Evangelho Mt 6,1-6.16-18

Irmãos e irmãs, paz e bem!

Continuando a reflexão sobre a pregação da montanha, no Evangelho de hoje escutamos Jesus advertir os discípulos para não praticarem a justiça na frente dos homens só para serem vistos, elogiados, exaltados pelos homens. Neste texto praticar a justiça significa dar esmola, orar e jejuar.

O que é justiça vinculada à esmola, às obras de caridade? Justiça é, nesse contexto, dar ao irmão aquilo que ele precisa. E como Deus é generoso em sua multiforme criação, pois dispôs uma abundância tão grande que apesar de sermos aproximadamente 7,7 bilhões de habitantes existe alimento para todos, em abundância, há terra para abrigar a cada pessoa e bens para que todos tenham vida digna. Porém, segundo a ONU, ano passado 820 milhões de pessoas passaram fome. Se há comida para todos, é justo que tanta gente passe fome? Não é justo, não é ético e nem moral. A fome no mundo de hoje é um pecado social grave. A resolução do problema da fome passa pela política, pois como dizia o Papa Paulo VI “a Política é a melhor forma de realizar a caridade”. Mas a Política de que falava Paulo VI com certeza não é essa política que temos aqui no Brasil e em tantos países. O bispo Pedro Casaldáliga dizia que a fome é um pecado social, pois em um sistema social injusto, no qual quem detém os meios de produção à custa do esbulho dos pobres e dos recursos naturais cada vez fica mais rico e os pobres vão virando miseráveis, nesse sistema, quem dele se beneficia está envolto em pecado. Dar esmola sem questionar e buscar mudar o sistema que torna o irmão sem terra, sem teto, sem trabalho (Papa Francisco), é uma hipocrisia sem tamanho.

Recordo-me aqui de muitos que se dizem cristãos mas praticam o espólio da terra de uma nação indígena com inúmeros anciãos e criancinhas, para aumentar suas posses que já somam milhares de hectares de terra. Para isso recebem recursos do Estado e amparo de legisladores.

Para haver uma mudança é preciso conversão. Mudança de pensamento e atitude, mudar o sistema injusto que a todos nos torna participantes do pecado social da não distribuição do que Deus colocou no mundo para que todos tenham vida. Para a conversão Jesus indica o jejum e a oração. Jejuar é libertar os que foram presos injustamente, retirar os impostos de cima dos pobres, dar condições de vida digna a todos, garantindo que todos tenham o que comer, tenham casa e amparo (Is 58,6-7). Jejuar, portanto, é diminuir de quem se apropriou de muito para devolver a quem pouco ou nada tem, para que haja condições de vida digna para todos. Jejuar, para o rico é dispor boa parte do que possui para que outros tenham vida. Para o pobre, jejuar é forçar os ricos a abrirem mão do que é de todos e que se apropriam sob a forma legal, mas que é uma apropriação do que falta a muitos.

Meu Deus, como estamos longe de tuas palavras, e nos achamos religiosos por repetir algumas orações que não fazem sentido no meio de injustiças tão grandes. Ensina-nos, Senhor, a rezar e pôr em prática a oração do Pai Nosso, ensina-nos a lutar para que o Teu Reino venha. Ensina-nos a olhar com Teus olhos e ver que tudo o que fazemos ao menor dos irmãos é a Ti que fazemos. Fortalece, Senhor, a luta indígena, quilombola, dos sem-terra e sem teto para que a Justiça aconteça no meio de nós. Ajuda-nos a vencer a hipocrisia de aparentar religiosidade por meio de belos templos, de roupas clericais, por meio de longas preces nas praças e meios de comunicação, fazendo o contrário do que nos pedes. Ajuda-nos a sermos cristãos. Amém!