Reflexão litúrgica:
Segunda-feira, 16/08/2021
20ª Semana do Tempo Comum
Segunda-feira, 16/08/2021
20ª Semana do Tempo Comum
Na Liturgia desta segunda-feira da XX Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Jz 2,11-19), que a nova geração, em Israel, interrompe e não leva adiante a memória histórica de luta e resistência em vista da liberdade e da dignidade humana que tirara o povo da escravidão do Egito, com isso, o projeto de uma vida melhor ameaça retroceder, pois o povo facilmente se deixa influenciar pelos ídolos, mitos e desuses que corrompem a sociedade.
O texto apresenta a dinâmica que marca o destino histórico de um povo:
1 – O Pecado: alienação da consciência histórica, o povo abandona o Deus verdadeiro para servir aos mitos, aos deuses, ídolos, que corrompem, produzindo um sistema social injusto;
2 – O Castigo: perda da liberdade e da vida, servindo aos mitos, aos deuses e ídolos da escravidão e da morte, o povo alienado perde o que tinha sido duramente conquistados;
3 – A Conversão: no extremo limite do sofrimento, o povo volta à consciência histórica, e clama ao Senhor;
4 – A Graça: Deus responde ao clamor, fazendo surgir líderes que organizam o povo e o ajudam a reconquistar a liberdade, os direitos e a vida digna.
A história do povo de Deus, hoje como ontem, é uma contínua alternativa de bem e de mal; é a história da fidelidade de Deus na infidelidade das pessoas. O maior desafio é extinguir completamente a idolatria dos mitos e deuses que impedem a liberdade, a democracia, o bem comum, a dignidade humana e a solidariedade entre todos.
No Evangelho (Mt 19,16-22), vemos uma pessoa rica que se preocupa com a vida eterna e, diante da proposta de Jesus para que partilhe seus bens, retira-se entristecido. Aqui, constatamos que ter bens não é o problema, o problema é o apego absoluto, obstáculo para o seguimento. Seguir Jesus é despojar-se, partilhar, não é ficar sem nada, mas comprometer-se com os mais fragilizados, com o bem comum, com a justiça social, com políticas públicas e projetos políticos que visem à garantia dos direitos básicos de todas as pessoas. Muitas pessoas, hoje, não estão dispostas a partilhar, mas, pior ainda, quando não aceitam a promoção dos pobres, não estão dispostos a conviver com os pobres, destilando até ódio e preconceito contra eles.
A pessoa que se encontrou com Jesus, neste trecho do evangelho, era rica e se apresentava com um ‘bom currículo’, observava os mandamentos, quem sabe, quis até bajular Jesus: “bom mestre”. Jesus o interroga e cita os mandamentos em relação ao próximo e acrescenta: “não defraudes ninguém”, podendo ser uma indicação que muitos bens que ele possuía poderiam ter sido resultado de um roubo legal, isto é, no cumprimento da legislação injusta. Enquanto ele está muito preocupado com a vida eterna para si, Jesus preocupa-se com os seres humanos que, neste mundo, não possuem o necessário para viver.
O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), nos diz que a função da Igreja não se reduz a ‘salvar almas’: “a tarefa da evangelização implica e exige uma promoção integral de cada ser humano. Já não se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu. Sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta terra, embora estejam chamados à plenitude eterna, porque Ele criou todas as coisas ‘para nosso usufruto’ (1 Tm 6, 17), para que todos possam usufruir delas. Por isso, a conversão cristã exige rever especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e consecução do bem comum” (EG, 182).
Cristo, hoje, continua a nos chamar: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres. Depois, vem e segue-me!” Continua nos ‘olhando com amor’. Ele conta com cada um de nós para distribuir as riquezas espirituais e materiais que possuímos, também, aos que ainda vivem na miséria religiosa e social.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.