graves do passado, como nos dizia o grande dramaturgo e escritor Millôr Fernandes (1923-2012): “O Brasil tem um grande passado pela frente”. Em outras palavras, como dizia o mistério do ultimato da esfinge de Tebas no antigo mito grego: “Decifra-me ou te devoro”.
“Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”, já nos dizia Paulo Freire. Se os conhecimentos são adquiridos pelos livros, a sabedoria também se adquire pela experiência da vida cotidiana. O segredo desta sabedora é não perder jamais a capacidade de aprender sempre. Ou seja, estamos permanentemente em processo de aprendizagem, até o dia em que nos despediremos deste plano. Estar atento a leitura que fazemos da realidade que nos circunda. Ler o mundo com as suas contradições e encontrar respostas adequadas para a nossa convivência em sociedade, construindo um mundo mais humanizado. Do outro lado, “um rei mal coroado, não queria o amor em seu reinado”. (Geraldo Azevedo)
Um mundo mais humano e fraterno é a proposta que vem nos trazer a liturgia deste dia de hoje. No texto extraído do evangelista Mateus, Jesus ensina os seus com sabedoria e autoridade. Mais uma vez estamos diante do “Sermão da Montanha”. É o finalzinho do capitulo cinco de Mateus, onde Jesus nos dá algumas dicas de como devemos ser diante dos conflitos e das contradições da vida: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” (Mt 5,44) Quão difícil é fazer acontecer este dito de Jesus na nossa prática cotidiana! É preciso muito amor, paciência e disposição para agir assim desta forma, e não nos deixarmos levar pelo clima de retribuição na mesma medida. Na verdade, trata-se de uma nova perspectiva de relacionamento para além das fronteiras estabelecidas por nós. Isto significa, que os conflitos serão resolvidos embasados pelo amor gratuito e sem medidas. Ao entrar nesta lógica proposta, passamos a ser as testemunhas da justiça e da amorosidade do Pai que muito nos ama e “faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos”. (Mt 5,45)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.