Em meio a uma realidade onde prevalece tanta dor, sofrimento e morte, resolvi invocar São Francisco de Assis, na minha oração desta manhã. Uma das orações mais belas que conhecemos e que nos ajuda a enfrentar tantos dissabores. Somente um homem tão preenchido de Deus seria capaz de nos presentear com algo tão sublime e encantador. “Onde houver ódio, que eu leve o amor.” É assim que começa este mantra franciscano, tão apropriado para os dias atuais. O amor resolveu tirar férias permanentes entre nós.
Como sempre faço, deixo-me ser invadido pela euforia da passarada, que vem me visitar todas as manhãs, em busca das frutas, que carinhosamente, planto para que eles desfrutem a vontade. Entretanto, uma cena inusitada, chamou a minha atenção. Três belos tucanos roubaram a cena. Dois deles brigavam calorosamente entre si. Muitas bicadas. Logo percebi que talvez se tratasse de um triangulo amoroso e, certamente, um deles era o macho e brigava com uma das fêmeas. Seria uma nova conquista que havia despertado ali o ciúme de um deles? Não sei responder. Só observei.
O grande tema do texto evangélico que a liturgia católica nos propõe hoje é o amor. Mais do que uma simples definição teórica, trata se de algo que se traduz em gestos concretos. Amar é estar pronto a enfrentar muitos desafios. É se colocar na mesma dinâmica de Deus. Deus é amor! E Jesus dá um passo mais adiante, quando nos propõe que além de amar, devemos fazer o bem a quem nos odeia: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam.” (Lc 6, 27). Que situação embaraçosa, Jesus nos coloca! Além de ser portador deste amor, ainda preciso fazer o bem a quem me odeia?
Quem ama é capaz também de desenvolver em si a misericórdia. Ambas caminham lado a lado. “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6, 36) Somos interpelados a ser também misericordiosos, como nos diz a narrativa de Lucas, extraído de uma das falas do próprio Jesus. Justamente aquilo que tem faltado no meio de nós, quando boa parte das pessoas, estão se deixando levar pelo clima de ódio, a começar nos altos escalões dos governantes brasileiros. O pior de tudo é saber que alguns deles, assim se comportam, e se alto definem como pessoas de Deus.
Fiquei muito entristecido, quando vi dias atrás, o dono de um dos supermercados, esconder o corpo de um de seus funcionários, que havia morrido, atrás de caixas de papelão, uma vez que não poderia fechar o estabelecimento, pois iria deixar de vender naquele dia. O corpo do rapaz ficou naquela situação até o final do expediente, quando então, foram sido tomadas as providencias. Que triste saber que, no coração daquele homem de negócios, não havia espaço para o amor, visto que mais importante que a vida de um funcionário seu, está o lucro a ser capitalizado. O que não deve ter sentido a família deste rapaz, quando ficou sabendo do ocorrido?
O amor vem de Deus, porque Deus é antes de tudo, amor. Amor em plenitude. Amor que se traduz em doação. Numa das mais belas páginas do Novo Testamento João define assim o amor: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se tornou visível o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho único a este mundo, para dar-nos a vida por meio dele. E o amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou”. (1Jo 4, 7-10). Amor gratuito do próprio Deus para conosco. Um Deus que se revela na amorosidade à sua criação. Um Deus que é gratuidade.
Evidentemente que os arautos da economia de mercado do capital, jamais entenderão a dinâmica deste amor. Eles estão ocupados demais em ganhar dinheiro a todo custo. Para eles o que vem primeiro é o deus dinheiro, imolando e sacrificando a vida das pessoas. Uma economia de morte, como nos diz o Papa Francisco, pois não prioriza a vida. Para eles, a vida das pessoas empobrecidas, não tem nenhum valor. Segundo esta lógica, é possível entender o porquê deles terem liberado R$ 1, 2 trilhão para salvar o sistema financeiro, e são incapazes de continuar pagando um auxilio emergencial no valor de R$ 600 reis, às pessoas sem renda. Definitivamente, não há amor no coração deles e nem estão com Deus, pois o deus deles é a idolatria do dinheiro. São cegos e estão presos às trevas da escuridão. Para eles precisamos levar o que propõe o pobre de Assis: “Onde houver trevas, que eu leve a luz.” Quem sabe a luz de Deus não se acenda para eles e vejam que o tudo deles nada vale. Eles só tem dinheiro.